|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Enfermeira goiana morre no deserto
ADRIANA CHAVES
DA AGÊNCIA FOLHA
Uma enfermeira foi a segunda
vítima goiana a morrer tentando
atravessar ilegalmente a fronteira
do México com os Estados Unidos, pelo deserto do Arizona, em
menos de um mês. Goiás é um
dos Estados com maior número
de brasileiros deportados pelos
americanos nos últimos anos.
O corpo de Vilma Ribeiro Machado, 41, foi localizado na segunda-feira, próximo à cidade de
Douglas (Arizona, oeste dos
EUA). Segundo autoridades americanas, a causa da morte foi uma
forte desidratação. O resultado da
autópsia não foi divulgado ainda.
No dia 3 de junho, o corpo de
outro goiano, o sapateiro Welton
Feliciano, 34, foi achado em circunstâncias semelhantes na mesma região.
Machado estava desaparecida
desde o dia 1º, quando tentaria
passar pela fronteira com um
"coiote" (pessoa que transporta
ilegalmente imigrantes do México
para os EUA). No dia anterior,
uma irmã e uma sobrinha que a
acompanhavam na viagem haviam concluído a travessia.
Segundo o ex-cunhado da enfermeira, o comerciante Washington Carvalho, 35, as três tiveram de se separar porque a travessia é feita em duplas de imigrantes
acompanhadas de coiotes. "A irmã e a sobrinha conseguiram passar, mas ela ficou para trás com
outra pessoa."
Divorciada e mãe de dois filhos
-um rapaz de 14 e uma jovem de
21 anos-, a enfermeira saiu de
sua cidade natal, Campinorte (318
km ao norte de Goiânia), havia
cerca de 20 dias.
Inicialmente, as três tentaram
cruzar a fronteira com a ajuda de
uma pessoa conhecida que mora
em território mexicano. O destino
era Seattle (no Estado de Washington, no noroeste dos EUA),
onde vive um irmão de Machado,
mas antes elas planejavam passar
por Sacramento, na Califórnia,
para visitar outra irmã.
"A emigração as deportou. De
volta ao México, tentaram os
coiotes. O combinado era [cada
uma pagar] US$ 5.000 quando
chegassem a Sacramento, na Califórnia", afirmou Carvalho.
Machado estava licenciada desde maio do ano passado do Hospital Municipal de Campinorte,
onde trabalhava havia 13 anos, de
acordo com a direção da instituição médica.
No mês em que a enfermeira se
afastou do trabalho, segundo a
amiga Marta Augusta Monteiro
Leão, 44, ela viajou para Portugal.
"Ela trabalhou numa joalheria de
lá por oito meses, mas acabou voltando para visitar os filhos."
Leão disse que a amiga sempre
quis viajar para os EUA, mas, como não conseguiu visto, decidiu
ir clandestinamente. "Ela trabalharia com a irmã numa academia, fazendo faxina, mas ia voltar.
A morte dela deixou todo mundo
chocado na cidade."
"Temporada da morte"
Estatística divulgada pelo jornal
dos EUA "The New York Times"
aponta um crescimento recorde
do número de imigrantes mortos
tentando cruzar a fronteira do
México para os Estados Unidos
ilegalmente neste ano.
O Ministério do Interior mexicano informou que 61 pessoas
morreram de 1º de outubro,
quando começa a chamada "temporada da morte" (meses quentes), até a semana passada na região fronteiriça do Arizona.
A Patrulha da Fronteira, que
computa apenas os cadáveres localizados, diz que os mortos somam 43 pessoas. Mesmo assim, o
número é maior que em qualquer
outro ano no mesmo período.
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Caribe: Força de paz precisa demonstrar solidariedade com Haiti, diz Viegas Índice
|