São Paulo, Sexta-feira, 09 de Julho de 1999
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ALIADA DOS EUA
Ao completar dez anos de governo, Menem pede a Clinton que o país seja 'membro associado" da aliança
Argentina pede para entrar na Otan

ANDRÉ SOLIANI
de Buenos Aires

CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial

O presidente argentino, Carlos Menem, quer a inclusão da Argentina na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Ele enviou ontem carta ao presidente dos EUA, Bill Clinton, e ao Conselho da Otan pedindo a entrada de seu país como "membro associado" da aliança militar ocidental.
O secretário do Planejamento, Jorge Castro, explica que a Argentina busca a ampliação da proposta de 1994, que permitiu a países do Leste Europeu integrarem a aliança liderada pelos EUA.
Segundo Castro, o objetivo da proposta é tornar a Otan uma força de segurança cooperativa de alcance global.
"A Argentina quer participar da formulação das novas regras para a manutenção da paz no mundo", disse Castro à Folha.
"Queremos aprofundar nosso compromisso com a paz mundial", completou.
No intuito de participar na coordenação da segurança mundial, a Argentina pretende enviar cerca de 120 soldados para a força de paz em Kosovo, disse Castro. Segundo ele, "a presença argentina tem importância estratégica".
Em 1997, a Argentina obteve dos EUA o status de "aliado extra-Otan", uma recompensa por sua participação em ações militares e de manutenção de paz internacionais.
Segundo o secretário, a extensão da Otan a outros países irá ampliar a força política da organização para evitar conflitos como o de Kosovo. "O mundo precisa trabalhar com o conceito de segurança cooperativa", diz Castro.

Coerência
A intenção de fazer parte da Otan é perfeitamente coerente tanto com a política externa dos dez anos de governo Menem, completados ontem, como com o folclore a que ele é inexoravelmente associado.
Menem, como diz o matutino conservador "La Nación", "alinhou corretamente a Argentina no sistema internacional, afastando qualquer dúvida a respeito de sua adesão à causa das democracias ocidentais e abandonando o comportamento errático ou ambíguo que as administrações anteriores haviam observado".
Mas esse alinhamento automático chegou à beira do ridículo pela pressa do presidente em identificar -e antecipar-se- aos desejos dos EUA. Foi assim, por exemplo, com o envio de navios para a Guerra do Golfo (1991), como se fossem fazer alguma diferença no esforço de guerra da aliança anti-Saddam Hussein.
Da mesma forma, aderir à Otan não muda uma vírgula do potencial militar ocidental. Além disso, a Otan está mais preocupada com a absorção dos antigos países comunistas. E não com países, como a Argentina, que nem pertencem à área banhada pelo Atlântico Norte, que, aliás, dá o nome à organização.
Essas luzes e sombras na área externa repetem-se internamente, em qualquer balanço isento que se faça dos dez anos de Menem. Ninguém ousaria negar que "a Argentina dos dez anos de menemismo é substancialmente diferente da que existia até sua posse para o primeiro mandato, em 8 de julho de 1989", como escreve Carlos Eichelbaum, que cobre Menem para o diário "Clarín" desde antes da primeira posse.
Resta saber se o diferente é para pior ou para melhor. Talvez a melhor resposta esteja no texto de Julio Nudler, do oposicionista "Página 12" de ontem:
"Ao terminar esta década diferente, a Argentina tem os shoppings, os countries (condomínios fechados de luxo), autopistas, serviços mil e obsessões virtuais com as quais só podia sonhar ao iniciá-la. Mas não é um país feliz: não sabe qual é seu papel nesta comédia nem quantos atores ficarão para sempre fora do elenco".


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