São Paulo, sábado, 09 de maio de 2009

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Chávez comanda tomada de 60 empresas

Presidente expropria prestadoras de serviço do setor petroleiro e aumenta quadro de funcionários estatais em 8.000

Venezuelano acusa firmas de não cumprirem com obrigações trabalhistas, mas elas culpam calote da PDVSA por dificuldades financeiras

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A LAGUNILLAS (VENEZUELA)

Diante de centenas de funcionários da PDVSA, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, oficializou ontem a expropriação de 60 empresas prestadoras de serviços da área petroleira. A medida ocorre num momento em que várias empresas privadas ameaçavam reduzir ou paralisar os trabalhos por causa do atraso nos pagamentos da estatal petroleira.
"Essas empresas não nos fazem falta. O povo e os trabalhadores vão demonstrar como seremos mais eficientes na administração de nossa indústria", disse Chávez, em cadeia nacional de TV. "Vamos enterrar o capitalismo na Venezuela."
A cerimônia foi feita em uma região de diques às margens do imenso lago Maracaibo (noroeste), principal região produtora de petróleo da Venezuela. Várias das empresas nacionalizadas, ocupadas militarmente desde a madrugada de ontem, estavam instaladas ali e prestavam serviços de transporte aquático, reboque e reparação de equipamentos submarinos.
No discurso, Chávez acusou as empresas nacionalizadas de não cumprir com os direitos trabalhistas, como seguro-saúde, e de atrasar pagamentos.
Chávez também anunciou a expropriação de uma empresa no leste no país especializada em injeção de água nos poços de petróleo, importante para a a manutenção da produção.
Para simbolizar a nacionalização, Chávez entregou kits de uniformes vermelhos da PDVSA a funcionários das empresas nacionalizadas. Todos os barcos e rebocadores que até anteontem eram privados já portavam bandeiras da estatal venezuelana.
Com a incorporação das empresas, a endividada PDVSA aumentou a sua folha de pagamento em 11%, passando, da noite para o dia, de 74 mil para 82 mil funcionários.
Uma das empresas nacionalizadas foi a norte-americana Williams Companies, que na semana passada havia ameaçado recorrer à arbitragem internacional para cobrar uma dívida de US$ 241 milhões.
Segundo uma lista apresentada pelo próprio Chávez anteontem à noite, foram nacionalizados ontem 300 lanchas, 30 rebocadores, 30 barcos de transporte, 39 terminais e atracadouros, 61 lanchas de mergulho, cinco diques para reparação de barcos, além de 13 oficinas. O presidente disse que serão absorvidos 8.056 trabalhadores e que a PDVSA economizará US$ 700 milhões por ano com a estatização.
Pela nova legislação, aprovada pela Assembleia Nacional anteontem após uma rápida tramitação, as empresas nacionalizadas só podem recorrer a tribunais venezuelanos, controlados pelo chavismo.
A lei "reserva ao Estado os bens e serviços ligados às atividades primárias de hidrocarbonetos", abrindo a possibilidade para que Chávez assuma todo esse setor. Atualmente, a PDVSA já detém o monopólio da exploração e da comercialização, mudanças também introduzidas pelo atual governo.

Setor privado
"Estamos totalmente surpresos com a nacionalização", disse à Folha o presidente da Câmara Petroleira de Zulia, Erwin Lingg. "Em menos de 72 horas, as empresas foram inventariadas e custodiadas pela Guarda Nacional, e a lei foi aprovada sem nos darem o direito à palavra."
Para Lingg, "todo o problema é que a PDVSA não cancela a sua dívida". Segundo a Câmara de Zulia, as 225 empresas afiliadas -das quais 35 foram expropriadas- têm ao menos US$ 3,5 bilhões atrasados para receber. "Como podemos pagar nossos funcionários sem dinheiro?"
Ainda segundo o presidente da câmara que representa as empresas do principal Estado petroleiro da Venezuela, a dívida da PDVSA com empresas nacionais e estrangeiras chega a US$ 8 bilhões em todo o país.
Uma das empresas multinacionais afetadas, a britânica Wood Group, sócia de uma empresa de engenharia, anunciou que exigirá uma indenização do governo Chávez.


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