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UMA VISÃO AMERICANA
EUA querem integração da Sérvia
THOMAS PICKERING
especial para a Folha
Há um buraco no mosaico da comunidade transatlântica, um buraco no coração da Europa. Não é
que estejam faltando peças no mosaico, mas elas estão soltas e desordenadas. Nos Bálcãs, soldados e cidadãos estão trabalhando contra
velhas atribulações da tirania, da
opressão e do ódio racial e estão
tendo de prestar assistência humanitária a uma população devastada. Agimos assim para proteger
nossas próprias democracias bem
como para proteger os kosovares.
Nossa meta final não é vencer e
destruir; é construir e incluir.
A primeira ordem da questão é
pôr fim à repressão de Milosevic
em Kosovo. Nisso a comunidade
euro-atlântica está unida. Devemos manter essa unidade de objetivo. Milosevic tentará nos separar
e se inclinará a fomentar disputas
onde elas não existem. As metas da
Otan são simples: forças sérvias fora, força de segurança internacional dentro, refugiados de volta, autogoverno sem independência.
Nós lamentamos profundamente ter sido necessário recorrer ao
uso da força e sei que para alguns
isso foi particularmente doloroso.
Nós, americanos, também nos
lembramos de que a Sérvia, em outros conflitos, foi nossa aliada.
Também nos lembramos da relativa abertura e independência que
caracterizaram a Iugoslávia nos
dias mais negros da Guerra Fria.
Nós, portanto, temos razões para
esperar que Belgrado possa rapidamente se afastar desse curso autodestrutivo e isolacionista rumo a
um reengajamento com a comunidade internacional. Não temos nenhum atrito com o povo da Sérvia.
Nossa visão é que, brevemente,
uma Sérvia democrática se unirá
ao principal fluxo euro-atlântico.
Mesmo que odiemos continuar a
campanha militar por quanto tempo for necessário, nós também desejamos fazer uma promessa aos
sérvios e a todos os cidadãos do
Sudeste Europeu. Essa promessa é
simples: trabalhar com cada um
para resolver os problemas regionais, comprometermo-nos com a
reforma e ajudá-los. No vocabulário do Departamento de Estado,
usamos três verbos para descrever
nossa esperança para o desenvolvimento do Sudeste Europeu: estabilizar, transformar e integrar.
A solução não se limita a resolver
o atual problema de Kosovo, mas
também em uma política de longo
prazo para a região, na qual devemos embutir nossas intenções em
Kosovo e em relação à Sérvia.
Junto com o aprofundamento da
cooperação com a Rússia e estabilizando seu lugar no sistema euro-atlântico, o Sudeste Europeu é uma
grande questão estratégica que devemos resolver. A metade oriental
da região está indo na direção certa, mas agora a tendência positiva
pode ter sido atropelada pelo
transbordamento da guerra.
Temos sido firmemente levados
a uma série de compromissos e
nossa política não pode permanecer compartimentada. Precisamos
formar uma estratégia abrangente.
A atual crise salientou a necessidade de se fazer isso com base nas seguintes conclusões:
Primeiro, a Europa não estará segura a menos e até que o Sudeste
Europeu também o esteja. Segundo, a receita de sucesso está bem
identificada. É a mesma que funcionou na resolução de disputas similares nas outras regiões européias. Trata-se de integração.
Terceiro, pode funcionar aqui
também. Não aceito o argumento
de que os Bálcãs sejam fundamentalmente diferentes ou incapazes
de integração. O peso de uma história complexa e algumas vezes
horrível torna esse desafio formidável, mas a integração é a única
resposta de longo prazo.
Nossa visão comum inclui:
- Promover a democracia, a tolerância e a segurança entre os povos
da região. Isso facilitaria a cooperação entre os Estados da região e
aumentaria a estabilidade em toda
a área euro-atlântica.
- Mudar a região de uma situação
de dependência econômica para a
sustentabilidade, criando economias atrativas para os investidores.
- Fornecer uma alternativa democrática e pacífica ao povo da Iugoslávia para um futuro melhor.
- Facilitar a cooperação com
EUA, União Européia, Otan, ONU,
OSCE, Rússia e outros Estados vizinhos, instituições internacionais
e o setor privado.
Mais importante, olharemos para os países da região para traçar
seu futuro comum. Eles têm o máximo em jogo e precisamos incentivar sua auto-suficiência, cooperação e criatividade.
O Sudeste Europeu é parte do
grande mosaico do continente.
Não será fácil restaurá-lo. Mas a
parceria transatlântica nos últimos
50 anos venceu obstáculos igualmente difíceis.
²
Thomas Pickering, 67, subsecretário de Estado
para Assuntos Políticos dos EUA, foi embaixador
dos EUA em Israel (1985-88), Índia (92-93) e Rússia (93-96). Texto extraído de discurso feito no
Instituto de Análise de Política Exterior.
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