São Paulo, domingo, 09 de agosto de 2009

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Brasil promove diálogo entre Chávez e EUA

Contatos, sob discussão, visam desarmar tensão criada pelo incremento do uso de bases na Colômbia por americanos

Governo Lula deu início a intermediação junto ao líder venezuelano e a Jim Jones, assessor da Casa Branca que esteve em Brasília há 4 dias


Sergio Lima/Folha Imagem
Líderes do Equador, Argentina, Bolívia, Brasil, Chile e Colômbia na criação da Unasul em 2008; Uribe não irá a encontro de amanhã

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

O governo brasileiro está servindo de intermediário para um contato direto entre o presidente venezuelano Hugo Chávez e autoridades americanas, na tentativa de desarmar a crise surgida em decorrência do novo acordo entre a Colômbia e os Estados Unidos para o uso de bases colombianas por militares americanos.
O acordo levou Chávez a congelar as relações com a Colômbia pela quinta vez em seus dez anos de governo. O Brasil entrou como bombeiro, durante a visita que Marco Aurélio Garcia, o assessor diplomático do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fez a Chávez na última segunda-feira.
Marco Aurélio encontrou Chávez "muito incomodado" com a situação. Na verdade, deu a impressão de estar menos incomodado com as bases e mais com o que considera retórica agressiva contra a Venezuela por parte de autoridades colombianas e americanas.
Foi a brecha para que Marco Aurélio sugerisse um contato direto com Washington. Chávez resmungou, resmungou, disse que ele não tomaria a iniciativa, mas que, se o Brasil tomasse, ele aceitaria.
Marco Aurélio transmitiu a proposta a Jim Jones, o assessor de Segurança Nacional do presidente Barack Obama, com quem o brasileiro tem mantido contatos frequentes e bastante francos.
Jones limitou-se a dizer que achava "muito interessante" a proposta, mas deixou claro que precisava, antes de aceitá-la, conversar com seus superiores hierárquicos na Casa Branca e no Departamento de Estado.

Queixas
As conversas de Jim Jones com autoridades brasileiras (além de Marco Aurélio, ele esteve também com os ministros Celso Amorim, das Relações Exteriores, e Nelson Jobim, da Defesa) serviram para que os brasileiros se queixassem, em primeiro lugar, da maneira como fora conduzida a informação sobre o novo acordo com a Colômbia.
Mas serviram também para expor um ponto de vista que foi muito pouco explorado no noticiário após os encontros: a grande preocupação do Brasil é com a Amazônia, "uma questão delicada para o Brasil, ainda mais ante as frequentes conversas sobre a internacionalização da floresta", como disse Marco Aurélio Garcia.
A Amazônia se estende também pelo território colombiano e, portanto, fica diretamente ao alcance das bases que militares americanos utilizarão.
Numa evidência adicional de quanto o Brasil busca preservar o bom relacionamento com os Estados Unidos, especialmente agora com Obama na Presidência, Marco Aurélio fez questão de dizer que não dá para pensar apenas em termos dos atuais governos, em Washington e Bogotá, mas dos futuros, que poderiam ter planos mais agressivos.
Jones aceitou que houvera um falha de comunicação. Ainda assim, defendeu o acordo com toda a firmeza.
No dia seguinte (a última quinta-feira), foi a vez de ouvir de Álvaro Uribe, o presidente colombiano, o mesmo ressentimento, em relação tanto a Chávez como ao equatoriano Rafael Correa, que Chávez transmitira dias antes ao enviado especial de Lula.
Resposta do lado brasileiro: "Não estamos aqui como advogados de Correa ou de Chávez, mas você precisa entender que foi criada, para o Brasil, uma situação muito ruim".
Como já foi informado, Uribe não atendeu ao apelo de Lula para comparecer à reunião da Unasul (União de Nações Sul-Americanas), marcada para amanhã em Quito.
O governo brasileiro entendeu. "É complicado comparecer a uma reunião na capital de um país com o qual a Colômbia não mantém relações diplomáticas", diz Marco Aurélio.
O Equador rompeu relações com a Colômbia depois que foi bombardeada em território equatoriano uma base das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
Consequência da recusa de Uribe: a reunião da Unasul ficou bastante esvaziada, pelo menos se vingar o sentimento do governo brasileiro, eterno bombeiro em todas as questões regionais. Serviria apenas para a transmissão formal da presidência de turno do Chile para o Equador.
Como fica, então, a crise das bases? No que depender do governo brasileiro, é esperar baixar a poeira para depois retomar iniciativas bilaterais e/ou multilaterais em busca de acordos. A primeira conversa bilateral com um dos atores da crise, o venezuelano Chávez, só se dará no fim do mês (no próximo dia 28, exatamente), o que indica que há um excesso de poeira no ar e, por extensão, se necessita um certo tempo para que ela assente.


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