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QUEDA DO MURO: 20 ANOS DEPOIS
Mundo se apropria de celebração em Berlim
Derrubada do muro completa duas décadas hoje; na Alemanha, dor provocada pela divisão dificulta esforço por memória
Com o interesse externo superando o interno, verba para ampliar memorial vem da União Europeia, e visitas de estrangeiros crescem
Axel Schmidt/France Presse
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Turistas observam peças em formato de dominó colocadas em frente ao Portão de Brandenburgo, onde existia o Muro de Berlim
LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL A BERLIM
A festa que os alemães celebram hoje em sua capital reunificada é muito mais para olhos
e ouvidos estrangeiros do que
para os seus próprios. Afinal, o
muro sempre extrapolou Berlim e cristalizou a divisão do
mundo na Guerra Fria.
Talvez um pouco por isso
seus pedaços tenham se espalhado pelo planeta nestes 20
anos- o mundo se apropriou
da parede que um dia dividiu a
cidade que, em dias de não efeméride, prefere esquecê-lo.
"A maioria dos segmentos do
muro desapareceu. Em 1989, as
pessoas só queriam se livrar dele. Era doloroso, os berlineses
sofreram tanto que tudo que
eles queriam era não ter de ver
mais aquilo", diz o historiador
Axel Klausmeier, do Centro de
Documentação sobre o Muro
de Berlim. "Foi só uns dez anos
depois que surgiu essa consciência de que quase tudo havia
sido destruído, e eles tinham
que preservar algo."
O centro que Klausmeier dirige foi criado há apenas um
ano. Fica na Bernauerstrasse,
um dos locais onde era mais absurda a divisão da cidade, que
só tomou a forma de um muro
de concreto a partir de 1961.
"Há trechos em que os prédios estavam do lado oriental e
a calçada, do ocidental", diz o
historiador, mostrando fotos
de gente pulando das janelas
para ficar "do outro lado" horas
antes de a parede ser erguida.
Do prédio, ele aponta o local
onde ficava uma igreja deixada
na terra de ninguém entre as
duas paredes (o muro na verdade eram dois, e entre eles soldados da Alemanha Oriental patrulhavam eventuais fugas).
Walter Ulbricht -sob cujo governo a parede foi erigida apenas dois meses após ele proclamar que "ninguém estava pensando em construir um muro"-mandou destrui-la.
Também foi na Bernauerstrasse que Konrad Schumann,
soldado alemão oriental, fugiu
para o Oeste saltando o arame
farpado que Ulbricht mandara
instalar antes de a construção
de fato começar, nas ruas e estações de trem e metrô, da noite para o dia. A foto é icônica.
São memórias como essas
que estão se perdendo, assim
como se foram os pedaços do
muro para praças e colecionadores pelo mundo -na rua fatídica, há um trecho ainda de 220
metros. Outros, o maior deles
com pouco mais de 1 km, estão
espalhados pela cidade.
Klausmeier acha que a atitude tem mudado nos últimos
dez anos, mas admite que o interesse vem muito mais de fora.
Os 37 milhões para ampliar o
memorial são da UE.
"A geração que está crescendo não tem quase conhecimento sobre a Alemanha Oriental,
não sabe sobre a polícia secreta, os nomes dos principais políticos. Mas, ao mesmo tempo,
temos recebido cada vez mais
visitantes, do resto da Alemanha e sobretudo estrangeiros."
A percepção não é só dele e
não se restringe ao muro. A
tendência a apagar símbolos e
prédios que lembrem o regime
anterior se perpetua desde os
tempos dos kaiseres por todos
os governos posteriores.
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