São Paulo, quarta-feira, 09 de novembro de 2011

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Premiê disse ser 'Jesus Cristo da política'

Ao todo, Berlusconi permaneceu no poder por nove anos, marcados por acusações na Justiça e escândalos sexuais

Dono do Milan e do maior grupo privado de mídia da Itália, empresário sucumbiu à bola de neve da crise

ROGÉRIO ORTEGA

DE SÃO PAULO

A bola de neve da crise europeia conseguiu o que nem inúmeras acusações judiciais -de suborno e fraude fiscal a pagamento por sexo com uma menor- nem os escândalos das festas "bunga bunga" conseguiram: fazer Silvio Berlusconi pedir para sair.
Berlusconi é o político que por mais tempo ocupou o cargo, notoriamente instável, de primeiro-ministro na Itália desde a Segunda Guerra. Ao todo, foram cerca de nove anos, somando os seus três períodos à frente do governo.
É também um dos homens mais ricos do país, dono de seu principal conglomerado privado de comunicação, o Mediaset, e do seu time de futebol mais popular, o Milan -sem nunca ter tomado medidas para eliminar conflitos de interesse entre seus negócios e a condução do Estado.
É, ainda, autor de frases que vão do politicamente incorreto ao sexismo e à pura e simples gafe, o que ajudou a torná-lo figura tão folclórica quanto polemicamente popular -até que veio a crise.
Nascido em 29 de setembro de 1936, numa família milanesa de classe média, Berlusconi estudou direito na Universidade de Milão. Durante o período na faculdade, tocava contrabaixo acústico e trabalhava ocasionalmente como cantor em cruzeiros.
Seu primeiro grande empreendimento empresarial, no final dos anos 60, foi a construção do condomínio de luxo Milano Due, na região leste da cidade. Em 1973, para atender aos moradores do condomínio, Berlusconi comprou um canal a cabo, sua primeira aquisição na mídia.
Nos anos seguintes, seu grupo englobou canais de TV e agências de publicidade. Segundo críticos, a ascensão empresarial de Berlusconi teve ajuda decisiva de figuras influentes na política italiana, como o socialista Bettino Craxi (1934-2000), premiê na década de 80 e, anos depois, condenado por corrupção.
No final de 1993, já um dos empresários mais ricos do país, Berlusconi fundou o partido Forza Italia. Em 1994, chegaria pela primeira vez ao cargo de premiê graças à aliança com grupos como a Liga Norte, anti-imigração.
Desentendimentos na aliança e acusações de fraude fiscal derrubaram seu primeiro governo sete meses depois, em janeiro de 1995. Ele voltaria em 2001, após assinar um "contrato com os italianos" em que prometia reforma tributária e a redução do desemprego pela metade.
O empresário deixou novamente o cargo em 2006 e voltou em 2008. Nos últimos anos, porém, avolumaram-se problemas como baixo crescimento e alto desemprego entre os jovens, apontados por revistas como a britânica "The Economist", que chegou a ser processada pelo premiê.
Ao mesmo tempo, Berlusconi se mantinha em evidência de modo pouco lisonjeiro, protagonizando escândalos sexuais -como o da dançarina marroquina Ruby Rouba-Corações, que disse ter participado, aos 17 anos, de festas sexuais ("bunga bunga") na mansão do premiê.
O empresário, que já se definiu como "Jesus Cristo da política" e disse que só Napoleão havia feito mais que ele pela Europa, vinha resistindo a todas as acusações. Nem o messianismo nem o bonapartismo, porém, foram capazes de mantê-lo no poder.


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