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Moscou confirma exercícios com Venezuela
Rússia diz que ação, que incluirá navio de propulsão nuclear, foi acertada antes de conflito no Cáucaso
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Em meio à mais grave crise
diplomática com os EUA desde
o fim da Guerra Fria, a Rússia
confirmou ontem que enviará
navios militares ao Caribe para
participar de exercícios com a
Venezuela. A frota, que deve
chegar até o final do ano, inclui
o cruzador de propulsão nuclear "Pedro, o Grande", capaz
de levar ogivas atômicas.
Moscou enviará ainda aviões
equipados para detectar e atacar submarinos, segundo informou Andrei Nesterenko, porta-voz da Chancelaria russa.
Nesterenko negou que os
exercícios com a Venezuela sejam uma reação ao envio, na semana passada, do navio americano USS Mount Whitney à
Geórgia, sob o pretexto de ajuda humanitária. "Esta é uma
operação planejada, e não está
de nenhuma forma conectada a
eventos políticos atuais nem à
situação no Cáucaso."
O exercício militar incluirá
"manobras coordenadas, operações de busca e resgate e comunicações. De forma alguma
estará dirigido contra os interesses de um terceiro país", disse Igor Digalo, porta-voz da
Marinha russa, à agência de notícias russa Novosti. Segundo
ele, a operação foi decidida em
julho pelos presidentes Hugo
Chávez e Dmitri Medvedev.
Na sexta-feira, a Marinha venezuelana anunciou pela primeira vez os exercícios militares, que seriam realizados entre 10 e 14 de novembro. Mas
anteontem Chávez disse que os
dois países ainda estão em "fase
de preparação" e que os navios
russos chegariam "em novembro ou dezembro".
Ontem, o Pentágono afirmou
que o primeiro exercício russo-venezuelano não preocupa.
"Nós fazemos exercícios em todo o globo e temos manobras
conjuntas com países de todo o
mundo, e assim fazem muitas
outras nações", disse o porta-voz Bryan Whitman.
Quarta Frota
Principal adversário dos
EUA na América do Sul, Chávez tem criticado duramente a
reativação, em julho, da Quarta
Frota naval para atuar na América Latina, mais de 50 anos depois de ter deixado de existir. Já
as relações entre Moscou e
Washington atravessam grave
crise desde devido ao conflito
militar entre Rússia e Geórgia.
Chávez expressou apoio no
conflito à Rússia, de quem já
comprou US$ 4,5 bilhões em
armamentos.
Em entrevista à agência de
notícias russa Interfax, o ex-comandante da frota russa no
mar Negro, Eduar Baltin, disse
que a operação militar com a
Venezuela é um sinal de que "a
Rússia está voltando à cena
com o seu poder e suas relações
internacionais que, desgraçadamente, perdeu no final do século passado".
A agência privada de inteligência Stratfor, baseada no Texas, vislumbra um cenário que
lembra a Guerra Fria, "onde
uma força externa tem forças
militares no Ocidente -talvez
militarmente insignificante,
mas o suficiente para representar uma mudança geopolítica
tectônica".
Para o analista militar José
Machillanda, Chávez está fazendo um desafio "quase infantil" aos EUA, trazendo um cenário bélico para a América Latina, uma região pacífica.
"É um exercício inviável porque as condições militares de
adestramento, treinamento e
de operação da Venezuela são
de muito baixo nível. Isso demonstrou o presidente Chávez
em março, quando ele mobilizou dez batalhões à fronteira
com a Colômbia", disse o professor da Universidade Central
da Venezuela (UCV), em alusão
ao fato de que as tropas nunca
chegaram ao destino.
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