São Paulo, sexta-feira, 09 de julho de 2004

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Enfermeira goiana morre no deserto

ADRIANA CHAVES
DA AGÊNCIA FOLHA

Uma enfermeira foi a segunda vítima goiana a morrer tentando atravessar ilegalmente a fronteira do México com os Estados Unidos, pelo deserto do Arizona, em menos de um mês. Goiás é um dos Estados com maior número de brasileiros deportados pelos americanos nos últimos anos.
O corpo de Vilma Ribeiro Machado, 41, foi localizado na segunda-feira, próximo à cidade de Douglas (Arizona, oeste dos EUA). Segundo autoridades americanas, a causa da morte foi uma forte desidratação. O resultado da autópsia não foi divulgado ainda.
No dia 3 de junho, o corpo de outro goiano, o sapateiro Welton Feliciano, 34, foi achado em circunstâncias semelhantes na mesma região.
Machado estava desaparecida desde o dia 1º, quando tentaria passar pela fronteira com um "coiote" (pessoa que transporta ilegalmente imigrantes do México para os EUA). No dia anterior, uma irmã e uma sobrinha que a acompanhavam na viagem haviam concluído a travessia.
Segundo o ex-cunhado da enfermeira, o comerciante Washington Carvalho, 35, as três tiveram de se separar porque a travessia é feita em duplas de imigrantes acompanhadas de coiotes. "A irmã e a sobrinha conseguiram passar, mas ela ficou para trás com outra pessoa."
Divorciada e mãe de dois filhos -um rapaz de 14 e uma jovem de 21 anos-, a enfermeira saiu de sua cidade natal, Campinorte (318 km ao norte de Goiânia), havia cerca de 20 dias.
Inicialmente, as três tentaram cruzar a fronteira com a ajuda de uma pessoa conhecida que mora em território mexicano. O destino era Seattle (no Estado de Washington, no noroeste dos EUA), onde vive um irmão de Machado, mas antes elas planejavam passar por Sacramento, na Califórnia, para visitar outra irmã.
"A emigração as deportou. De volta ao México, tentaram os coiotes. O combinado era [cada uma pagar] US$ 5.000 quando chegassem a Sacramento, na Califórnia", afirmou Carvalho.
Machado estava licenciada desde maio do ano passado do Hospital Municipal de Campinorte, onde trabalhava havia 13 anos, de acordo com a direção da instituição médica.
No mês em que a enfermeira se afastou do trabalho, segundo a amiga Marta Augusta Monteiro Leão, 44, ela viajou para Portugal. "Ela trabalhou numa joalheria de lá por oito meses, mas acabou voltando para visitar os filhos."
Leão disse que a amiga sempre quis viajar para os EUA, mas, como não conseguiu visto, decidiu ir clandestinamente. "Ela trabalharia com a irmã numa academia, fazendo faxina, mas ia voltar. A morte dela deixou todo mundo chocado na cidade."

"Temporada da morte"
Estatística divulgada pelo jornal dos EUA "The New York Times" aponta um crescimento recorde do número de imigrantes mortos tentando cruzar a fronteira do México para os Estados Unidos ilegalmente neste ano.
O Ministério do Interior mexicano informou que 61 pessoas morreram de 1º de outubro, quando começa a chamada "temporada da morte" (meses quentes), até a semana passada na região fronteiriça do Arizona.
A Patrulha da Fronteira, que computa apenas os cadáveres localizados, diz que os mortos somam 43 pessoas. Mesmo assim, o número é maior que em qualquer outro ano no mesmo período.


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