São Paulo, domingo, 09 de novembro de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / A PARTILHA

Grupos disputam nacos do poder sob Obama

Sindicatos cobram fatura de dinheiro investido na campanha do democrata; grupos empresariais temem ambiente hostil

Com novo mapa político, ganham setores como os de biotecnologia e energia limpa; petróleo perde, mas defesa poderá sair ilesa

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A CHICAGO

De um lado, centrais sindicais como a SEIU (União Internacional dos Empregados de Serviços, na sigla em inglês), que gastaram US$ 400 milhões na campanha presidencial de Barack Obama e em outras disputas pelos EUA para eleger democratas. De outro, associações empresariais como a Câmara de Comércio, que sozinha investiu US$ 50 milhões em doações a candidatos republicanos ao Senado.
Agora, esses e outros grupos querem seu pedaço no novo mapa do poder que se desenha em Washington. Andy Stern, presidente da SEIU, espera que a legislação trabalhista seja flexibilizada para permitir maior liberdade para formação de sindicatos.
"Começando nesta noite, nós vamos trabalhar com nossos líderes eleitos para estabelecer uma agenda clara para reconstruir a classe média, consertar nosso sistema de saúde pública e dar aos trabalhadores uma voz forte", disse ele no dia da eleição. A SEIU tem 2 milhões de filiados e é a central sindical que mais cresce nos EUA.
No mesmo dia, a Câmara de Comércio dos EUA comemorava o fato de os democratas não terem atingido a maioria de 60 cadeiras no Senado necessárias para evitar obstrução legislativa da minoria republicana. A entidade, que reúne 3 milhões de empresas, é contra propostas como o pagamento de dias não trabalhados por doença.
"Nossa meta número um era um Senado onde seria possível fazer uma coalizão vitoriosa para passar boas leis e, se necessário, manter a obstrução para brecar as propostas mais danosas às empresas", diz seu presidente, Thomas Donohue.
Na campanha, Obama indicou que deve apoiar a legislação desejada pelos sindicatos. Se vai manter a promessa após a posse, em 20 de janeiro, não se sabe. Mas mostrou para que lado vai o pêndulo obamista na questão. Como essa, há outras questões em que fica claro quais grupos perdem e quais ganham sob a nova gestão.
Na primeira turma, estão indústrias de energia limpa e de biotecnologia -ao contrário de George W. Bush, Obama é a favor de pesquisas com célula-tronco, por exemplo. Na segunda, a indústria armamentista -o presidente eleito promete começar a retirar a maior parte das tropas do Iraque assim que assumir. É claro que nem tudo é tão preto no branco.
É o caso da própria indústria da defesa. Obama disse que sairá do Iraque, que já custa US$ 600 bilhões ao país, mas redirecionará recursos para o Afeganistão, onde ele acredita que está o verdadeiro palco da chamada "guerra ao terror".
Como resumiu Jeffrey Immelt, CEO da GE, em palestra recente em Nova York: "Se você acha que não vamos ter mais regulação em novas áreas além da financeira, está maluco", afirmou, para citar saúde pública, energia e outras áreas. "Isso não é necessariamente negativo. Pode ser catalisador para outras mudanças."


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