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ANÁLISE
Novos ataques são questão de "quando", e não de "se"
SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL
Os ataques terroristas de anteontem em Londres foram uma
desgraça, mas não uma surpresa.
Como vem alertando desde 2004
Richard Clarke, ex-czar do contraterrorismo dos governos Clinton e Bush, novos atentados em
solo tanto britânico quanto americano são uma questão de "quando", e não de "se". O primeiro foi
ontem (se não levarmos em conta
o de Madri, sede de um governo
que também participou da aliança que invadiu o Iraque em 2003).
Outros virão. O próprio Clarke,
hoje militando nos meios político-acadêmicos (os chamados
"think-tanks") e na mídia norte-americana por uma revisão ampla, total e irrestrita da maneira
como a administração Bush vem
lidando com a prevenção ao terror, escreveu um artigo que virou
referência na edição de janeiro-fevereiro da revista "Atlantic
Monthly". Intitulado "Dez anos
depois", é uma palestra fictícia do
"professor Roger McBride", da
verdadeira Kennedy School of
Government, que teria sido proferida em 2011, por ocasião dos dez
anos do 11 de Setembro.
No texto, ele fala da ascensão da
"Al Qaeda da América do Norte",
da série de ataques promovidos
pelas células adormecidas no país
e da série de emendas ao Patriot
Act que foram aprovadas na esteira dos ataques e limitaram as liberdades civis dos norte-americanos cada vez mais -quanto a este
assunto, conversando com a Folha no final de 2004, os três então
presidentes da divisão de notícias
das principais emissoras do país
(ABC, CBS, NBC) disseram que
esperavam que o próximo atentado grave em solo americano causasse no mínimo a censura prévia
da imprensa, prevista na Lei Marcial norte-americana.
Em sua visão, Las Vegas, um
símbolo tão poderoso da decadência e da ganância americanas
para o movimento islâmico radical quanto era o World Trade
Center, e grandes shoppings centers localizados no interior dos
EUA foram os alvos seguintes dos
terroristas. Faz sentido, segundo
o autor, pois a idéia é instalar o
pânico também em quem pensa
que está seguro, por exemplo, em
Ohio. Mas Londres também tinha
sido alvo, como foi anteontem. O
texto de Clarke, chamado de
"alarmista e desnecessário" pelos
falcões da Casa Branca, não é a
primeira ficção recente a infelizmente antever os fatos.
O filme "Dirty War", exibido há
alguns meses pela HBO, mostrava
o estrago que a explosão de uma
chamada "bomba suja" (artefato
explosivo convencional misturado com componentes nucleares,
químicos ou biológicos) no centro da capital britânica causaria.
Havia -e há- na cidade apenas
dez unidades descontaminadoras, que podem "limpar" 400 pessoas atingidas por radiação por
hora. Feitas as contas, levaria pouco mais de cinco dias para "liberar" apenas 250 mil habitantes.
A justificar seu exercício fantasioso, o especialista disse que freqüentemente conseguia a atenção
dos generais americanos ao mostrar os chamados "jogos de guerra", com simulações, videoclipes e
atores, mais do que apresentações
teóricas e técnicas tradicionais,
com um telão, mapas e números.
Na manhã de anteontem, chamado a comentar os atentados de
Londres, Clarke disse à ABC: "Os
ataques são altamente complexos.
Está claro que têm a ver com o fato de o premiê do Reino Unido estar do outro lado do país recebendo os líderes do mundo industrializado. Se for mesmo um ataque
islâmico, ou melhor, jihadista, a
mensagem é a de que os líderes
desses países estão sendo ridicularizados e diminuídos por terroristas jihadistas".
Poderia ter dito: "Eu avisei".
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