São Paulo, sábado, 10 de janeiro de 2009

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Governo de Israel rejeita cessar-fogo da ONU

"Exército irá continuar a agir para alcançar o objetivo da operação: trazer uma mudança na situação de segurança", diz gabinete

Porta-vozes do Hamas também anunciam ignorar resolução do Conselho de Segurança, alegando que o grupo não foi consultado

Mohammed Saber/Efe
Visão área da Cidade de Gaza após um bombardeio aéreo por caças israelenses ontem; ofensiva entra hoje na terceira semana

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A RAMALLAH (CISJORDÂNIA)

O governo israelense rejeitou ontem a resolução aprovada na véspera pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas para estabelecer um cessar-fogo imediato, abrindo caminho para o Exército ampliar a sua incursão terrestre na faixa de Gaza. Líderes do grupo fundamentalista islâmico Hamas, alvo da ofensiva, também rejeitaram a proposta da ONU.
A operação militar entra na terceira semana hoje com mais de 780 mortos no lado palestino e sem ainda ter alcançado o principal objetivo israelense, dar um fim ao disparo de foguetes contra seu território.
Mas Israel tem feito questão de ressaltar os resultados dos últimos 14 dias: vários líderes do Hamas foram mortos, centenas de militantes viraram prisioneiros, e a infraestrutura de poder do grupo foi reduzida a ruínas, assim como a sua capacidade de governar.
Com o sinal verde do gabinete, a expectativa é que a ofensiva entre no seu terceiro estágio, de avanço da invasão para garantir a eliminação do arsenal do Hamas e a possível captura de seus líderes.
Em comunicado divulgado após a reunião do gabinete de segurança, o governo declarou que não aceita a resolução da ONU e que seus soldados serão mantidos em Gaza. "O Exército irá continuar a agir para alcançar a o objetivo da operação: trazer uma mudança na situação de segurança no sul do país", diz o comunicado. "Esforços para impedir o contrabando de armas para dentro de Gaza continuarão."
A mensagem é a mesma que Israel vem transmitindo nos últimos dias por meio de seus ministros, em meio às tentativas da diplomacia internacional para negociar um cessar-fogo imediato. A ofensiva não será considerada completa por Israel sem a garantia de que os meios do Hamas de se rearmar foram neutralizados.
Do ponto de vista militar, isso significa a destruição dos túneis que servem para o contrabando de armas na fronteira entre Gaza e o Egito, o que a aviação tem feito com intensos bombardeios desde o início da ofensiva. Na frente política, a exigência é de um mecanismo que garanta uma fiscalização mais efetiva da fronteira, com a participação de forças internacionais, preferencialmente americanas.
De acordo com a agência Reuters, as negociações em torno de um acordo de cessar-fogo que estão ocorrendo no Egito não avançam justamente devido ao desacordo sobre a composição das tropas que supervisionariam a fronteira.

Hamas
A decisão israelense de prosseguir com os ataques foi seguida da rejeição da resolução de cessar-fogo também por parte do Hamas. Falando em nome do grupo, cujos principais líderes em Gaza estão escondidos em bunkers desde o início da ofensiva, um dirigente político exilado no Líbano criticou os Estados Unidos por se absterem na votação da resolução.
A sessão do Conselho de Segurança da ONU na noite de quinta-feira aprovou por 14 votos a zero o pedido de um cessar-fogo imediato, mas os EUA preferiram se abster, alegando que os termos de uma trégua ainda estão sendo negociados sob a intermediação do Egito. Além do cessar-fogo imediato, o texto pede a retirada das tropas israelenses, garantias para o fim do tráfico de armas e a reabertura da fronteira.
"Ao não votar nem vetar a resolução, os EUA dão um claro sinal de que apoiam a resolução, mas que querem dar tempo ao inimigo", disse em Damasco Moussa Abu Marzouk. "Garanto que eles não vão alcançar nenhum de seus objetivos e se retirarão derrotados." Ayman Taha, porta-voz do Hamas em Gaza, disse que o grupo não foi consultado, e por isso não podia aceitar a resolução.
Sob crescente pressão internacional devido à crise humanitária em Gaza, Israel ressaltou que a continuação da ofensiva será acompanhada de esforços para aliviar a situação dos civis. A trégua diária de três horas para que suprimentos possam chegar a Gaza e ser distribuídos sem riscos à população e aos ativistas será mantida.
Na quinta-feira, a ONU decidira suspender a assistência humanitária à população da faixa de Gaza depois que o motorista de um dos veículos da organização morreu num ataque, supostamente do Exército israelense, que prometeu investigar o incidente.
Ontem, no entanto, as atividades da organização foram retomadas em Gaza. Segundo a porta-voz da ONU Michelle Montas, a decisão foi tomada depois de o Exército israelense ter dado "garantias confiáveis" de que a segurança do pessoal das instalações da ONU será "completamente respeitada".


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