São Paulo, terça-feira, 09 de junho de 2009

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Pentágono admite erros em ataque a afegãos

"Problemas táticos, técnicos e de procedimento" contribuíram para morte de civis em bombardeio em maio

ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

Um porta-voz do Departamento da Defesa dos EUA admitiu ontem que soldados americanos cometeram erros e não seguiram os procedimentos e táticas corretos durante um sangrento ataque no Afeganistão no mês passado. Autoridades afegãs contabilizaram 140 civis mortos, número que faria desse o ataque com mais vítimas civis desde o início da guerra, em 2001.
Os EUA rechaçam o número e contabilizam de 20 a 30 civis e de 60 a 65 insurgentes do grupo islâmico radical Taleban entre os mortos, mas, de toda forma, a ação elevou a tensão entre locais e tropas estrangeiras.
O bombardeio aéreo ocorreu para apoiar tropas no solo durante uma batalha em 4 de maio último na Província de Farah (oeste). "Houve alguns problemas táticos, técnicos e de procedimento no modo como foi realizado o apoio aéreo" no ataque, afirmou o secretário de imprensa do Departamento da Defesa, Geoff Morrell.
Ele não confirmou o número final de vítimas, mas insistiu em que o número de militantes do Taleban mortos foi muito superior ao de civis.
Segundo Morrell, um dos fatores problemáticos se refere ao fato de um bombardeiro B-1 ter, após a identificação do alvo, se afastado por um tempo de sua rota. "Não há como saber se isso teve algo a ver com a morte de civis, mas [os investigadores] consideram esse um dos problemas associados com a forma como tudo ocorreu."
O Pentágono dissera que a aeronave recebera permissão para atacar uma suposta base do Taleban, mas não reconfirmou o alvo antes de lançar a bomba. Isso deixava em aberto a hipótese de civis terem entrado na área antes do ataque.

Regra ignorada
O relatório final sobre a investigação ainda não foi liberado, mas já na semana passada o "New York Times" relatara que conclusões iniciais da investigação apontavam para erros do Exército, incluindo o fato de ter ignorado a regra que impede bombardeios em áreas residenciais densamente povoadas na ausência de ameaça iminente.
De acordo com as forças dos EUA, a batalha em Farah começou um dia depois que insurgentes do Taleban entraram em duas vilas, exigiram dinheiro de civis e mataram três ex-funcionários do governo. Quando uma força afegã tentou reagir, sofreu uma emboscada. O governador da Província então pediu ajuda militar aos EUA, que enviaram uma força terrestre. Durante a luta, os soldados pediram a ajuda de ataques aéreos de caças F-18 e de um bombardeiro B-1.
A morte de dezenas de afegãos provocou protestos em todo o país. O presidente afegão, Hamid Karzai, lançou um apelo aos EUA pela suspensão dos ataques aéreos, sem sucesso.
Cerca de uma semana após o ataque, foi anunciada troca no comando dos EUA no Afeganistão, com o general Stanley McChrystal substituindo David McKiernan. O Pentágono justificou a mudança dizendo que "uma abordagem nova é necessária". Em depoimento ao Senado, McChrystal disse que protegerá civis.


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