|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Ação é descentralizada e sem líderes claros
DO ENVIADO A PARIS
A revolta que assusta a França
tem códigos de articulação próprios de um conflito cuja marcas
mais intrigantes são a descentralização do poder rebelde e a total
ausência de líderes.
Em dois dias de conversas com
jovens de três cidades da periferia
de Paris, a Folha confirmou algo
de que a polícia e o governo já haviam se queixado: os incendiários
franceses são senhores de seus
atos, não seguem nenhuma entidade nem nenhum guia.
Um adolescente de origem tunisiana de Clichy-sous-Bois, primeira localidade a explodir, relatou sua lógica, que dificulta o trabalho da polícia de identificar os
autores das ações.
"Somos solidários uns aos outros. Quando decidimos fazer alguma coisa", explica, "sempre fazemos todos juntos. Assim é bem
mais fácil, porque, quando todo
mundo faz, ninguém faz. Não há
um só culpado."
No grupo à sua volta, diante da
pergunta sobre qual o inspirador
da revolta, ninguém fala nada.
"Não tem modelo, não tem ninguém em que a gente se espelhe."
Nesse contexto, a organização
depende de improviso, criatividade e tecnologia. A maioria dos encontros se dá à base do boca-a-boca, em encontros que são marcados nos pátios das "cités", os
conjuntos habitacionais que são o
nascedouro dos distúrbios.
Mensagens de texto por telefones celulares também têm sido
usadas à exaustão. Ontem, a polícia anunciou ter identificado vários blogs em que jovens combinavam reuniões para organizar
arruaças e incitavam a violência.
Há ainda as rádios piratas.
Quem conta é a alemã Ann Kathrin Goebel, que trabalha como recepcionista em Paris.
"Anteontem eu voltava para casa [num subúrbio ao norte da capital] e, sintonizando o rádio, topei com uma emissora clandestina, que convocava os jovens a
comprarem armas e combaterem
a polícia", relatou à Folha.
(FV)
Texto Anterior: França decreta emergência contra rebeldes Próximo Texto: Saiba mais: Lei francesa de 55 regula estado de emergência Índice
|