São Paulo, terça-feira, 09 de junho de 2009

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Coalizão pró-Ocidente vence eleição libanesa

Grupo liderado por Saad Hariri, filho de ex-premiê assassinado, leva 71 das 128 cadeiras no Parlamento e impõe derrota ao Hizbollah

Participação de partido ligado a milícia no governo não está ainda descartada, no entanto, apesar de pressão contrária dos EUA


Joseph Barrak/France Presse
Simpatizantes do movimento pró-Ocidente 14 de Março celebram vitória nas ruas de Bekfaya

DA REDAÇÃO

A coalizão pró-Ocidente no poder desde 2005 se manterá como força dominante no governo libanês por mais quatro anos, conforme resultado das eleições legislativas divulgado oficialmente ontem.
O pleito do último domingo evidenciou mais uma vez a polarização do país entre movimentos apoiados por EUA e União Europeia e defensores da influência síria e iraniana nos assuntos libaneses.
Contrariando expectativas, o resultado selou uma importante derrota para a aliança liderada pelo xiita Hizbollah, misto de partido e milícia apoiado por Damasco e Teerã.
Para alívio das potências ocidentais, a aliança conhecida como 14 de Março arrematou 71 das 128 cadeiras do Parlamento libanês unicameral, contra 57 para o movimento pró-Hizbollah, batizado 8 de Março -data de 1920 em que a Síria declarou unilateralmente independência da França.
Observadores da União Europeia e do Centro Jimmy Carter pela Promoção da Democracia disseram que o pleito foi transparente e tranquilo, mas cobraram melhorias no sistema eleitoral libanês.
A participação foi de 52,3%, contra 45,8% em 2005.
O grande vencedor das legislativas foi o sunita Saad Hariri, que conduziu campanha focada na soberania do Líbano e é apontado por analistas como possível premiê.
Saad é filho do ex-premiê Rafik Hariri, cujo assassinato, em um atentado atribuído à Síria em fevereiro de 2005, causou no mês seguinte um levante popular que deu nome à coalizão de forças antissírias.
Até o assassinato de Hariri, o Exército sírio mantinha soldados no Líbano havia 29 anos, como parte dos Acordos de Taif, que encerraram a Guerra Civil Libanesa (1975-1990).
Com a morte do ex-premiê, expoente da oposição libanesa à presença militar síria, cresceu a pressão internacional para que os militares de Damasco deixassem o Líbano, o que ocorreu ainda em 2005.
Embora o Hizbollah tenha mantido as 11 cadeiras que possuía antes das eleições, seus aliados -incluindo cristãos de direita- não conseguiram inverter a relação de forças no Parlamento.
O líder do Hizbollah, xeque Hassan Nasrallah, reconheceu a derrota. "Aceitamos os resultados com espírito esportivo e democrático", disse o clérigo em discurso na TV.

Negociações
Embora tenha conquistado a maioria, a coalizão 14 de Março defende a formação de um governo de união nacional.
Segundo analistas, os dois campos rivais concordam em fazer concessões para evitar uma nova espiral de violência no país -a última foi encerrada no ano passado sob mediação diplomática do Qatar.
Hariri deixou as portas do governo abertas ao Hizbollah, desde que o grupo abra mão do direito de veto nas decisões do gabinete, que tem atualmente.
Mas o grupo xiita considera o direito de veto uma questão de sobrevivência, já que descarta aceitar uma eventual ordem para entregar as armas.
Especula-se que pode levar semanas até que sejam definidos os contornos do próximo gabinete libanês.
Os EUA pressionam para manter o Hizbollah fora. A Casa Branca alertara antes da eleição que a continuação da ajuda militar e financeira ao Líbano estava condicionada à formação do gabinete.


Com agências internacionais


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