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ALIADA DOS EUA
Ao completar dez anos de governo, Menem pede a Clinton que o país seja 'membro associado" da aliança
Argentina pede para entrar na Otan
ANDRÉ SOLIANI
de Buenos Aires
CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial
O presidente argentino, Carlos
Menem, quer a inclusão da Argentina na Otan (Organização do
Tratado do Atlântico Norte). Ele
enviou ontem carta ao presidente
dos EUA, Bill Clinton, e ao Conselho da Otan pedindo a entrada de
seu país como "membro associado" da aliança militar ocidental.
O secretário do Planejamento,
Jorge Castro, explica que a Argentina busca a ampliação da proposta de 1994, que permitiu a países
do Leste Europeu integrarem a
aliança liderada pelos EUA.
Segundo Castro, o objetivo da
proposta é tornar a Otan uma força de segurança cooperativa de alcance global.
"A Argentina quer participar da
formulação das novas regras para
a manutenção da paz no mundo",
disse Castro à Folha.
"Queremos aprofundar nosso
compromisso com a paz mundial", completou.
No intuito de participar na
coordenação da segurança mundial, a Argentina pretende enviar
cerca de 120 soldados para a força
de paz em Kosovo, disse Castro.
Segundo ele, "a presença argentina tem importância estratégica".
Em 1997, a Argentina obteve
dos EUA o status de "aliado extra-Otan", uma recompensa por sua
participação em ações militares e
de manutenção de paz internacionais.
Segundo o secretário, a extensão da Otan a outros países irá
ampliar a força política da organização para evitar conflitos como o
de Kosovo. "O mundo precisa
trabalhar com o conceito de segurança cooperativa", diz Castro.
Coerência
A intenção de fazer parte da
Otan é perfeitamente coerente
tanto com a política externa dos
dez anos de governo Menem,
completados ontem, como com o
folclore a que ele é inexoravelmente associado.
Menem, como diz o matutino
conservador "La Nación", "alinhou corretamente a Argentina
no sistema internacional, afastando qualquer dúvida a respeito de
sua adesão à causa das democracias ocidentais e abandonando o
comportamento errático ou ambíguo que as administrações anteriores haviam observado".
Mas esse alinhamento automático chegou à beira do ridículo pela pressa do presidente em identificar -e antecipar-se- aos desejos dos EUA. Foi assim, por exemplo, com o envio de navios para a
Guerra do Golfo (1991), como se
fossem fazer alguma diferença no
esforço de guerra da aliança anti-Saddam Hussein.
Da mesma forma, aderir à Otan
não muda uma vírgula do potencial militar ocidental. Além disso,
a Otan está mais preocupada com
a absorção dos antigos países comunistas. E não com países, como a Argentina, que nem pertencem à área banhada pelo Atlântico Norte, que, aliás, dá o nome à
organização.
Essas luzes e sombras na área
externa repetem-se internamente, em qualquer balanço isento
que se faça dos dez anos de Menem. Ninguém ousaria negar que
"a Argentina dos dez anos de menemismo é substancialmente diferente da que existia até sua posse para o primeiro mandato, em 8
de julho de 1989", como escreve
Carlos Eichelbaum, que cobre
Menem para o diário "Clarín"
desde antes da primeira posse.
Resta saber se o diferente é para
pior ou para melhor. Talvez a melhor resposta esteja no texto de Julio Nudler, do oposicionista "Página 12" de ontem:
"Ao terminar esta década diferente, a Argentina tem os shoppings, os countries (condomínios
fechados de luxo), autopistas, serviços mil e obsessões virtuais com
as quais só podia sonhar ao iniciá-la. Mas não é um país feliz: não sabe qual é seu papel nesta comédia
nem quantos atores ficarão para
sempre fora do elenco".
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