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São Paulo, terça-feira, 09 de setembro de 2003

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Troca de premiê não muda nada, diz analista

Ammar Awad/Reuters
O premiê palestino apontado, Ahmed Korei, deixa o QG de Arafat em Ramallah, na Cisjordânia


JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

A substituição de Mahmoud Abbas (mais conhecido como Abu Mazen) por Ahmed Korei no cargo de premiê palestino não levará ao fim do atual impasse entre israelenses e palestinos, diz Jon B. Alterman, diretor do programa de Oriente Médio do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), baseado em Washington. Ele também não crê que o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Iasser Arafat, esteja fortalecido com a queda de Mazen, com quem travava uma dura disputa de poder.
Ex-analista do Departamento de Estado e ex-professor de Harvard, autor de cinco livros sobre a região, Alterman diz acreditar que as duas partes não farão no curto prazo concessões e que o máximo que os Estados Unidos poderão fazer será manter aberta a porta das negociações.
Leia a seguir os principais trechos de sua entrevista à Folha, concedida por telefone.
 

Folha - Iasser Arafat teria dado uma demonstração de força com a queda de Mazen?
Jon Alterman -
Não foi o caso. Arafat confiava em Mazen, que por sua vez se levou muito a sério e acreditou que o poder estava nas mãos do primeiro-ministro. Os Estados Unidos também acreditavam que ele sobreviveria e que o Parlamento palestino manteria em banho-maria o voto de confiança.

Folha - O perfil de Korei seria mais apropriado para o cargo?
Alterman -
É um homem hábil, que tem conseguido administrar o Parlamento. Mas continua sem resposta à demanda de Israel e dos Estados Unidos. A saber: afastar política e fisicamente Iasser Arafat da liderança palestina.

Folha - Arafat é hábil?
Alterman -
Arafat possui um sentido muito refinado de tática. Mas não entende absolutamente nada de estratégia.

Folha - O sr. não apostaria na longevidade de sua liderança?
Alterman -
Eu apostaria que Arafat é até capaz de sair do buraco. Mas que ele permanecerá incapaz de formular uma idéia brilhante sobre os passos a serem dados em seguida.

Folha - Korei seria um dirigente com a mesma miopia estratégica de Arafat?
Alterman -
O problema não está tanto nas idéias que ele possa ter, mas na impossibilidade de poder, por meio dessas idéias, tirar Arafat do imobilismo.

Folha - Concretamente, eles conseguiriam conter o terrorismo, como exigem Israel e EUA?
Alterman -
Os israelenses estão convencidos de que os palestinos querem destruí-los, e os palestinos pensam o mesmo dos israelenses. Ambos estão convictos de que o maior erro que poderiam agora cometer seria o de fazer concessões. No curto prazo, nada de importante acontecerá.

Folha - Que passos os EUA poderiam ou deveriam dar?
Alterman -
Creio que o governo americano tentará impulsionar iniciativas menores, que consistirão em sublinhar que a saída da crise atual é política.

Folha - Israel é um Estado, com uma estrutura consistente de poder. Mas entre os palestinos o poder está fragmentado. Como acabar com o terrorismo?
Alterman -
A Autoridade Nacional Palestina pode fazer cessar o terrorismo. Mas isso seria uma concessão dentro de um jogo do qual as concessões estão por enquanto excluídas.


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