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ELEIÇÕES NOS EUA / PRIMEIRA BAIXA
Ex-diretor da CIA toma lugar de Rumsfeld
Homem forte de Bush e artífice da Guerra do Iraque, ex-secretário da Defesa é primeira vítima da derrota republicana
Robert Gates, o substituto, é considerado uma voz "não-ideológica", mas esteve envolvido no Escândalo Irã-Contras no governo Reagan
DE WASHINGTON
Era a crônica da morte anunciada. Se os republicanos saíssem derrotados nas eleições de
anteontem, a primeira vítima
seria o polêmico secretário da
Defesa, Donald Rumsfeld, há
seis anos no cargo e principal
artífice de uma Guerra do Iraque que se mostra cada vez
mais fora de controle e que foi
apontada por seis em dez eleitores, em pesquisas de boca-de-urna realizadas anteontem, como um dos motivos de preocupação nesse pleito legislativo.
Era o que pedia manifesto
publicado pelo principal jornal
das Forças Armadas, "The
Army Times", na sexta-feira.
Era o que pedia a "intelligentsia
neoconservadora". Era o que
exigia o segundo editorial do
jornal "The New York Times"
de ontem.
Foi o que pediram os eleitores, ao citar a Guerra do Iraque
como uma das principais preocupações nas pesquisas. E foi
também o que pediu a deputada democrata Nancy Pelosi,
provável futura presidente da
Câmara, horas antes da renúncia de Rumsfeld: "Deve haver
um sinal de mudança vindo do
presidente", disse. "E o melhor
lugar pelo qual começar (...) é a
liderança civil do Pentágono."
"Tive uma série de conversas
profundas com ele e concordamos que o momento era o adequado para uma nova liderança
no Pentágono", disse Bush.
Elogiou o ex-secretário ("líder
brilhante num tempo de mudanças"), mas disse que o demitido concordava com o "valor
de um novo ponto de vista".
Sob Rumsfeld, o Pentágono
viu quase 3.000 soldados serem
mortos numa guerra que começou a dar errado a partir da queda de Saddam Hussein, com a
falta de planejamento do pós-ocupação, e que acabaria, três
anos depois, na atual guerra civil entre grupos iraquianos,
corrupção nas obras de reconstrução e escalada de violência.
Polêmico, o secretário entrou para o noticiário ao soltar
frases como "stuff happens"
("Coisas acontecem", trocadilho com "shit happens", ditado
em inglês) ao ser criticado pela
condução da guerra, e "Você vai
à guerra com o Exército que
tem, não com o que quer",
questionado sobre a falta de
equipamentos para soldados.
Entrou em rota de colisão
também com as altas patentes
que comandava ao forçar uma
reforma no sistema militar, que
ele achava inchado e burocrático. Pela Doutrina Rumsfeld, o
Exército deveria ser mais ágil e
bem equipado. Com isso, alienou as fardas.
Na semana passada, nas dezenas de comícios a que foi,
Bush reafirmava que Rumsfeld,
74, continuaria no cargo em
que está desde seu primeiro
mandato e que ocupou na gestão de Gerald Ford (1974-1977).
Em reunião com seu assessor
político e estrategista-chefe,
Karl Rove, na noite de terça,
porém, quando estava claro
que pelo menos a Câmara estava perdida, Bush foi persuadido
a rever sua decisão. O presidente estava cada vez mais isolado.
Mas via a continuidade do secretário como um ponto de
honra, um meio de não passar
recibo aos críticos da guerra.
Não mais.
Irã-Contras
Em seu lugar, entra Robert
Gates, 66, diretor da CIA de
1991 a 1993 e ex-membro do
Conselho de Segurança Nacional. Gates vem de ser reitor da
Texas A&M University e é do
círculo íntimo da família Bush.
Serviu como diretor da agência
de inteligência no mandato de
Bush sênior e, funcionário de
carreira, esteve na CIA por 26
anos. Envolveu-se no Escândalo Irã-Contras durante o governo Reagan (1981-1989), quando
a Casa Branca vendeu ilegalmente armas para o Irã a fim de
financiar a guerrilha anti-sandinista na Nicarágua.
Gates é especialista em Guerra Fria. Ainda assim, é considerado uma voz não-ideológica
que fará a ponte entre os militares e a comunidade de inteligência e entre a Casa Branca e o
Congresso. Também abrirá
mão de outro cargo ao ser confirmado como 22º secretário da
Defesa dos EUA pelo Senado: o
de presidente da Associação
Nacional dos Escoteiros Mirins. Se Bush queria passar um
recado aos eleitores insatisfeitos, não poderia ter sido mais
direto.
(SÉRGIO DÁVILA)
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