São Paulo, terça-feira, 09 de setembro de 2008

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Moscou confirma exercícios com Venezuela

Rússia diz que ação, que incluirá navio de propulsão nuclear, foi acertada antes de conflito no Cáucaso

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Em meio à mais grave crise diplomática com os EUA desde o fim da Guerra Fria, a Rússia confirmou ontem que enviará navios militares ao Caribe para participar de exercícios com a Venezuela. A frota, que deve chegar até o final do ano, inclui o cruzador de propulsão nuclear "Pedro, o Grande", capaz de levar ogivas atômicas.
Moscou enviará ainda aviões equipados para detectar e atacar submarinos, segundo informou Andrei Nesterenko, porta-voz da Chancelaria russa.
Nesterenko negou que os exercícios com a Venezuela sejam uma reação ao envio, na semana passada, do navio americano USS Mount Whitney à Geórgia, sob o pretexto de ajuda humanitária. "Esta é uma operação planejada, e não está de nenhuma forma conectada a eventos políticos atuais nem à situação no Cáucaso."
O exercício militar incluirá "manobras coordenadas, operações de busca e resgate e comunicações. De forma alguma estará dirigido contra os interesses de um terceiro país", disse Igor Digalo, porta-voz da Marinha russa, à agência de notícias russa Novosti. Segundo ele, a operação foi decidida em julho pelos presidentes Hugo Chávez e Dmitri Medvedev.
Na sexta-feira, a Marinha venezuelana anunciou pela primeira vez os exercícios militares, que seriam realizados entre 10 e 14 de novembro. Mas anteontem Chávez disse que os dois países ainda estão em "fase de preparação" e que os navios russos chegariam "em novembro ou dezembro".
Ontem, o Pentágono afirmou que o primeiro exercício russo-venezuelano não preocupa. "Nós fazemos exercícios em todo o globo e temos manobras conjuntas com países de todo o mundo, e assim fazem muitas outras nações", disse o porta-voz Bryan Whitman.

Quarta Frota
Principal adversário dos EUA na América do Sul, Chávez tem criticado duramente a reativação, em julho, da Quarta Frota naval para atuar na América Latina, mais de 50 anos depois de ter deixado de existir. Já as relações entre Moscou e Washington atravessam grave crise desde devido ao conflito militar entre Rússia e Geórgia.
Chávez expressou apoio no conflito à Rússia, de quem já comprou US$ 4,5 bilhões em armamentos.
Em entrevista à agência de notícias russa Interfax, o ex-comandante da frota russa no mar Negro, Eduar Baltin, disse que a operação militar com a Venezuela é um sinal de que "a Rússia está voltando à cena com o seu poder e suas relações internacionais que, desgraçadamente, perdeu no final do século passado".
A agência privada de inteligência Stratfor, baseada no Texas, vislumbra um cenário que lembra a Guerra Fria, "onde uma força externa tem forças militares no Ocidente -talvez militarmente insignificante, mas o suficiente para representar uma mudança geopolítica tectônica".
Para o analista militar José Machillanda, Chávez está fazendo um desafio "quase infantil" aos EUA, trazendo um cenário bélico para a América Latina, uma região pacífica.
"É um exercício inviável porque as condições militares de adestramento, treinamento e de operação da Venezuela são de muito baixo nível. Isso demonstrou o presidente Chávez em março, quando ele mobilizou dez batalhões à fronteira com a Colômbia", disse o professor da Universidade Central da Venezuela (UCV), em alusão ao fato de que as tropas nunca chegaram ao destino.


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