São Paulo, terça-feira, 09 de agosto de 2011

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ANÁLISE

Bancos ainda preocupam e ações têm fortes perdas nos EUA

VINICIUS TORRES FREIRE
COLUNISTA DA FOLHA

No massacre das ações, alguns dos corpos mais arrebentados e visíveis na Bolsa de Nova York eram os papéis de grandes bancos dos EUA.
A ação do Bank of America caiu mais de 20%. A do Citigroup, quase 16%. JP Morgan: 9,4%. Morgan Stanley: 14%. Wells Fargo, quase 9%.
São tombos maiores que os dos índices Dow Jones (de 30 grandes firmas, que recuou 5,55%) e S&P 500 (500 empresas), que caiu 6,6%.
Por que os bancos voltaram à lista das vítimas preferenciais da razia, um tanto como em 2008? Note-se, além do mais, que a derrocada dessas ações não é de agora. As do Bank of America caíram quase 50% neste ano; as do Citi, quase 40%.
Nos EUA não falta liquidez (dinheiro), pelo contrário. Nem as taxas de juros e as condições dos empréstimos interbancários estão piorando, como na Europa. A volatilidade do custo de financiamento de curtíssimo prazo (um dia) cresceu, mas as taxas de juros estão mais ou menos comportadas.
De mais óbvio, nos fatores negativos, o desempenho dos bancos não deve melhorar com a perspectiva de crescimento econômico ainda mais lento e, talvez, de recessão.
Gente do mercado americano dizia ontem o seguinte, a respeito da liquidação dos papéis de bancos:
1) Muitos bancos americanos não teriam recomposto seu capital (ativos menos passivos, base para a multiplicação de empréstimos);
2) Ainda há muito papel podre nos bancos, e fora dos balanços; muita coisa não está registrada pelo valor de mercado. Os bancos ainda vão ter perdas com papéis lastreados em hipotecas;
3) O Bank of America ainda pode perder muito em processos de clientes que investiram em papéis imobiliários (ontem, a seguradora AIG, quebrada em 2008 por causa de investimentos em hipotecas, anunciou que processará o banco por "fraude" em US$ 10 bilhões);
4) Se os bancos tiverem de levantar mais capital, em um período de baixa dramática do preço das ações, seus papéis ficarão menos rentáveis.
Em tempo: o que isso teria a ver com o rebaixamento da nota do governo dos EUA?
Diretamente, nada. A nota degradada deve ter impacto na confiança econômica, o que deve minar mais o crescimento, este o fator talvez mais importante e menos irracional da grande liquidação de ontem nas Bolsas. Por fim, xepa de ação de banco jamais acaba em boa coisa.


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