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SOCIEDADE
Entre 1960 e 2000, o consumo privado passou de US$ 4,8 tri para US$ 20 tri, piorando a qualidade de vida global
Consumo quadruplica e ameaça, diz ONG
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
O consumismo desenfreado é a
maior ameaça ao futuro da humanidade, não só esgotando rapidamente os recursos naturais do
planeta, mas também piorando a
qualidade de vida de muita gente,
ricos e pobres.
Essa é a conclusão de um relatório divulgado ontem pelo Instituto Worldwatch, entidade ambientalista baseada em Washington
que acompanha anualmente o
"estado do mundo" e comemora
agora 30 anos de fundação. O instituto argumenta com números.
O gasto em consumo privado
chegou a US$ 20 trilhões em 2000,
comparados a US$ 4,8 trilhões em
1960 (dados em dólares de 1995).
Dos cerca de 6,3 bilhões de seres
humanos, 1,7 bilhão faz parte da
sociedade de consumo, e quase
metade já está em países em desenvolvimento, principalmente
China e Índia.
Essa prosperidade não deixa de
ter seu lado positivo, como reconhecem os autores do relatório
"O Estado do Mundo 2004".
Muito mais pessoas têm acesso
hoje a dietas e a meios de transporte e comunicação que no passado eram restritos a uma elite.
"Se não têm pão, comam brioche", diz a clássica frase atribuída
à rainha Maria Antonieta, guilhotinada pela Revolução Francesa
no século 18 por atitudes como essa. O Worldwatch argumenta, porém, que o desejo das massas pelo
brioche está comprometendo o
acesso ao pão para a maioria.
"O consumo, é claro, é necessário para a vida e o bem-estar e, se a
escolha for fazer parte da sociedade de consumo ou estar entre os
2,8 bilhões de pessoas que mal sobrevivem com menos de dois dólares por dia, a escolha é fácil",
afirma o presidente do instituto,
Christopher Flavin.
"Mas, ao entrarmos em um novo século, esse apetite de consumo sem precedentes está solapando os sistemas naturais dos quais
todos dependemos e tornando
mais difícil aos pobres obter suas
necessidades básicas", diz ele.
O furor consumista, ironicamente, também diminui a qualidade de vida dos mais ricos: traz
obesidade e endividamento e faz
as pessoas passarem mais tempo
trabalhando para ganhar dinheiro apenas para satisfazer os sonhos de consumo.
Um bom exemplo da aceleração
do ímpeto consumista vem da
China, país que, no começo dos
anos 80, tinha uma quantidade
pequena de automóveis particulares trafegando em meio de milhões de bicicletas.
Em 2002 já eram 10 milhões os
automóveis particulares chineses.
A cada dia em 2003, cerca de 11
mil novos carros chegaram às
ruas do país -um total de 4 milhões de veículos.
O governo chinês argumenta
que cada novo carro feito no país
emprega dois trabalhadores, e sua
renda estimula outros setores da
economia.
Mas, se o ritmo prosseguir assim, em 2015 a China teria 150 milhões de carros -mais dos que os
EUA hoje.
Existem atualmente 531 milhões de carros de passeio em todo o planeta -a frota cresce a cada ano em 11 milhões-, cuja
quarta parte, 132 milhões, roda
nas ruas e estradas americanas.
Os EUA, no ano passado, tinham mais carros e caminhonetes do que cartas de motorista,
produzindo gases de efeito estufa
-que aquecem o planeta- em
nível semelhante a toda atividade
econômica japonesa.
O impacto desse consumo nos
recursos naturais da Terra pode
ser medido pelo exemplo americano. Os EUA têm menos de 5%
da população do planeta, mas
gastam 25% do carvão, 26% do
petróleo e 27% do gás natural.
Um americano médio gasta 22 kg
de alumínio por ano, contra 2 kg
de um indiano.
Os países mais desenvolvidos
-EUA, Japão, Europa Ocidental,
Canadá e Austrália-, têm, juntos, 15% da população mundial,
mas consomem 61% do alumínio,
59% do cobre e 49% do aço.
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