|
Próximo Texto | Índice
Não!
Americanos usam voto para protestar contra Bush e dão à oposição democrata controle do Congresso
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Depois de seis anos de George W. Bush no poder, os norte-americanos recorreram ao voto
de protesto para recolocar o
sistema político do país nos eixos e mandar um recado ao
presidente republicano de que
a avaliação que fazem de seu
mandato hoje é negativa. Assim, a vitória dos democratas
em pelo menos uma das Casas
do Congresso foi mais a derrota
dos republicanos do que a opção pela oposição.
"A principal história das eleições de meio de mandato de
2006 é que os eleitores foram
motivados por sua oposição à
Guerra do Iraque", escreveu
Charlie Cook, do "Cook Report", um dos mais importantes relatórios políticos de Washington. "Este não foi um voto
para os democratas tanto quanto foi um voto contra o presidente Bush e a guerra."
Ou, como definiu candidamente o ex-líder republicano
na Câmara, Tom DeLay, ele
próprio afastado do cargo em
meio a denúncias de corrupção:
"Nós tomamos uma surra ontem (terça) à noite. Não foram
os democratas que venceram.
Os republicanos é que fomos
derrotados".
Ambos têm razão. A partir
das motivações apontadas pelos eleitores nas pesquisas de
boca-de-urna feita ao longo da
terça-feira, duas foram as constatações: os temas nacionais
importaram mais que os locais
e os assuntos ligados ao governo de George W. Bush e seu
partido forneceram os maiores
índices de rejeição.
Sete em cada dez eleitores
mencionaram a corrupção e os
escândalos no governo como
fatores que os levaram às urnas; seis em cada dez disseram
que a Guerra do Iraque foi tema
decisivo na escolha, mesma
proporção que avaliou Bush
negativamente. Os levantamentos foram feitos pelo Instituto Gallup a pedido de um
consórcio de emissoras.
O presidente ouviu a voz das
urnas. Horas depois de o controle da Câmara ter sido assegurado pelos democratas e
quando a luta pelo Senado continuava, Bush veio a público dizer que Donald Rumsfeld, seu
secretário de Defesa, o arquiteto da Guerra do Iraque e um
dos responsáveis por seu fracasso, estava fora do governo.
"Eu estou obviamente desapontado com o resultado das
eleições e, como chefe do Partido Republicano, divido grande
parte da responsabilidade",
disse ele em entrevista coletiva
na tarde de ontem, na Casa
Branca. Depois, diria: "Eu reconheço que muitos americanos
votaram na noite passada para
registrar seu descontentamento com a falta de progresso (no
Iraque)".
Com ele concordaria Nancy
Pelosi, a democrata que deve
virar a primeira mulher presidente da Câmara. "Em nenhum
lugar o desejo do povo americano por uma nova direção foi
mais claro do que na Guerra do
Iraque. "Manter o curso" é algo
que não está funcionando", disse, referindo-se ao lema que
Bush abandonou dias atrás.
Ambos os lados terão de agir
com cautela nos próximos meses. Os dois partidos sabem
que, diferentemente do que
aconteceu nas eleições legislativas de 1994, quando os republicanos venceram com margem maior do que a dos democratas anteontem, e nas eleições presidenciais de 2004,
quando os "valores morais" e a
guerra ao terror deram a vitória
a Bush, não há uma "revolução"
evidente em marcha agora.
Ainda assim, o voto de protesto beneficiou a oposição,
que ganhou vagas dos republicanos no Senado em Ohio, Pensilvânia, Rhode Island e Missouri, pelo menos 30 cadeiras
na Câmara e a maioria dos governos estaduais. No Senado, a
batalha pelo Estado da Virgínia
continuava, depois de projeções das TVs darem a vitória
aos democratas em Montana. A
oposição precisa de ambas as
vagas para garantir a maioria
também nessa Casa. Na Virgínia, a disputa apertada pode
render uma recontagem dos
votos que pode levar semanas.
Próximo Texto: Os pontos que levaram à derrota de Bush Índice
|