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Pressão republicana sobre Bush aumenta
Congresso discute orçamento militar de 2008 e pode aprovar data para saída do Iraque, que tem crescente apoio de governistas
Secretário da Defesa dos EUA cancela visita à América Latina 24 horas antes da partida para participar de discussões sobre a guerra
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Enquanto vê aumentar o número de companheiros de partido que se posicionam pública
ou privadamente contra a maneira com a qual ele vem conduzindo a Guerra do Iraque, o
presidente republicano George
W. Bush se prepara para enfrentar seu pior embate com o
Legislativo desde que a oposição democrata assumiu o controle do Congresso, em janeiro.
A partir dessa semana, o Senado discute o orçamento de
2008 do Pentágono, enviado
por Bush, que prevê US$ 141,7
bilhões para o Iraque e o Afeganistão. É a oportunidade para
que sejam propostas emendas
com cortes financeiros ou prazos para a retirada das tropas
norte-americanas (fala-se de
algo entre seis meses e o meio
de 2008), posições combatidas
até agora pelo presidente.
O republicano poderá vetar a
emenda, como já fez antes, mas
nunca esteve em posição tão
frágil para exercer essa prerrogativa quanto agora. Nos últimos dias, pelo menos três senadores republicanos vieram a
público discordar pela primeira
vez dos planos de Bush, liderados por um discurso de Richard
Lugar, de Indiana.
Ontem, o mais graduado republicano do Comitê de Relações Exteriores pediu que as
tropas saiam no meio do ano
que vem. "Defendo que a maioria deixe o Iraque e que o resto
seja enviado para outro lugar",
disse Lugar. Seus colegas George Voinovich (Ohio) e Pete Domenici (Novo México) manifestaram posições semelhantes, o que altera o frágil equilíbrio atual do Senado, de 51 democratas e 49 republicanos.
Caminho errado
Na sexta, o porta-voz interino da Casa Branca, Tony Fratto, já havia rejeitado a proposta
de retirada: "É o caminho errado e perigoso". Enquanto isso, o
governo trabalha para evitar o
pior. Funcionários passaram a
semana discutindo um plano
parecido com o oferecido em
dezembro a Bush pelo bipartidário Grupo de Estudos do Iraque, então ignorado.
O ponto do plano original
mais valorizado pela versão recauchutada prevê a divisão do
país em três regiões administrativas autônomas (de maiorias xiita, sunita e curda), mas
com comando único supervisionado por uma força multinacional, nos moldes do que foi
feito nos Bálcãs nos anos 90.
Ontem, o Pentágono anunciou que seu titular, Robert Gates, cancelara uma viagem para
a América Latina, a 24 horas da
partida. "Acontecimentos desta semana requerem a participação do secretário da Defesa
em reuniões sobre o Iraque",
dizia o texto do comunicado.
Até o domingo, 15, o comandante militar norte-americano
no Iraque, David Petraeus, deve fazer um relatório intermediário sobre os resultados alcançados com o aumento de
tropas pedido por Bush -a
prestação de contas definitiva
acontece em setembro. A oposição aposta que ele não terá
muitos fatos positivos.
Já a defecção republicana
tem razões que vão além do patriotismo: dos 49 ocupantes do
Senado, 22 devem concorrer à
reeleição em 2008, quando
Bush deixa o poder. Parte deles
não quer ser vista pelo público
como ligada a um presidente
que "perdeu a guerra" e que bate recordes negativos de popularidade, hoje abaixo dos 30%.
"Os republicanos estão sendo massacrados por seus eleitores em relação à guerra", disse o senador democrata Charles Schumer. "Creio que a represa está prestes a estourar."
Ontem, o "New York Times"
publicou um editorial de coluna inteira, em vez dos habituais
três, com o título: "O caminho
para casa" (leia ao lado).
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