São Paulo, terça-feira, 09 de dezembro de 2008

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UE inclui energia e clima entre ameaças à segurança do bloco

Temas se somam a terrorismo e armas de destruição em massa na nova versão da Estratégia Européia de Segurança, que aposta em "renovar o multilateralismo"

MARCELO NINIO
DE GENEBRA

A dependência de fontes externas de energia e as mudanças climáticas entraram para a lista de ameaças à segurança da União Européia. Na nova versão da Estratégia Européia de Segurança (EES), que será assinada na próxima sexta-feira, na cúpula de Bruxelas, esses temas estão ao lado de antigos desafios, como o terrorismo.
O documento reforça a aposta européia em uma nova era de multilateralismo, em que as Nações Unidas estejam no centro das decisões mundiais. "Temos um momento único para renovar o multilateralismo, trabalhando com os Estados Unidos e nossos aliados ao redor do mundo", observa o texto, no que pode ser interpretado como uma referência à chegada ao poder nos EUA de Barack Obama, que já deu sinais de que pretende revalorizar os fóruns internacionais.
O documento da UE é a primeira revisão da estratégia lançada em 2003. Ela ganhará hoje os últimos retoques em uma reunião de ministros do exterior dos 27 membros da UE, na capital belga, antes da assinatura dos chefes de Estado. A Folha obteve uma cópia do texto, que revela a aspiração dos europeus de ter mais iniciativa nas questões mundiais:
"O mundo muda rapidamente em torno de nós, as ameaças evoluem, e o poder sofre oscilações. Para construir uma Europa mais segura em um mundo melhor, precisamos fazer mais para influenciar os eventos. E devemos fazê-lo já".
Além de repetir as ameaças que preocupavam a Europa em 2003, como terrorismo, proliferação de armas de destruição em massa e crime organizado, o texto chama atenção para três novos desafios: a cibersegurança, a segurança energética e as mudanças climáticas.
"Não houve necessidade de elaborar uma nova estratégia, pois a de 2003 continua atual", disse à Folha Cristina Gallach, porta-voz do representante de assuntos exteriores e segurança da UE. "Mas a revisão põe o foco nos novos desafios."

Rússia
O aumento das preocupações com a dependência energética é um deles. Em 2030, 75% do petróleo e gás que a UE consome serão importados. Esses recursos virão de "um número limitado de países, muitos dos quais enfrentam ameaças a sua estabilidade".
A Rússia, da qual a UE importa quase metade do gás e 30% do petróleo que consome, é citada em um contexto de deterioração das relações políticas ocorrida após o conflito na Geórgia, mas também no da dependência energética. O texto sugere a busca de rotas alternativas para o gás que chega à Europa, como a Turquia.
Um problema antigo se agravou nos últimos anos, o da proliferação de armas de destruição em massa. Embora a Líbia tenha desativado seu programa de armas não convencionais, diz o documento, o Irã e a Coréia do Norte "ainda não conquistaram a confiança da comunidade internacional".
Sobre o Irã, a advertência é direta: "O programa nuclear iraniano avançou de maneira considerável, representando um perigo sobre a estabilidade da região e para o conjunto do sistema de não-proliferação".
As mudanças climáticas e suas repercussões para a segurança ganharam urgência maior, tornando-se um "multiplicador de ameaças". As catástrofes naturais e a competição por recursos exacerbam os conflitos e levam ao aumento da migração.
O Brasil tem uma breve menção, entre os países que cresceram de importância para a UE desde 2003, ao lado de Suíça, Noruega e África do Sul.


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