São Paulo, sábado, 10 de janeiro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

EUA justificam abstenção na ONU e defendem Israel

País surpreendeu Conselho de Segurança ao não aprovar resolução que avalizou

Para árabes, posição dos EUA tirou força de texto; Hamas manda enviados discutar proposta de cessar-fogo egípcia, emperrada

DA REDAÇÃO

A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, defendeu ontem a decisão de se abster na votação do Conselho de Segurança da ONU da resolução que pediu um cessar-fogo imediato em Gaza. Ela disse estar preocupada com a situação humanitária, mas culpou o Hamas, dizendo que é difícil para Israel evitar vítimas civis. "É muito difícil nas circunstâncias de Gaza, densamente povoada. Também é uma área em que o Hamas usa escudos humanos e prédios não militares para esconder seus combatentes", disse Rice.
A decisão americana de se abster frustrou os seus interlocutores árabes na redação do texto -o qual, acreditam, ficou enfraquecido. A posição só foi definida momentos antes da votação no Conselho de Segurança (CS), segundo fontes ouvidas por agências, após contatos com o presidente dos EUA, George W. Bush, e o premiê de Israel, Ehud Olmert.
O chanceler da Autoridade Nacional Palestina, Riad Malki, disse estar desapontado: "Esperávamos que todos os países votassem a favor". Malki disse temer que a não-aprovação pelos EUA fosse vista como autorização tácita para Israel continuar a atacar Gaza. Malki acusou tanto Israel quanto o Hamas de "total desrespeito à resolução" e disse que os países árabes -que retiraram sua proposta em favor de uma resolução conjunta- "vão reagir". O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, ligou para o premiê Ehud Olmert para expressar sua "decepção".
Ainda assim, a resolução foi considerada uma vitória dos países árabes considerados "moderados" pelo Ocidente, como Arábia Saudita, Egito e Jordânia. Seus governos sofrem pressões domésticas para reagir aos ataques israelenses.
A União Europeia emitiu nota ontem exortando a um cessar-fogo, e os chanceleres de Espanha e Alemanha anunciaram giro por Israel, Egito e territórios palestinos -e Síria, no caso espanhol. A Otan anunciou visita de seu secretário-geral, Jaap de Hoop Scheffer, a Israel a partir de hoje. No front diplomático paralelo à ONU, o plano proposto por Cairo para um cessar-fogo, as negociações esbarraram em discordâncias entre Israel e o Egito sobre o monitoramento da fronteira deste com Gaza, disseram ontem diplomatas.
De acordo com eles, o Egito rejeita tropas internacionais no seu território, mas aceitaria mais recursos para localizar os túneis pelos quais o Hamas obtém suprimentos de armas. O monitoramento é a principal reivindicação feita por Israel.
Segundo o israelense "Haaretz", o que emperra também um acordo é a pressão síria, articulada com o Irã, para que o Hamas rejeite a proposta, considerada vaga por Damasco. O grupo islâmico não oficializou posição sobre o texto e anunciou ontem o envio de três emissários ao Cairo. O plano egípcio prevê uma trégua imediata nos ataques israelenses e nos disparos de foguetes para negociar um cessar-fogo permanente. Propõe ainda a repressão à entrada de armas em Gaza, o fim do bloqueio israelense e a reaproximação entre o Hamas e o rival secular Fatah.

Com agências internacionais e "Financial Times"

Leia perguntas e respostas sobre a crise em Gaza

www.folha.com.br/090092



Texto Anterior: Artigo: Pecados originais da guerra e uma saída
Próximo Texto: Artigo: Conflito é um beco com saída para a paz
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.