São Paulo, segunda-feira, 09 de julho de 2007

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Pressão republicana sobre Bush aumenta

Congresso discute orçamento militar de 2008 e pode aprovar data para saída do Iraque, que tem crescente apoio de governistas

Secretário da Defesa dos EUA cancela visita à América Latina 24 horas antes da partida para participar de discussões sobre a guerra

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Enquanto vê aumentar o número de companheiros de partido que se posicionam pública ou privadamente contra a maneira com a qual ele vem conduzindo a Guerra do Iraque, o presidente republicano George W. Bush se prepara para enfrentar seu pior embate com o Legislativo desde que a oposição democrata assumiu o controle do Congresso, em janeiro.
A partir dessa semana, o Senado discute o orçamento de 2008 do Pentágono, enviado por Bush, que prevê US$ 141,7 bilhões para o Iraque e o Afeganistão. É a oportunidade para que sejam propostas emendas com cortes financeiros ou prazos para a retirada das tropas norte-americanas (fala-se de algo entre seis meses e o meio de 2008), posições combatidas até agora pelo presidente.
O republicano poderá vetar a emenda, como já fez antes, mas nunca esteve em posição tão frágil para exercer essa prerrogativa quanto agora. Nos últimos dias, pelo menos três senadores republicanos vieram a público discordar pela primeira vez dos planos de Bush, liderados por um discurso de Richard Lugar, de Indiana.
Ontem, o mais graduado republicano do Comitê de Relações Exteriores pediu que as tropas saiam no meio do ano que vem. "Defendo que a maioria deixe o Iraque e que o resto seja enviado para outro lugar", disse Lugar. Seus colegas George Voinovich (Ohio) e Pete Domenici (Novo México) manifestaram posições semelhantes, o que altera o frágil equilíbrio atual do Senado, de 51 democratas e 49 republicanos.

Caminho errado
Na sexta, o porta-voz interino da Casa Branca, Tony Fratto, já havia rejeitado a proposta de retirada: "É o caminho errado e perigoso". Enquanto isso, o governo trabalha para evitar o pior. Funcionários passaram a semana discutindo um plano parecido com o oferecido em dezembro a Bush pelo bipartidário Grupo de Estudos do Iraque, então ignorado.
O ponto do plano original mais valorizado pela versão recauchutada prevê a divisão do país em três regiões administrativas autônomas (de maiorias xiita, sunita e curda), mas com comando único supervisionado por uma força multinacional, nos moldes do que foi feito nos Bálcãs nos anos 90.
Ontem, o Pentágono anunciou que seu titular, Robert Gates, cancelara uma viagem para a América Latina, a 24 horas da partida. "Acontecimentos desta semana requerem a participação do secretário da Defesa em reuniões sobre o Iraque", dizia o texto do comunicado.
Até o domingo, 15, o comandante militar norte-americano no Iraque, David Petraeus, deve fazer um relatório intermediário sobre os resultados alcançados com o aumento de tropas pedido por Bush -a prestação de contas definitiva acontece em setembro. A oposição aposta que ele não terá muitos fatos positivos.
Já a defecção republicana tem razões que vão além do patriotismo: dos 49 ocupantes do Senado, 22 devem concorrer à reeleição em 2008, quando Bush deixa o poder. Parte deles não quer ser vista pelo público como ligada a um presidente que "perdeu a guerra" e que bate recordes negativos de popularidade, hoje abaixo dos 30%.
"Os republicanos estão sendo massacrados por seus eleitores em relação à guerra", disse o senador democrata Charles Schumer. "Creio que a represa está prestes a estourar." Ontem, o "New York Times" publicou um editorial de coluna inteira, em vez dos habituais três, com o título: "O caminho para casa" (leia ao lado).


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