São Paulo, sábado, 09 de junho de 2007

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Cresce ação turca na divisa do Iraque

Testemunhas falam em bombas e incursões; Turquia exige ação de EUA e Bagdá contra rebeldes curdos

Rice afirma que operação de maior dimensão ampliaria tensões regionais; eventual conflito colocaria EUA em encruzilhada entre aliados

DO "NEW YORK TIMES", EM CIZRE (TURQUIA)

A artilharia turca voltou a disparar ontem contra posições de supostos rebeldes de etnia curda do outro lado da fronteira com o Iraque, um dia após quatro de seus militares serem mortos em confronto na divisa. As ações foram alvo de um alerta da secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, para quem uma ação mais dura pode ampliar as tensões regionais.
Nas últimas semanas, a Turquia, que reprime os separatistas curdos no sudeste do país, tem reforçado a presença militar em sua fronteira com o Iraque a níveis inéditos nos últimos anos, em um esforço para erradicar guerrilheiros que se refugiam no norte do país vizinho e que teriam apoio de curdos iraquianos.
Isso significa que, à medida que as forças militares norte-americanas se esforçam para controlar a violência no centro do Iraque, um segundo conflito pode se infiltrar no território do país por sua fronteira norte.
E, embora informações sobre uma grande incursão militar turca no Iraque, nesta semana, pareçam não proceder, o Exército está agindo com ênfase no sudoeste da Turquia, que abriga uma minoria curda estimada em 20% da população do país.
Na última quarta, as Forças Armadas criaram "zonas de segurança" em três distritos a leste de Cizre, uma medida que lembra o estado de emergência imposto à região em 2002, em um esforço por destruir um grupo separatista. O grupo, conhecido como Partido dos Trabalhadores do Curdistão, vem executando violentos ataques na Turquia desde os anos 80, e recentemente reforçou seus ataques contra soldados turcos.

Instabilidade regional
Militantes mataram sete soldados na última segunda e três guardas florestais anteontem. "Eles atacam os nossos soldados a cada dia", disse um funcionário em Sirnak, ao norte da fronteira iraquiana, perto da qual estão diversas bases militares. "Alguém precisa fazer algo a respeito. Senhor Bush, o senhor precisa conceder permissão. Autorize os soldados turcos a entrar no Iraque".
Ontem, segundo o grupo iraquiano União Patriótica do Curdistão, houve disparos da artilharia turca contra o lado iraquiano. A ação, diz o website do grupo, teria contado com apoio iraniano -apátrida, o povo curdo se espalha ainda pelo noroeste do Irã e norte da Síria.
Tanto Condoleezza Rice quanto o secretário da Defesa dos EUA, Robert Gates, advertiram a Turquia contra ações militares. Ontem, em entrevista à agência Associated Press, Rice afirmou que "não é bom para ninguém uma ação mais robusta na fronteira", nem para o Iraque, nem para a Turquia.
Obviamente, tal movimento tampouco é bom para os EUA.
A área majoritariamente curda do norte do Iraque é a única região relativamente estável de um país mergulhado na violência sectária, onde mortes de civis iraquianos e militares americanos vêm batendo recordes. Ademais, os curdos são parceiros confiáveis dos EUA no país.
Por sua vez, a Turquia, parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e aliada de Washington, permite que os norte-americanos utilizem uma base aérea no sul do país, a qual serve como centro de abastecimento para boa parte das tropas no centro do Iraque.
Desde o começo dos anos 90, a Turquia invadiu três vezes o norte do Iraque, com dezenas de milhares de soldados, e é evidente que uma repetição dessas incursões está em debate no país. "Agora os Estados Unidos precisam escolher", disse o funcionário em Sirnak. "O povo turco ou o povo curdo."
As Forças Armadas turcas estão pressionando Washington e o líder curdo no norte do Iraque, Massoud Barzani, por medidas contra os militantes. Um diplomata ocidental disse que a principal diferença com relação a crises semelhantes no passado é até que ponto os militares turcos decidiram ser francos sobre o assunto agora.
Por mais que a oratória seja exagerada, os militantes representam ameaça real. Só nos últimos dois meses, 30 soldados turcos foram mortos em ataques, e nos primeiros nove meses do ano cerca de 600 pessoas foram mortas em atos de violência ligados aos militantes, segundo dados oficiais turcos.


Com agências internacionais
Tradução de PAULO MIGLIACCI


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