São Paulo, quinta-feira, 09 de outubro de 2008

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Rússia propõe bloco que neutralize EUA

Presidente Medvedev critica Washington e prega tratado militar centrado na Europa e avesso à lógica da Guerra Fria

Americanos não comentam, mas presidente Sarkozy diz que idéia só iria adiante caso Washington a apoiasse e se tornasse um participante


DA REDAÇÃO

O presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, lançou ontem a idéia de um tratado internacional de segurança, "baseado no princípio da inadmissibilidade do uso da ameaça e da força". Também criticou duramente os Estados Unidos, em razão da "determinação de reforçar sua dominação global".
Ele discursou na cidade francesa de Evian e criticou a "mentalidade da Guerra Fria" que, a seu ver, ainda predomina no governo americano.
Nicolas Sarkozy, o presidente francês, disse acreditar na consistência de um novo tratado, mas afirmou que ele não poderia ser implantado sem o acordo explícito e a participação dos Estados Unidos.
A seu ver, a idéia de Medvedev precisaria conviver com as duas estruturas de defesa existentes -a Otan, aliança militar ocidental, e a OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa)- e convidou a Rússia a participar das forças de paz que a União Européia mantém no Chade.
A proposta de Medvedev retoma um projeto apresentado no ano passado, em Munique, por seu predecessor, Vladimir Putin. Ele se referiu a um tratado de defesa que englobaria de Vancouver, no oeste canadense, a Vladivostok, cidade russa no litoral do Pacífico.

Predominância dos EUA
"Nenhum Estado e nenhuma única organização internacional possui os direitos exclusivos de manter a paz e a estabilidade na Europa", afirmou ontem o presidente russo. Disse que o tratado proposto não substituirá organismos já existentes. Mas deu claramente a entender que seu propósito é neutralizar o oligopólio militar dos Estados Unidos.
Analistas acreditam que dificilmente Washington concordaria em diluir sua autoridade numa nova aliança com a Rússia, país com o qual tem hoje relações turbulenta, em razão do conflito de agosto na Geórgia.
Medvedev disse que o governo norte-americano perdeu a oportunidade proporcionada pelo 11 de Setembro de construir relações internacionais harmônicas e baseadas na democracia. Criticou o unilateralismo da invasão do Iraque e ainda o projeto do Pentágono de construir na Polônia e na República Tcheca um escudo antimísseis.
Disse ainda que a Otan foi ampliada de modo a incomodar seu país. Dos atuais 26 membros da aliança, vieram da antiga esfera de influência soviética a Bulgária, a República Tcheca, as três Repúblicas bálticas (Estônia, Letônia e Lituânia), a Hungria, a Polônia, a Romênia, a Eslováquia e a Eslovênia. A Otan também trabalha com a possibilidade de adesão da Ucrânia e da Geórgia, o que leva o Kremlin a se sentir cercado.

Retirada da Geórgia
Os últimos soldados russos estacionados na Geórgia recuaram ontem para os territórios separatistas da Ossétia do Sul e da Abkházia, confirmou o Ministério do Interior georgiano.
O general russo Marat Kulakhmetov também disse que a retirada havia sido completada. O presidente russo, Dmitri Medvedev, afirmara horas antes, na França, que seus militares cumpririam a promessa de se retirar até a meia-noite, dois dias antes do prazo fixado pelo plano negociado, em nome da União Européia, pelo presidente francês, Nicolas Sarkozy.
Soldados russos permanecem na cidade de Akhalgori, junto à Ossétia do Sul, e em Kodori Gorge, junto à Abkházia. As duas cidades, argumenta Moscou, pertencem aos dois territórios autonomistas, o que é contestado pela Geórgia.


Com agências internacionais


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