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Chávez comanda tomada de 60 empresas
Presidente expropria prestadoras de serviço do setor petroleiro e aumenta quadro de funcionários estatais em 8.000
Venezuelano acusa firmas de não cumprirem com obrigações trabalhistas, mas elas culpam calote da PDVSA por dificuldades financeiras
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A LAGUNILLAS
(VENEZUELA)
Diante de centenas de funcionários da PDVSA, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, oficializou ontem a expropriação de 60 empresas prestadoras de serviços da área petroleira. A medida ocorre num
momento em que várias empresas privadas ameaçavam reduzir ou paralisar os trabalhos
por causa do atraso nos pagamentos da estatal petroleira.
"Essas empresas não nos fazem falta. O povo e os trabalhadores vão demonstrar como seremos mais eficientes na administração de nossa indústria",
disse Chávez, em cadeia nacional de TV. "Vamos enterrar o
capitalismo na Venezuela."
A cerimônia foi feita em uma
região de diques às margens do
imenso lago Maracaibo (noroeste), principal região produtora de petróleo da Venezuela.
Várias das empresas nacionalizadas, ocupadas militarmente
desde a madrugada de ontem,
estavam instaladas ali e prestavam serviços de transporte
aquático, reboque e reparação
de equipamentos submarinos.
No discurso, Chávez acusou
as empresas nacionalizadas de
não cumprir com os direitos
trabalhistas, como seguro-saúde, e de atrasar pagamentos.
Chávez também anunciou a
expropriação de uma empresa
no leste no país especializada
em injeção de água nos poços
de petróleo, importante para a
a manutenção da produção.
Para simbolizar a nacionalização, Chávez entregou kits de
uniformes vermelhos da
PDVSA a funcionários das empresas nacionalizadas. Todos
os barcos e rebocadores que até
anteontem eram privados já
portavam bandeiras da estatal
venezuelana.
Com a incorporação das empresas, a endividada PDVSA
aumentou a sua folha de pagamento em 11%, passando, da
noite para o dia, de 74 mil para
82 mil funcionários.
Uma das empresas nacionalizadas foi a norte-americana
Williams Companies, que na
semana passada havia ameaçado recorrer à arbitragem internacional para cobrar uma dívida de US$ 241 milhões.
Segundo uma lista apresentada pelo próprio Chávez anteontem à noite, foram nacionalizados ontem 300 lanchas,
30 rebocadores, 30 barcos de
transporte, 39 terminais e atracadouros, 61 lanchas de mergulho, cinco diques para reparação de barcos, além de 13 oficinas. O presidente disse que serão absorvidos 8.056 trabalhadores e que a PDVSA economizará US$ 700 milhões por ano
com a estatização.
Pela nova legislação, aprovada pela Assembleia Nacional
anteontem após uma rápida
tramitação, as empresas nacionalizadas só podem recorrer a
tribunais venezuelanos, controlados pelo chavismo.
A lei "reserva ao Estado os
bens e serviços ligados às atividades primárias de hidrocarbonetos", abrindo a possibilidade
para que Chávez assuma todo
esse setor. Atualmente, a
PDVSA já detém o monopólio
da exploração e da comercialização, mudanças também introduzidas pelo atual governo.
Setor privado
"Estamos totalmente surpresos com a nacionalização",
disse à Folha o presidente da
Câmara Petroleira de Zulia, Erwin Lingg. "Em menos de 72
horas, as empresas foram inventariadas e custodiadas pela
Guarda Nacional, e a lei foi
aprovada sem nos darem o direito à palavra."
Para Lingg, "todo o problema
é que a PDVSA não cancela a
sua dívida". Segundo a Câmara
de Zulia, as 225 empresas afiliadas -das quais 35 foram expropriadas- têm ao menos
US$ 3,5 bilhões atrasados para
receber. "Como podemos pagar nossos funcionários sem
dinheiro?"
Ainda segundo o presidente
da câmara que representa as
empresas do principal Estado
petroleiro da Venezuela, a dívida da PDVSA com empresas
nacionais e estrangeiras chega
a US$ 8 bilhões em todo o país.
Uma das empresas multinacionais afetadas, a britânica
Wood Group, sócia de uma empresa de engenharia, anunciou
que exigirá uma indenização
do governo Chávez.
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