São Paulo, terça, 9 de junho de 1998

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ÁFRICA
General, no poder desde golpe em 1993, sofreu ataque cardíaco; sucessor deve ser escolhido entre os militares
Morre Sani Abacha, ditador da Nigéria

das agências internacionais

O general Sani Abacha, ditador da Nigéria há mais de quatro anos, morreu ontem repentinamente, envolvendo em incertezas o futuro do mais populoso país da África.
Abacha, 54, no poder desde um golpe militar em 1993, planejava eleger-se presidente em agosto deste ano em uma eleição marcada por irregularidades -o general era o único concorrente após ser escolhido candidato pelos cinco partidos aprovados oficialmente.
A oposição nigeriana e potências internacionais disseram esperar que a morte do presidente signifique a democratização do país do oeste africano, palco de sete golpes de Estado desde sua independência do Reino Unido, em 1960.
Segundo comunicado do governo, o líder nigeriano "morreu nas primeiras horas da manhã". A nota oficial não mencionava a causa da morte, mas diplomatas estrangeiros em Lagos, o centro comercial do país, disseram que o general sofreu ataque cardíaco.
Abacha, cujo vice-presidente foi sentenciado à morte em abril após uma tentativa de golpe fracassada, não deixa um sucessor óbvio.
Fontes do governo nigeriano afirmaram que o Conselho Dirigente Provisório, a ser presidido pelo general Abdusalam Abubakar, chefe do Estado-Maior, deve decidir sobre quem vai liderar o país.
Segundo analistas políticos, o próximo líder nigeriano deve sair do grupo de militares próximo de Abacha -entre eles, o próprio Abubakar, o tenente-general Jeremiah Useni (ministro para Abuja, a capital do país) e o major-general Ishiaya Bamaiyi, chefe do Estado-Maior do Exército.
Abacha foi enterrado ontem em sua cidade natal, Kano, no norte do país, onde seu corpo foi recebido por milhares de pessoas.
A morte do general faz nascer esperanças de que o país, uma potência regional, passe a respeitar os direitos humanos e volte a ter livre trânsito na comunidade internacional. Abacha transformou em prática corrente as arbitrariedades contra seus oponentes.
Em 1995, a morte por enforcamento de um ativista dos direitos humanos levou a Commonwealth (reunião de ex-colônias britânicas e Reino Unido) a suspender a Nigéria. EUA, União Européia e África do Sul impuseram restrições na concessão de vistos e na venda de armas. O FMI e o Banco Mundial limitaram a concessão de fundos aos país.
A oposição nigeriana pediu que o empresário Moshood Abiola seja colocado no comando do país. "Abiola deveria ser convidado para liderar um governo de unidade nacional", disse o advogado Gani Fawehinmi, líder do Comitê de Ação Conjunta da Nigéria, união de 45 grupos de oposição.
Abiola, que vencia as eleições presidenciais de 1993, foi detido em 94 após declarar-se presidente -as eleições haviam sido canceladas pelo general Ibrahim Babangida, então presidente nigeriano que nomeou governo provisório que seria derrubado por Abacha.



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