São Paulo, terça-feira, 09 de dezembro de 2008

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Paquistão prende suposto líder de ataques a Mumbai

Exército ataca campo do Laskhar-e-Taiba na 1ª resposta militar às cobranças indianas

"Atacaram nossos campos sob pressão dos EUA e da Índia", diz porta-voz do grupo, que nega relação com os ataques de Mumbai

DA REDAÇÃO

As Forças Armadas do Paquistão cercaram um suposto campo de treinamento do Laskhar-e-Taiba (exército dos devotos), grupo de origem paquistanesa ao qual a Índia atribui a autoria dos atentados de 26 de novembro em Mumbai. A ofensiva, com prisão de vários suspeitos de terrorismo, é a primeira resposta militar do país à pressão de Washington e Nova Déli por um combate efetivo ao terrorismo.
Fontes militares afirmaram ontem que Zaki ur Rehman Lakhvi, suspeito de ser o autor intelectual dos ataques, e pelo menos outras 11 pessoas foram detidas em um campo do grupo na Caxemira paquistanesa -onde, suspeita-se, eram treinados terroristas.
"Forças paquistanesas atacaram nossos campos em Muzaraffabad sob pressão dos EUA e da Índia. Nós repetimos que o Laskhar-e-Taiba não tem nada a ver com os ataques de Mumbai", disse um porta-voz do grupo à Reuters.
O Exército usou helicópteros para atacar a área, que reunia uma escola religiosa e casas, e dominou-a após breve conflito na noite de anteontem, relataram militares ouvidos sob condição de anonimato. Islamabad não deu informações sobre os supostos detidos.
Nova Déli e Islamabad não têm acordo de extradição. Na semana passada, pressionado a entregar suspeitos de terrorismo, o presidente Asif Ali Zardari disse que os criminosos seriam julgados no próprio país.
Em Washington, o porta-voz do Departamento de Estado, Sean McCormack, afirmou que a ação foi "um passo positivo". A Casa Branca tem usado linguagem cautelosa para pressionar Islamabad, em um esforço para arrefecer a crise entre seus aliados regionais e evitar que tensões levem o Paquistão a mover soldados da fronteira afegã, bastião da Al Qaeda e do Taleban, para a indiana.
A relação entre Islamabad e Nova Déli, rivais nucleares que vinham se reaproximando nos últimos anos, está estremecida desde a ofensiva terrorista contra Mumbai, que deixou 171 mortos no mês passado -número revisado de vítimas.
Segundo investigadores indianos, o único terrorista capturado, o paquistanês Ajmal Amin Kasav, 21, contou ter sido recrutado por Lakhavi, que planejou com outro militante do Laskhar-e-Taiba, Yusuf Muzammil, a operação.
O Laskhar-e-Taiba, que combate o domínio indiano na Caxemira, disputada pelos dois vizinhos, é proscrito no Paquistão desde 2002. Uma organização de caridade ligada ao grupo, porém, continua a operar legalmente no país.
Durante o regime do general Mohammad Zia ul Haq [1977-1988], o grupo teve relações estreitas com o serviço secreto paquistanês -que treinava, com o apoio dos EUA, radicais que combatiam as tropas soviéticas no Afeganistão, entre eles os fundadores do Laskhar-e-Taiba. Fontes policiais indianas vazam informações sobre o suposto envolvimento do serviço de inteligência paquistanês no ataque, embora a Índia não tenha acusado formalmente o vizinho.
As insinuações são rechaçadas por Islamabad, que promete total cooperação com as investigações. Governado pelo laico PPP (Partido do Povo Paquistanês), da ex-premiê assassinada Benazir Bhutto, o Estado paquistanês também é alvo de ataques terroristas.

Com o "Financial Times" e agências internacionais



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