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Cresce ação turca na divisa do Iraque
Testemunhas falam em bombas e incursões; Turquia exige ação de EUA e Bagdá contra rebeldes curdos
Rice afirma que operação de maior dimensão ampliaria tensões regionais; eventual conflito colocaria EUA em encruzilhada entre aliados
DO "NEW YORK TIMES", EM CIZRE
(TURQUIA)
A artilharia turca voltou a
disparar ontem contra posições de supostos rebeldes de etnia curda do outro lado da fronteira com o Iraque, um dia após
quatro de seus militares serem
mortos em confronto na divisa.
As ações foram alvo de um alerta da secretária de Estado dos
EUA, Condoleezza Rice, para
quem uma ação mais dura pode
ampliar as tensões regionais.
Nas últimas semanas, a Turquia, que reprime os separatistas curdos no sudeste do país,
tem reforçado a presença militar em sua fronteira com o Iraque a níveis inéditos nos últimos anos, em um esforço para
erradicar guerrilheiros que se
refugiam no norte do país vizinho e que teriam apoio de curdos iraquianos.
Isso significa que, à medida
que as forças militares norte-americanas se esforçam para
controlar a violência no centro
do Iraque, um segundo conflito
pode se infiltrar no território
do país por sua fronteira norte.
E, embora informações sobre
uma grande incursão militar
turca no Iraque, nesta semana,
pareçam não proceder, o Exército está agindo com ênfase no
sudoeste da Turquia, que abriga uma minoria curda estimada
em 20% da população do país.
Na última quarta, as Forças
Armadas criaram "zonas de segurança" em três distritos a leste de Cizre, uma medida que
lembra o estado de emergência
imposto à região em 2002, em
um esforço por destruir um
grupo separatista. O grupo, conhecido como Partido dos Trabalhadores do Curdistão, vem
executando violentos ataques
na Turquia desde os anos 80, e
recentemente reforçou seus
ataques contra soldados turcos.
Instabilidade regional
Militantes mataram sete soldados na última segunda e três
guardas florestais anteontem.
"Eles atacam os nossos soldados a cada dia", disse um funcionário em Sirnak, ao norte da
fronteira iraquiana, perto da
qual estão diversas bases militares. "Alguém precisa fazer algo a respeito. Senhor Bush, o
senhor precisa conceder permissão. Autorize os soldados
turcos a entrar no Iraque".
Ontem, segundo o grupo iraquiano União Patriótica do
Curdistão, houve disparos da
artilharia turca contra o lado
iraquiano. A ação, diz o website
do grupo, teria contado com
apoio iraniano -apátrida, o povo curdo se espalha ainda pelo
noroeste do Irã e norte da Síria.
Tanto Condoleezza Rice
quanto o secretário da Defesa
dos EUA, Robert Gates, advertiram a Turquia contra ações
militares. Ontem, em entrevista à agência Associated Press,
Rice afirmou que "não é bom
para ninguém uma ação mais
robusta na fronteira", nem para
o Iraque, nem para a Turquia.
Obviamente, tal movimento
tampouco é bom para os EUA.
A área majoritariamente curda do norte do Iraque é a única
região relativamente estável de
um país mergulhado na violência sectária, onde mortes de civis iraquianos e militares americanos vêm batendo recordes.
Ademais, os curdos são parceiros confiáveis dos EUA no país.
Por sua vez, a Turquia, parte
da Organização do Tratado do
Atlântico Norte (Otan) e aliada
de Washington, permite que os
norte-americanos utilizem
uma base aérea no sul do país, a
qual serve como centro de
abastecimento para boa parte
das tropas no centro do Iraque.
Desde o começo dos anos 90,
a Turquia invadiu três vezes o
norte do Iraque, com dezenas
de milhares de soldados, e é evidente que uma repetição dessas incursões está em debate no
país. "Agora os Estados Unidos
precisam escolher", disse o funcionário em Sirnak. "O povo
turco ou o povo curdo."
As Forças Armadas turcas estão pressionando Washington
e o líder curdo no norte do Iraque, Massoud Barzani, por medidas contra os militantes. Um
diplomata ocidental disse que a
principal diferença com relação a crises semelhantes no
passado é até que ponto os militares turcos decidiram ser francos sobre o assunto agora.
Por mais que a oratória seja
exagerada, os militantes representam ameaça real. Só nos últimos dois meses, 30 soldados
turcos foram mortos em ataques, e nos primeiros nove meses do ano cerca de 600 pessoas
foram mortas em atos de violência ligados aos militantes,
segundo dados oficiais turcos.
Com agências internacionais
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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