São Paulo, quinta-feira, 09 de novembro de 2006

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Não!

Americanos usam voto para protestar contra Bush e dão à oposição democrata controle do Congresso

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Depois de seis anos de George W. Bush no poder, os norte-americanos recorreram ao voto de protesto para recolocar o sistema político do país nos eixos e mandar um recado ao presidente republicano de que a avaliação que fazem de seu mandato hoje é negativa. Assim, a vitória dos democratas em pelo menos uma das Casas do Congresso foi mais a derrota dos republicanos do que a opção pela oposição.
"A principal história das eleições de meio de mandato de 2006 é que os eleitores foram motivados por sua oposição à Guerra do Iraque", escreveu Charlie Cook, do "Cook Report", um dos mais importantes relatórios políticos de Washington. "Este não foi um voto para os democratas tanto quanto foi um voto contra o presidente Bush e a guerra."
Ou, como definiu candidamente o ex-líder republicano na Câmara, Tom DeLay, ele próprio afastado do cargo em meio a denúncias de corrupção: "Nós tomamos uma surra ontem (terça) à noite. Não foram os democratas que venceram. Os republicanos é que fomos derrotados".
Ambos têm razão. A partir das motivações apontadas pelos eleitores nas pesquisas de boca-de-urna feita ao longo da terça-feira, duas foram as constatações: os temas nacionais importaram mais que os locais e os assuntos ligados ao governo de George W. Bush e seu partido forneceram os maiores índices de rejeição.
Sete em cada dez eleitores mencionaram a corrupção e os escândalos no governo como fatores que os levaram às urnas; seis em cada dez disseram que a Guerra do Iraque foi tema decisivo na escolha, mesma proporção que avaliou Bush negativamente. Os levantamentos foram feitos pelo Instituto Gallup a pedido de um consórcio de emissoras.
O presidente ouviu a voz das urnas. Horas depois de o controle da Câmara ter sido assegurado pelos democratas e quando a luta pelo Senado continuava, Bush veio a público dizer que Donald Rumsfeld, seu secretário de Defesa, o arquiteto da Guerra do Iraque e um dos responsáveis por seu fracasso, estava fora do governo.
"Eu estou obviamente desapontado com o resultado das eleições e, como chefe do Partido Republicano, divido grande parte da responsabilidade", disse ele em entrevista coletiva na tarde de ontem, na Casa Branca. Depois, diria: "Eu reconheço que muitos americanos votaram na noite passada para registrar seu descontentamento com a falta de progresso (no Iraque)".
Com ele concordaria Nancy Pelosi, a democrata que deve virar a primeira mulher presidente da Câmara. "Em nenhum lugar o desejo do povo americano por uma nova direção foi mais claro do que na Guerra do Iraque. "Manter o curso" é algo que não está funcionando", disse, referindo-se ao lema que Bush abandonou dias atrás.
Ambos os lados terão de agir com cautela nos próximos meses. Os dois partidos sabem que, diferentemente do que aconteceu nas eleições legislativas de 1994, quando os republicanos venceram com margem maior do que a dos democratas anteontem, e nas eleições presidenciais de 2004, quando os "valores morais" e a guerra ao terror deram a vitória a Bush, não há uma "revolução" evidente em marcha agora.
Ainda assim, o voto de protesto beneficiou a oposição, que ganhou vagas dos republicanos no Senado em Ohio, Pensilvânia, Rhode Island e Missouri, pelo menos 30 cadeiras na Câmara e a maioria dos governos estaduais. No Senado, a batalha pelo Estado da Virgínia continuava, depois de projeções das TVs darem a vitória aos democratas em Montana. A oposição precisa de ambas as vagas para garantir a maioria também nessa Casa. Na Virgínia, a disputa apertada pode render uma recontagem dos votos que pode levar semanas.


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