São Paulo, terça-feira, 09 de dezembro de 2008

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Albright rechaça pedido de Jobim sobre Cuba

Brasil pede que EUA revejam embargo a Havana

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, levou a Washington na semana passada um recado do governo brasileiro para integrantes da equipe do presidente eleito, Barack Obama: a melhora das relações dos Estados Unidos com a América do Sul passa pela revisão da prisão na base de Guantánamo e pelo fim do embargo contra Cuba.
"Fui muito claro nas minhas conversas com eles e disse que a imagem dos EUA na região é muito ruim, muito ruim mesmo, e para começar a reverter isso eles têm que rever Guantánamo e as relações com Cuba", relatou Jobim ontem à Folha.
Ele se encontrou na semana passada com o atual e futuro secretário da Defesa, Robert Gates, com o general James Jones, escolhido por Obama como assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, e com a ex-secretária de Estado Madeleine Albright, que aconselhou o democrata durante a campanha e tem relação próxima com membros de sua equipe de política externa.
Com Gates, Jobim disse que fustigou: "Depois desses anos todos de embargo a Cuba, o que vocês conseguiram? Só duas coisas: um país muito pobre e um povo muito orgulhoso". O secretário não disse "sim" nem "não" à reabertura.
Já Albright reagiu às ponderações do ministro brasileiro declarando: "Eles [os cubanos] têm que fazer o primeiro gesto". Ao que Jobim, segundo relato dele próprio, contra-argumentou: "Quem tem que fazer o primeiro gesto são os grandes e os que decidiram o embargo, ou seja, os EUA".
Assessores de Obama já declararam que ele deve suspender algumas restrições contra Cuba, como o veto a viagens e remessas de dinheiro à ilha a partir dos EUA, mas não o embargo vigente desde 1962.
O interesse norte-americano mais imediato e mais concreto no Brasil é o projeto F-X, para renovar a frota de aviões de caça da FAB (Força Aérea Brasileira). Mas Jobim disse que essas conversas não evoluíram, pois a troca de governo não está se refletindo numa flexibilização considerada fundamental pela Defesa brasileira: a transferência de tecnologia.
A disputa afunilou para três aviões: o F-18 da Boeing, dos EUA, o Rafale, da Dassault, francesa, e o Grippen NG, da Saab, sueca. Além de ter discutido a questão em Washington, ontem o ministro falou sobre isso em Brasília com o ministro da Defesa da França, Hervé Morin, que prepara a vinda ao país do presidente francês, Nicolas Sarkozy, nos dias 22 e 23.
"Isso [a decisão sobre os caças] ainda vai demorar muito", disse o ministro. A "aliança estratégica" Brasil-França inclui, ainda, a compra de helicópteros e acordos bilaterais para a construção desse tipo de aeronave em fábricas brasileiras.


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