São Paulo, quinta-feira, 09 de julho de 2009

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EUA criticam papel de Chávez em Honduras

Futuro chefe da diplomacia americana para América Latina fala em "provável influência negativa" de Caracas no país antes do golpe

Em sabatina no Senado, Valenzuela condena saída de Zelaya, mas diz que diálogo na Costa Rica deve tratar de "problemas de fundo"

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

O secretário-assistente de Estado indicado pela Presidência dos EUA para o Hemisfério Ocidental, Arturo Valenzuela, defendeu que OEA (Organização dos Estados Americanos) e o presidente da Costa Rica, Óscar Arias, investiguem a "provável influência negativa" da Venezuela nos antecedentes que levaram à deposição do presidente de Honduras, Manuel Zelaya.
Valenzuela depôs ontem perante o Comitê de Relações Exteriores do Senado americano para confirmar seu nome no cargo. A crise no país centro-americano e o papel de Washington nela dominou a audiência de cerca de três horas.
Articulada pelos EUA, hoje acontece em San José, na Costa Rica, a primeira reunião entre Zelaya e o governo interino de Roberto Micheletti, instalado após o golpe. A mediação será de Arias, que recebeu o prêmio Nobel em 1987 pelo papel na negociação do fim das guerras civis na América Central.
Valenzuela insistiu que além de resolver o impasse atual em Honduras -a volta da normalidade democrática- é preciso também abordar os "problemas de fundo" do país.
O diplomata defendeu também investigar as alegações de que o presidente deposto de Honduras teria atuado fora do regime constitucional ao enfrentar a Justiça e o Congresso para realizar um referendo sobre a convocação de uma Assembleia Constituinte.
Segundo os críticos de Zelaya, as mudanças visavam garantir sua reeleição. Valenzuela sugeriu que o hondurenho pode ter tido a influência do venezuelano Hugo Chávez, seu aliado, para tomar essa decisão.

Sem maniqueísmo
Valenzuela defendeu a posição dos EUA e da OEA de rejeitarem o golpe que retirou Zelaya do poder. Ele foi duramente confrontado pelo senador republicano James DeMint, que se disse favorável à saída de Zelaya e o comparou a Chávez.
Para DeMint, os EUA ficaram do lado de Venezuela e de Cuba no tema. Valenzuela rebateu: "Temos uma discordância nesse ponto. O que houve foi a interrupção da ordem constitucional. Houve um golpe. Os EUA votaram contra, e estamos enviando um forte sinal de que isso não é aceitável".
Valenzuela, acadêmico de origem chilena que trabalhou no governo Clinton (1993-2001), disse que a região nas últimas décadas "consolidou e fortaleceu várias de suas democracias" após um longo período dominado por governos militares. "Por isso o caso de Honduras é tão terrível", disse.
"A volta à normalidade em Honduras é importante pois as instituições democráticas ainda são frágeis em alguns dos países, principalmente nos marcados por grandes diferenças sociais e econômicas."
Questionado pelos senadores sobre qual seria sua estratégia em relação à América Latina e para casos específicos como e Bolívia, com quem os EUA mantêm relação turbulenta, Valenzuela defendeu o fim do que chamou de "visão maniqueísta".
"Precisamos acabar com essa visão de que existem mocinhos e bandidos ["good and bad guys']. Precisamos entender a realidade individual de cada país e olhar para a sua história."
Na audiência no Senado, além de Valenzuela foram sabatinados os indicados para os postos de embaixadores de Brasil (Thomas Shannon), México (Carlos Pascual) e Haiti (Kenneth Merten). A confirmação dos quatro deve ser anunciada nos próximos dias.


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