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EUA criticam papel de Chávez em Honduras
Futuro chefe da diplomacia americana para América Latina fala em "provável influência negativa" de Caracas no país antes do golpe
Em sabatina no Senado, Valenzuela condena saída de Zelaya, mas diz que diálogo na Costa Rica deve tratar
de "problemas de fundo"
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
O secretário-assistente de
Estado indicado pela Presidência dos EUA para o Hemisfério
Ocidental, Arturo Valenzuela,
defendeu que OEA (Organização dos Estados Americanos) e
o presidente da Costa Rica, Óscar Arias, investiguem a "provável influência negativa" da
Venezuela nos antecedentes
que levaram à deposição do
presidente de Honduras, Manuel Zelaya.
Valenzuela depôs ontem perante o Comitê de Relações Exteriores do Senado americano
para confirmar seu nome no
cargo. A crise no país centro-americano e o papel de Washington nela dominou a audiência de cerca de três horas.
Articulada pelos EUA, hoje
acontece em San José, na Costa
Rica, a primeira reunião entre
Zelaya e o governo interino de
Roberto Micheletti, instalado
após o golpe. A mediação será
de Arias, que recebeu o prêmio
Nobel em 1987 pelo papel na
negociação do fim das guerras
civis na América Central.
Valenzuela insistiu que além
de resolver o impasse atual em
Honduras -a volta da normalidade democrática- é preciso
também abordar os "problemas de fundo" do país.
O diplomata defendeu também investigar as alegações de
que o presidente deposto de
Honduras teria atuado fora do
regime constitucional ao enfrentar a Justiça e o Congresso
para realizar um referendo sobre a convocação de uma Assembleia Constituinte.
Segundo os críticos de Zelaya, as mudanças visavam garantir sua reeleição. Valenzuela
sugeriu que o hondurenho pode ter tido a influência do venezuelano Hugo Chávez, seu aliado, para tomar essa decisão.
Sem maniqueísmo
Valenzuela defendeu a posição dos EUA e da OEA de rejeitarem o golpe que retirou Zelaya do poder. Ele foi duramente
confrontado pelo senador republicano James DeMint, que
se disse favorável à saída de Zelaya e o comparou a Chávez.
Para DeMint, os EUA ficaram do lado de Venezuela e de
Cuba no tema. Valenzuela rebateu: "Temos uma discordância nesse ponto. O que houve
foi a interrupção da ordem
constitucional. Houve um golpe. Os EUA votaram contra, e
estamos enviando um forte sinal de que isso não é aceitável".
Valenzuela, acadêmico de
origem chilena que trabalhou
no governo Clinton (1993-2001), disse que a região nas últimas décadas "consolidou e
fortaleceu várias de suas democracias" após um longo período
dominado por governos militares. "Por isso o caso de Honduras é tão terrível", disse.
"A volta à normalidade em
Honduras é importante pois as
instituições democráticas ainda são frágeis em alguns dos
países, principalmente nos
marcados por grandes diferenças sociais e econômicas."
Questionado pelos senadores sobre qual seria sua estratégia em relação à América Latina e para casos específicos como e Bolívia, com quem os EUA
mantêm relação turbulenta,
Valenzuela defendeu o fim do
que chamou de "visão maniqueísta".
"Precisamos acabar com essa
visão de que existem mocinhos
e bandidos ["good and bad
guys']. Precisamos entender a
realidade individual de cada
país e olhar para a sua história."
Na audiência no Senado,
além de Valenzuela foram sabatinados os indicados para os
postos de embaixadores de
Brasil (Thomas Shannon), México (Carlos Pascual) e Haiti
(Kenneth Merten). A confirmação dos quatro deve ser
anunciada nos próximos dias.
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