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Oposição boliviana pede a Lula que medeie crise
Tensão e protestos aumentam na Bolívia na véspera de cúpula sul-americana
Chávez culpa EUA pelas crescentes manifestações contra Morales; brasileiro diz que não falará sobre problemas do país vizinho
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A COCHABAMBA
Não são apenas os colegas da
região que esperavam ontem a
chegada do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva à Cúpula da
Comunidade Sul-Americana
de Nações (Casa). Com o acirramento da crise política boliviana, críticos de Evo Morales
pediram encontros com o brasileiro para discutir o impasse
entre governo e oposição sobre
a Assembléia Constituinte e a
nova lei de reforma agrária.
Até ontem, haviam solicitado
audiências em separado com
Lula o líder opositor de centro-direita Samuel Doria Medina,
que iniciou a onda de greve de
fome que já chega a 1.883 pessoas, segundo seu partido, Unidade Nacional (UN); o governador de oposição de Cochabamba, Manfred Reyes Villa, e sojicultores brasileiros radicados
em Santa Cruz e alinhados com
a poderosa CAO (Câmara Agropecuária do Oriente), contrária
ao projeto agrário do governo.
Até ontem à tarde, nenhum
pedido havia sido respondido
-na agenda de Lula, estavam
apenas encontros com Morales
e com a presidente chilena, Michelle Bachelet, além de uma
provável reunião com o presidente eleito da Nicarágua, o esquerdista Daniel Ortega, que
vem como convidado.
"Lula é próximo de Morales e
pode ajudar", disse à Folha Doria Medina, terceiro colocado
nas eleições presidenciais do
ano passado.
"Ele pode ressaltar a Morales
a importância das mudanças de
forma democrática, e não a
pontapés."
Além deles, o ex-presidente
Eduardo Rodríguez, antecessor de Morales, enviou uma
carta a Lula expressando preocupação com a crise boliviana e
insinuando alguma forma de
intervenção brasileira. "Como
o senhor sabe, renovaram-se
em meu país velhos problemas
que dividem os bolivianos", escreve Rodríguez na carta, à
qual a Folha teve acesso.
"Acredito que os chefes de
Estado que forem ao encontro
de Cochabamba concordarão
em propiciar que na Bolívia se
aceite o diálogo como meio para superar diferenças e como
uma maneira de preservar a
continuidade institucional."
Ao chegar a Cochabamba ontem no final da tarde, Lula evitou comentar a crise boliviana,
mas mostrou apoio a Morales:
"Permita-me não dar nenhum
palpite sobre os problemas internos do país", disse no aeroporto, ao ser questionado por
um jornalista boliviano.
"Todo mundo sabe o que
penso sobre a vitória de Evo
Morales, todo mundo sabe do
significado da vitória de Morales para o mundo e para os
amantes da democracia."
Menos diplomático, o presidente Chávez disse, antes de
embarcar para a Bolívia, que a
crise é culpa de uma aliança entre a direita e os EUA e advertiu
que "a Venezuela não ficará de
braços cruzados".
"Ajudar Evo é uma responsabilidade de todos os revolucionários deste continente, de todos os homens e mulheres que
trabalhamos por um mundo
melhor", afirmou, classificando a oposição de "a extrema direita pró-imperialista que tem
mantido a Bolívia escravizada
por 200 anos".
No início de seu governo, em
2003, Lula atuou em situação
semelhante na Venezuela, que
vivia um impasse entre Chávez
e seus oponentes. Na época, o
Brasil comandou a criação do
Grupo de Amigos da Venezuela, cujo trabalho resultou no referendo sobre a permanência
do presidente, em 2004.
Violência
A tensão aumentou ontem
em Santa Cruz, onde o governador Rubén Costas lidera uma
greve de fome contra a imposição do sistema de votação por
maioria simples na Assembléia
Constituinte, o que livra o MAS
(Movimento ao Socialismo) de
negociar com a bancada oposicionista, que exige a aprovação
por dois terços de todos os artigos da nova Carta.
Ontem, os líderes preparavam os detalhes para um encontro de massa com o objetivo
de declarar a "autonomia" ou
mesmo a independência do departamento mais rico do país.
Entre a noite de quinta e ontem, em ataques separados,
desconhecidos atiraram contra
a casa do presidente do Comitê
pró-Santa Cruz, Germán Antelo, um dos principais líderes
dos protestos, contra um dirigente do MAS e contra a ONG
Cejis, de apoio a Morales.
Depois dos ataques, o presidente determinou o fechamento de todos os escritórios de órgãos federais em Santa Cruz.
Embora a situação em Cochabamba seja politicamente
mais calma, a organização da
cúpula teve de se desdobrar para minimizar os danos causados pela forte chuva de anteontem, que matou quatro pessoas
e inundou a região onde está
sendo realizado o encontro.
A enchente chegou a atingir o
centro de imprensa, danificando computadores. Houve falta
de água durante parte do dia.
Com agências internacionais
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