São Paulo, segunda-feira, 09 de junho de 2008

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"EUA serão expulsos do Iraque, e clérigo radical será premiê"

DE WASHINGTON

Estamos em 2009. O democrata Barack Obama é o presidente dos Estados Unidos. O que aconteceu com a Guerra do Iraque? "Acabou", acredita Immanuel Wallerstein, "e Moqtada al Sadr é o primeiro-ministro do país", conclui, referindo-se ao influente clérigo xiita. Hipótese radical? Certamente, assim como seu autor, mas o sociólogo explica a tese na conversa com a Folha. (SD)

 
"A população norte-americana quer que o país saia de lá [do Iraque], a questão será como sair com um mínimo de dignidade. Obama também quer sair, mas verá que é mais difícil do que pensa em termos de discussões domésticas. Ironicamente, nada disso terá importância, pois eu acredito que os iraquianos vão nos expulsar do país. E vamos aceitar graciosamente, porque não teremos outra opção.
Em termos realistas, o poderio dos EUA no Oriente Médio hoje é bem menor do que o povo norte-americano pensa, apesar do número de militares e armamentos deslocados para a região e de dinheiro investido.
O governo de George W. Bush está tentando desesperadamente fazer um acordo militar para manter tropas americanas indefinidamente no país. Tenta fazer isso enquanto ainda tem algum poder.
Negocia diretamente com o primeiro-ministro, o sunita Nuri al Maliki, contando com que ele não leve essas mudanças para serem referendadas pelo Parlamento e principalmente pelo voto popular, pois sabe que seriam derrotados. São negociações praticamente secretas. Nas últimas semanas, tanto o grão-aiatolá Ali al Sistani [clérigo xiita mais influente do país] quanto Al Sadr disseram que não as aceitam.
Se apoiado pelo primeiro, o segundo pode sair da história como o grande poder unificador no país hoje. Os EUA estão perdendo a guerra no Iraque, no Afeganistão e sendo passados para trás no Paquistão, perderam o que queriam no Líbano, estão sendo derrotado em todas as frentes do Oriente Médio em termos de objetivos políticos da administração Bush.
Sendo assim, em termos de atores principais, um eventual presidente Obama será uma figura secundária. Digo isso porque os próprios iraquianos conduzirão essa mudança.
Agora, a coisa muda de figura se o eleito for John McCain. Os EUA têm uma máquina militar extremamente poderosa, que pode causar todo tipo de agressão. Com o republicano no poder, não é impossível que ele pense em tomar essas atitudes agressivas, mesmo que isso tenha conseqüências negativas para os Estados Unidos.
Ele pode, por exemplo, atacar o Irã. Essa é uma diferença real entre os dois candidatos. Mas não acho que o republicano seja eleito. Creio que veremos seus índices nas pesquisas caírem nos próximos três meses. A não ser que os democratas façam algo incrivelmente estúpido, o que nunca pode ser totalmente descartado..."


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