São Paulo, sexta-feira, 09 de maio de 2008

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Morales aceita referendo sobre seu mandato

Governadores também passarão por crivo popular; desafio eleitoral foi relançado por Senado, dominado pela oposição

Crise paralisa país; consultas devem ser convocadas em até 90 dias, e, em caso de revogação de cargos, serão marcadas novas eleições

DA REDAÇÃO

Em mais um lance da crise política boliviana, o presidente Evo Morales anunciou, ontem à noite, que convocará referendos revogatórios para seu mandato, o do vice-presidente e o dos nove governadores do país.
Depois de se reunir às pressas com seus principais minitros, Morales disse aceitar o desafio eleitoral relançado pela oposição, que controla o Senado, que resolveu aprovar ontem à tarde proposta de consulta ratificatória dos cargos, enviada inicialmente pelo Executivo em dezembro de 2007. O projeto do referendo já havia sido aprovado na Câmara, de maioria governista.
"Quero reiterar minha posição de submeter-nos ao povo. Que [o povo] nos diga quem serve e quem não serve para governar", disse o presidente, em declaração trasmitida por TVs e rádios. Para Morales, a população decidirá entre "a continuidade" representada pelos governadores oposicionistas e seu "projeto de mudança".
Uma vez promulgada a lei, a Justiça eleitoral tem até 90 dias para organizar o referendo. Pelas regras aprovadas, presidente, vice e governadores perderão os cargos se obtiverem aprovação menor do que quando eleitos. Morales se elegeu em 2005 com 53,7% dos votos.
Se retirados pelo voto, haverá novas eleições para os cargos de presidente e governadores.
O anúncio congela o esforço de La Paz de retomar a negociação com os governadores autonomistas, após o rico departamento de Santa Cruz ter feito no domingo, à revelia de Morales, um referendo para ratificar sua ambição de independência administrativa.
O presidente boliviano havia convocado os governadores para uma reunião na segunda-feira, mas mesmo antes de ser atropelado pela iniciativa do Senado, os oposicionistas já haviam rejeitado o convite.
Postos contra a parede, os senadores governistas só votaram a favor da consulta após um intenso debate. E a primeira reação do governo à jogada oposicionista de perplexidade: "Por que agora? O que estão buscando? Querem provocar mais incerteza e instabilidade?", disse o porta-voz de Morales, Iván Canelas.

Empate catastrófico
Até o fechamento desta edição, os governadores não haviam se pronunciado sobre a consulta. Além dos quatro autonomistas, mais dois governadores, o de Cochabamba e La Paz, fazem oposição a Morales.
Quando o Executivo lançou a proposta, em dezembro, vários dos governadores aceitaram o desafio, mas rejeitaram as regras da consulta, que estabelece como piso os votos nas urnas, e não a maioria de 50%.
"Temos mais aprovação do que quando fomos eleitos. O referendo é proposta nossa", disse à Folha o deputado governista, Gustavo Torrico, que acrescentou que o referendo para ratificar a Constituição, aprovada pelos governistas em 2007, fica "congelado".
As pesquisas de opinião são um indicativo precário da situação de Morales, porque só medem, em geral, sua popularidade nas quatro principais cidades do país (La Paz, El Alto, na região metropolitana da capital, Cochabamba e Santa Cruz). O campo, que o governo acredita majoritariamente favorável, não é pesquisado.
Apesar disso, a julgar pelo instituto Ipsos Apoyo de abril, o referendo pode deixar tudo na mesma, no "empate catastrófico" entre as forças políticas, na expressão do vice-presidente, Álvaro García Linera.
O presidente tem 54% de simpatia nas quatro cidades. Mas se Morales tem 75% de aprovação na capital La Paz ou até mais na vizinha da região metropolitana El Alto, em Santa Cruz é mal visto por praticamente a mesma porcentagem.
Mas nos cálculos do governo, se levado adiante, o referendo pode transformar em governistas La Paz e departamentos divididos como Cochabamba ou até Pando.


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