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Morales aceita referendo sobre seu mandato
Governadores também passarão por crivo popular; desafio eleitoral foi relançado por Senado, dominado pela oposição
Crise paralisa país; consultas devem ser convocadas em
até 90 dias, e, em caso de revogação de cargos, serão
marcadas novas eleições
DA REDAÇÃO
Em mais um lance da crise
política boliviana, o presidente
Evo Morales anunciou, ontem
à noite, que convocará referendos revogatórios para seu mandato, o do vice-presidente e o
dos nove governadores do país.
Depois de se reunir às pressas com seus principais minitros, Morales disse aceitar o desafio eleitoral relançado pela
oposição, que controla o Senado, que resolveu aprovar ontem
à tarde proposta de consulta ratificatória dos cargos, enviada
inicialmente pelo Executivo
em dezembro de 2007. O projeto do referendo já havia sido
aprovado na Câmara, de maioria governista.
"Quero reiterar minha posição de submeter-nos ao povo.
Que [o povo] nos diga quem
serve e quem não serve para governar", disse o presidente, em
declaração trasmitida por TVs
e rádios. Para Morales, a população decidirá entre "a continuidade" representada pelos
governadores oposicionistas e
seu "projeto de mudança".
Uma vez promulgada a lei, a
Justiça eleitoral tem até 90 dias
para organizar o referendo. Pelas regras aprovadas, presidente, vice e governadores perderão os cargos se obtiverem
aprovação menor do que quando eleitos. Morales se elegeu
em 2005 com 53,7% dos votos.
Se retirados pelo voto, haverá
novas eleições para os cargos de
presidente e governadores.
O anúncio congela o esforço
de La Paz de retomar a negociação com os governadores autonomistas, após o rico departamento de Santa Cruz ter feito
no domingo, à revelia de Morales, um referendo para ratificar
sua ambição de independência
administrativa.
O presidente boliviano havia
convocado os governadores para uma reunião na segunda-feira, mas mesmo antes de ser
atropelado pela iniciativa do
Senado, os oposicionistas já haviam rejeitado o convite.
Postos contra a parede, os senadores governistas só votaram a favor da consulta após
um intenso debate. E a primeira reação do governo à jogada
oposicionista de perplexidade:
"Por que agora? O que estão
buscando? Querem provocar
mais incerteza e instabilidade?", disse o porta-voz de Morales, Iván Canelas.
Empate catastrófico
Até o fechamento desta edição, os governadores não haviam se pronunciado sobre a
consulta. Além dos quatro autonomistas, mais dois governadores, o de Cochabamba e La
Paz, fazem oposição a Morales.
Quando o Executivo lançou a
proposta, em dezembro, vários
dos governadores aceitaram o
desafio, mas rejeitaram as regras da consulta, que estabelece como piso os votos nas urnas, e não a maioria de 50%.
"Temos mais aprovação do
que quando fomos eleitos. O referendo é proposta nossa", disse à Folha o deputado governista, Gustavo Torrico, que
acrescentou que o referendo
para ratificar a Constituição,
aprovada pelos governistas em
2007, fica "congelado".
As pesquisas de opinião são
um indicativo precário da situação de Morales, porque só
medem, em geral, sua popularidade nas quatro principais cidades do país (La Paz, El Alto,
na região metropolitana da capital, Cochabamba e Santa
Cruz). O campo, que o governo
acredita majoritariamente favorável, não é pesquisado.
Apesar disso, a julgar pelo
instituto Ipsos Apoyo de abril,
o referendo pode deixar tudo
na mesma, no "empate catastrófico" entre as forças políticas, na expressão do vice-presidente, Álvaro García Linera.
O presidente tem 54% de
simpatia nas quatro cidades.
Mas se Morales tem 75% de
aprovação na capital La Paz ou
até mais na vizinha da região
metropolitana El Alto, em Santa Cruz é mal visto por praticamente a mesma porcentagem.
Mas nos cálculos do governo,
se levado adiante, o referendo
pode transformar em governistas La Paz e departamentos divididos como Cochabamba ou
até Pando.
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