São Paulo, sábado, 09 de novembro de 2002

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IRAQUE NA MIRA

Conselho de Segurança da ONU aprova resolução que exige desarmamento; França e Rússia esperam evitar guerra

EUA obtêm unanimidade contra Saddam

DA REDAÇÃO

O Conselho de Segurança (CS) da ONU aprovou unanimemente ontem uma nova resolução sobre o Iraque para forçar o ditador iraquiano Saddam Hussein a desarmar seu país ou enfrentar "sérias consequências", o que quase certamente significa uma guerra.
O presidente dos EUA, George W. Bush, voltou a ameaçar Saddam, dizendo que ele enfrentará "as mais severas consequências" se não eliminar todos os programas de armas químicas, biológicas e nucleares do Iraque.
"O resultado da crise atual já está determinado. O desarmamento integral das armas de destruição em massa vai ocorrer. A única questão para o regime iraquiano é decidir como", disse Bush. "Sua cooperação deve ser imediata e incondicional, ou ele enfrentará as mais severas consequências."
A votação da resolução 1441 ocorreu após oito semanas de negociações difíceis e foi vista como uma vitória para os EUA, que a propuseram com o Reino Unido.
Saddam tem até o dia 15 para aceitar cumprir a resolução.
O chefe dos inspetores de armas da ONU, Hans Blix, disse que uma equipe de técnicos chegará a Bagdá no dia 18 após quatro anos de ausência. A retomada das inspeções deve ocorrer em até 45 dias, e a apresentação de um relatório ao CS pelos inspetores, em até 60 dias a partir de então.
A Rússia, que exigiu a reformulação do texto anterior, disse estar satisfeita com o fato de que a ameaça de guerra foi retirada.
"O mais importante é que a resolução põe de lado a ameaça direta de guerra" e abre caminho para "um acordo diplomático", afirmou o embaixador da Rússia na ONU, Serguei Lavrov. Logo antes da votação, o vice-chanceler russo, Yuri Fedotov, dissera que a resolução ainda não era ideal.
A França, que também se opunha ao texto anterior da resolução, afirmou estar satisfeita pelo fato de o CS ter dado a Saddam uma chance de se desarmar. "[A resolução] oferece ao Iraque uma chance de se desarmar em paz", disse o presidente francês, Jacques Chirac. "A mensagem da comunidade internacional é clara: ela se uniu para dizer ao Iraque que chegou a hora de cooperar plenamente com a ONU."
Após a votação, o embaixador dos EUA na ONU, John Negroponte, afirmou: "Essa resolução foi feita para testar as intenções do Iraque". Ele disse que não havia "nenhum gatilho oculto" na resolução, ou seja, que permita o uso automático da força contra o Iraque se o país não cooperar. Ele enfatizou que, se os inspetores relatarem violações por parte do Iraque, a questão volta para o CS e que, apenas se o CS decidir não agir, os EUA o farão.
Apesar de os EUA terem feito diversas concessões aos críticos de sua proposta original de resolução, o texto final mantém as principais exigências do governo Bush: endurecer o regime de inspeções e deixar os EUA livres para realizarem ações militares contra o Iraque caso os inspetores digam que Bagdá não está cooperando.
Por insistência da França e da Rússia, o CS deve se reunir para discutir quaisquer violações relatadas e considerar a possibilidade de tomar medidas adicionais. Mas a resolução não diz nada que proíba os EUA de atacarem então.
A unanimidade do CS foi uma surpresa -a Síria havia se oposto ao texto inicialmente, e a Rússia não afirmou até o último momento se votaria a favor ou se absteria.
O vice-embaixador da Síria na ONU, Faysall Mekdad, afirmou que seu país votou com um "sim" após ser assegurado de que "essa resolução não seria usada como pretexto para atacar o Iraque".
A Alemanha, que se opõe firmemente a ações militares unilaterais dos EUA, declarou que o ditador iraquiano agora não pode mais ter dúvidas sobre o futuro de seus programas de armas.
"A resolução é um sinal claro para Bagdá: Saddam precisa entender quais são as sérias consequências que o não cumprimento da resolução implicaria", disse o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Joschka Fischer.
O premiê britânico, Tony Blair, advertiu Saddam de que ele enfrentará ações militares se não cumprir as exigências do CS.
"Desafie a ONU, e nós o desarmaremos à força", afirmou Blair. "Não tenha nenhuma dúvida quanto a isso." Mas o premiê disse que a resolução não necessariamente levaria a uma guerra. "Um conflito não é inevitável, mas o desarmamento é."
O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, afirmou que Bagdá deveria cooperar com o CS para proteger o povo iraquiano.
"O Iraque tem uma nova oportunidade. Eu exorto a liderança iraquiana a aproveitá-la e, assim, começar a dar fim ao isolamento e sofrimento do povo iraquiano."
A Liga Árabe, que tem uma reunião de seus chanceleres marcada para hoje no Egito, não deve se opor à resolução. "Sempre respeitamos as resoluções do CS. Muitos países árabes já indicaram que, uma vez que o CS a aprovasse, a resolução seria respeitada", disse Hisham Youssef, porta-voz da Liga Árabe.
Israel expressou seu apoio à resolução e elogiou Bush.
Segundo o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel, Ron Prosor, o chanceler israelense, Benjamin Netanyahu disse que "Israel apóia a resolução do CS sobre o Iraque e valoriza a determinação do presidente Bush em liderar o processo".


Com agências internacionais


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