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Troca de acusações reforça tensão entre Lima e índios
Principal central sindical peruana convoca para quinta marcha contra governo García, após conflito que deixou ao menos 50 mortos
DA REDAÇÃO
A dura troca de acusações entre o governo direitista de Alan
García e lideranças indígenas e
a convocatória de uma marcha
sindical em Lima para quinta-feira compuseram ontem o
quadro de tensão no Peru, três
dias após confronto entre policiais e manifestantes que deixou ao menos 50 mortos no
norte do país.
Governo e movimento indígena, que reivindica a revogação de leis pró-investimento na
Amazônia peruana, divergem
sobre o número de vítimas. Para a Adeisp (Associação Interétnica de Desenvolvimento da
Selva Peruana), corroborada
por fontes médicas da região na
sexta, ao menos 30 indígenas
morreram. O governo fala em 9
manifestantes e 24 policiais
mortos.
A Comissão Interamericana
de Direitos Humanos (CIDH),
ligada à OEA (Organização dos
Estados Americanos), condenou "energicamente" a violência que se desatou durante ação
de desbloqueio de uma estrada
próxima à cidade de Bagua, a
1.400 km de Lima. A CIDH instou o Estado peruano a "esclarecer judicialmente os episódios" e alertou quanto ao uso
desproporcional das forças de
segurança.
Hoje, o Conselho Permanente da OEA, em Washington, fará uma sessão extraordinária
sobre o confronto peruano.
A oposição e ONGs locais e
internacionais acusaram o governo de estar promovendo
uma "limpeza" de corpos na região, ainda sob toque de recolher. Lima negou, e os opositores não apresentaram provas.
Segundo o presidente do
Conselho de Ministros (premiê) Yehude Simon, o principal líder da Adeisp, Alberto Pizango, refugiou-se na Embaixada da Nicarágua em Lima
após ser acusado pelo governo
de incitar a violência.
Walter Categari, diretor da
Adeisp, disse à Folha que a
orientação da associação, que
representa 450 mil pessoas de
65 povos indígenas na Amazônia peruana, é seguir a mobilização que completa dois meses
hoje, com bloqueios de estradas e ocupações de instalações
petrolíferas. "Se pararmos agora, seremos derrotados."
Ontem, a principal central
sindical peruana, a CGTP, convocou para quinta uma "Jornada Nacional de Luta", em resposta à violência na Amazônia,
acentuando a pressão sobre o
governo Alan García, que completa três anos em julho.
Negociação no Congresso
No Congresso, o Partido Nacionalista -de Ollanta Humala,
derrotado por García nas eleições de 2006-, anunciou que
convocará uma sessão extraordinária para debater o decreto
1.090, chamado de lei florestal.
O adiamento do debate sobre
o decreto 1.090 foi um estopim
da violência da sexta. No dia anterior, a maioria governista
aprovara projeto para congelar
o tema no Parlamento até que a
mesa de diálogo -formada pelo
Executivo e lideranças indígenas, neste momento já em impasse-, chegasse a um acordo.
A norma é um dos pilares do
conflito no Peru porque reduz a
área de proteção florestal no
país e esboça um amplo plano
de regulação do investimento
na Amazônia.
Ativistas indígenas dizem
que estarão disponíveis para
atividade econômica mais 45
milhões de hectares, ou 60% da
floresta, e que, contrariando legislação internacional adotada
pelo Peru, as comunidades indígenas não foram consultadas.
Nos últimos dez anos, cresceu enormemente a ocupação
da floresta peruana por empresas mineradoras e petrolíferas.
A subsidiária da Petrobras no
país explora um lote, com produção de 16 mil barris/dia, e detém concessão de outros cinco
lotes ainda em prospecção.
Com agências internacionais.
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