São Paulo, sábado, 10 de janeiro de 2009

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Israel matou civis em abrigo, denuncia ONU

Forças Armadas negam que tenham deslocado palestinos para casa em Zeitoun e que a tenham bombardeado 24 horas mais tarde

Exército qualifica acusação como "inverossímil" e alega que não havia soldados na região, mas Israel entrou na área no último domingo

DA REDAÇÃO

Em mais um capítulo da série de desavenças entre ONU e Israel acerca da ofensiva sobre a faixa de Gaza, as forças invasoras foram acusadas de terem orientado cerca de cem civis palestinos a buscarem refúgio em uma casa que foi bombardeada 24 horas mais tarde, deixando pelo menos 30 mortos. O Exército israelense considerou as denúncias "inverossímeis".
O relato consta de um documento divulgado ontem pelo Ocha (sigla em inglês para Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU).
Allegra Pacheco, vice-diretora da entidade e integrante de seu braço nos territórios palestinos, citou testemunhas da região de Zeitoun que narraram o episódio. Segundo ela, a maioria das vítimas era da família Samouni, deslocada à força para o local no último domingo.
Um dos sobreviventes é Ahmed Ibrahim Samouni, 13. Em recuperação de ferimentos numa perna e no peito, ele contou sua versão no hospital.
"Estávamos dormindo quando os tanques e aviões atacaram. Um explosivo atingiu nossa casa e felizmente não nos acertou. Corremos para fora e vimos 15 homens. Eles tinham chegado de helicópteros e descido no topo dos prédios", contou o garoto, acrescentando que os moradores foram agredidos e forçados a entrar em outra casa -atingida no dia seguinte, quando sua mãe e outros parentes foram mortos.
"A denúncia de que o edifício foi atacado é inverossímil, porque em 4 de janeiro, a data mencionada pela organização internacional, as forças ainda não haviam chegado a Zeitoun", afirmou o porta-voz militar Yaacov Dallal.
Ele disse que o Exército "não tem registrado nenhum disparo de artilharia ou aéreo contra prédios naquela zona". E, sem mencionar o veto imposto à entrada de jornalistas estrangeiros a Gaza, completou que "é improvável que um fato com tantas vítimas tenha passado despercebido por quatro dias sem que nenhum meio de comunicação tenha se dado conta e sem que existam informações ou registros nos hospitais".
Zeitoun é um dos bairros nos arredores da Cidade de Gaza, onde as forças israelenses assumiram posições antes de avançar rumo à capital. A região é próxima à passagem de Karni, por onde entraram no domingo tropas e tanques que dividiram região ao meio, bloqueando as vias que ligam a principal cidade ao sul da faixa de Gaza.
Outras versões do caso, dadas à Associated Press e a grupos israelenses de direitos humanos, têm números mais baixos de mortos, mas todas coincidem quanto ao ataque ao prédio um dia depois de tropas terem orientado as pessoas a ficarem lá dentro por segurança.

Bombardeio a escola
O ataque à escola mantida pela ONU no campo de refugiados de Jabaliya, atingida na última terça-feira por Israel, deixando 43 mortos (no mais letal incidente isolado da ofensiva) voltou ontem a ser invocado.
O porta-voz da UNRWA (agência da ONU para refugiados palestinos), Chris Gunness, relatou ao "Haaretz" que quadros do exército disseram que o ataque não foi proposital.
"Em reunião com diplomatas estrangeiros, oficiais de alta patente admitiram que os ataques de morteiro a que responderam em Jabaliya não partiram da escola e que o ataque ao espaço da ONU não foi intencional."
Mais tarde, a UNRWA afirmou que recebeu garantias de segurança de Israel e que "retomará suas atividades o mais rapidamente possível". Anteontem, elas foram interrompidas em razão do alegado ataque a um caminhão da entidade -ação também negada ontem por Dallal: "As forças israelenses não atiraram naquele caminhão. Ponto final".
Outros braços das Nações Unidas ontem abordaram a crise em Gaza. Josette Sheeran, diretora do Programa Alimentar Mundial da ONU alertou que ao menos 80% do povo de Gaza precisa urgentemente de assistência alimentar.
Já a Unicef criticou o desabastecimento e denunciou danos às crianças palestinas.

Com agências internacionais


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