São Paulo, sábado, 09 de agosto de 2008

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Rússia e Geórgia "estão em guerra", diz Putin

Declaração de premiê russo sucede morte de centenas de pessoas com a tentativa da ex-república soviética de retomar região separatista

Área autônoma georgiana, Ossétia do Sul tem maioria russa, enquanto Tbilisi se alia à Casa Branca; Rice insta Moscou a suspender ataque

DA REDAÇÃO

O premiê russo, Vladimir Putin, declarou que "a guerra já começou" entre seu país e a ex-república soviética da Geórgia. Os dois iniciaram ontem pesados confrontos após a ofensiva georgiana para retomar a região separatista da Ossétia do Sul, respondida com bombardeios, por blindados russos, de bases aéreas dos adversários.
Em uma guerra de versões que permeou os noticiários por todo o dia, o saldo de mortos varia de dezenas, nas estimativas mais conservadoras, a mais de 1.400, segundo os ossetianos.
Moscou e Tbilisi se acusam de responsáveis pelos incidentes, que romperam uma trégua pontuada de escaramuças observada desde 2004, com a eleição na Geórgia do presidente Mikhail Saakashvili, um pró-ocidental empenhado em reunificar seu país. A Rússia apóia a Ossétia do Sul.
Um assessor de Saakashvili disse no início da madrugada que o presidente "nas próximas horas" decretaria a lei marcial, após o ataque, pela Rússia, ao porto de Poti, no mar Negro. "Os russos estão bombardeando nossa infra-estrutura econômica", disse Kakha Lomaia.
Segundo diplomata citado pelo "Financial Times", o estopim foi a explosão de uma bomba sobre um veículo da Geórgia que feriu seis pessoas. Georgianos responderam com disparos que mataram seis da Ossétia do Sul. A seguir forças georgianas invadiram Tskhinvali, a capital da região separatista.
Moscou acusa a Geórgia de ter "praticamente destruído" a capital e nega que ela tenha caído em mãos inimigas. Mas, em Tbilisi, a versão é de que a cidade está sob seu controle.

Herança pós-soviética
A tensão tem como origem a implosão soviética e a independência da Geórgia, que não permitiu o desmembramento de seu território para que a Ossétia do Sul permanecesse na Rússia, junto da Ossétia do Norte, com a qual se identifica cultural e etnicamente.
Após breve conflito armado, uma trégua foi selada em 1992. A Ossétia do Sul, tendo declarado independência, passou a funcionar de forma autônoma.
Na prática, o território sul-ossetiano se tornou um protetorado de Moscou, que supre dois terços de seu Orçamento. Os russos deram à região um presidente e uma nova Constituição, forjando um "Estado" que só eles reconheceram.
O presidente americano, George W. Bush, disse ontem em Pequim, por meio de porta-voz, que "reitera seu apoio à integridade territorial da Geórgia". Mais tarde, sua secretária de Estado, Condoleezza Rice emitiria um duro comunicado: "Instamos a Rússia a cessar os ataques à Geórgia com aeronaves e mísseis, a respeitar a integridade territorial georgiana e a retirar suas forças de combate em campo do solo georgiano".
Os estreitos laços entre Tbilisi e Washington e a perspectiva de a Geórgia entrar para a Otan, bloco militar ocidental, irritam Moscou. O presidente russo, Dmitri Medvedev, disse ontem que seu governo protegeria todos os seus cidadãos. Dois terços dos sul-ossetianos têm nacionalidade russa.

"Corpos espalhados"
Em Tskhinvali, há "muitos corpos espalhados pelas ruas, disse Lyudmila Ostayeva, 50. A Cruz Vermelha afirmou à BBC que os hospitais da capital ossetiana não conseguiam lidar com tantos mortos e feridos.
A Geórgia decretou cessar-fogo a partir das 15h locais. Mas uma coluna de blindados russos que atravessara a fronteira pela manhã chegaria a Tskhinvali à noite, com a possibilidade de retomada dos confrontos.
O governo georgiano anunciou que repatriaria a metade de seu contingente de 2.000 homens estacionado no Iraque para reforçar a defesa do país.
Os russos negam que quatro aviões seus tenham sido abatidos. A Geórgia acusa a Rússia de bombardear aldeias ossetianas. E a Rússia diz ter recebido 140 ônibus com refugiados dos bombardeiros inimigos.

NA FOLHA ONLINE -
www.folha.com.br/082212
especial sobre a Ossétia do Sul


Com agências internacionais



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