São Paulo, sábado, 09 de outubro de 2010

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Nobel da Paz causa reação da China

País protesta contra o prêmio concedido a Liu Xiaobo, ativista pró-democracia condenado a 11 anos de prisão

Para comitê norueguês, premiado "se tornou o principal símbolo da ampla luta por direitos humanos na China"

Kin Cheug/Associated Press
Manifestantes pedem a libertação do novo Prêmio Nobel da Paz, o ativista Liu Xiaobo, diante de escritório do governo chinês em Hong Kong, ontem

FABIANO MAISONNAVE
EM MANILA (FILIPINAS)

O ativista chinês pró-democracia Liu Xiaobo, 54, sobrevivente do massacre da praça da Paz Celestial e condenado recentemente a 11 anos de prisão, foi nomeado ontem Prêmio Nobel da Paz. Pequim rebateu: criticou duramente a escolha, censurou a notícia no país e ameaçou a Noruega com retaliações.
Liu Xiaobo (pronuncia-se "Xiaobô") recebeu o prêmio por "sua luta longa e não violenta em favor dos direitos humanos fundamentais na China", afirmou o Comitê Nobel Norueguês, indicado pelo Parlamento desse país.
Para o comitê, os recentes avanços econômicos transformaram a China na segunda economia mundial e "tiraram milhares de pessoas da pobreza", mas esse novo status do país "deve incluir maior responsabilidade".
Professor de literatura, Liu foi preso em dezembro de 2008, dias antes da divulgação da Carta 08, assinada por 303 ativistas que defendiam reformas democráticas, incluindo o fim do monopólio do Partido Comunista.
Em dezembro do ano passado, foi condenado a 11 anos de prisão por "atuar para subverter o governo", a pena mais alta aplicada a um dissidente nos últimos anos.
O comitê afirmou que, ao receber punição tão severa, "Liu se tornou o principal símbolo da ampla luta por direitos humanos na China".
Não é a primeira vez que o Nobel da Paz vai para um opositor do regime comunista chinês. Em 1989, ano do massacre da praça da Paz Celestial, o nomeado foi o líder tibetano no exílio, dalai-lama, que ontem exortou Pequim a soltar o dissidente.
Liu é o terceiro Nobel da Paz nomeado enquanto cumpre pena dada por seu próprio governo. Foi precedido da líder oposicionista de Mianmar Aung San Suu Kyi (1991) e pelo ativista alemão Carl von Ossietzky (1935).
Preso a cerca de 500 km de Pequim, ele deve ser informado da premiação hoje, numa visita da mulher. Liu tem direito a R$ 2,5 milhões, a um diploma e a uma medalha.
Como esperado, o governo chinês reagiu com dureza ao anúncio. "Conceder o Nobel da Paz maculou o prêmio e pode afetar os laços entre China e Noruega", disse o porta-voz da Chancelaria chinesa Ma Zhaoxu, em nota.
Ma afirmou que o Nobel da Paz deveria ser concedido a pessoas que "contribuem para a harmonia nacional, para a amizade entre países, para o avanço do desarmamento e para a convocação de conferências de paz", repetindo as diretrizes de Alfred Nobel.
Logo após a anúncio do prêmio, o embaixador da Noruega em Pequim foi convocado pela Chancelaria chinesa para dar explicações.
Em junho, quando o ativista chinês já despontava como favorito ao prêmio, a vice-chanceler chinesa Fu Jing pediu um encontro com o diretor do Instituto Nobel, Geir Lundestad, para lhe advertir de que a nomeação seria considerada "uma ação hostil".
Agraciado com o Nobel da Paz em 2009, o presidente norte-americano, Barack Obama, em nota, elogiou a nomeação de Liu Xiaobo e exortou Pequim a libertá-lo "o mais rápido possível".
Como o comitê do Nobel, Obama elogiou o progresso socioeconômico chinês, mas disse que "não ocorreram as reformas políticas".


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