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ARTIGO
Conflito é um beco com saída para a paz
MOISÉS RABINOVIC
ESPECIAL PARA A FOLHA
Pelas incontáveis ruas de Gaza chamadas Al Awda, O Retorno, palestinos esperam um dia
saudar o retorno de parentes,
amigos e milhares de refugiados dispersos pelo mundo. Por
elas também sonham em retornar às casas e terras onde moravam antes da criação de Israel, há 60 anos.
Mão única para um beco político até agora sem saída, estão
congestionadas por miragens
entre dunas de areia e lixo à
beira do Mediterrâneo. Pois pelas ruas Al Awda, que dão num
bloco de ruas Palestina, no favelão de Jabaliya, os únicos
"alaedum", os retornados, são
os soldados israelenses, mais
uma vez, desde o sábado.
Gaza, Tesouro em árabe, é
Aza, Forte em hebraico. Aqui
morreu Sansão, ao derrubar as
colunas do templo sobre cinco
governadores e cerca de 3.000
filisteus que se divertiam ao vê-lo cego, traído por Dalila. E aqui
teria nascido Iasser Arafat, que
dizia ser de Jerusalém, para a
qual reivindicava O Retorno,
um atalho Al Awda, via negociações de paz.
Desde os tempos bíblicos, Israel sempre soube entrar em
Gaza, embora perdendo-se
muito na hora de sair. O retorno de agora está sendo anunciado como o mais breve possível, uma devastadora visita
inesperada para liquidar o Hamas, sigla do Movimento de
Resistência Islâmica que significa Fervor, em árabe, e acabar
com os mísseis disparados contra as cidades israelenses do deserto do Negev, mas que já flertam com Tel Aviv.
Foi Israel quem cultivou o
fervor do Hamas. Queria abrir
um caminho alternativo à OLP,
então contrária a qualquer iniciativa de paz. O Hamas não
perdeu a chance: famoso por
incorruptível, algo inédito nas
hostes de Arafat, e dedicado a
obras sociais, com líderes religiosos xiitas ligados ao Irã e ao
Hizbollah libanês, conquistou
o 1,5 milhão de palestinos em
Gaza, o voto que o conduziu ao
poder, democraticamente, e
então expulsou o Fatah para a
Cisjordânia.
Treinou e armou um exército, contrabandeou mísseis cavando túneis na fronteira com
o Egito, e começou a atirá-los a
conta-gotas e sem mira contra
civis israelenses. E à provocação, ainda acrescentou um desafio: não quis renovar a trégua
de seis meses esgotada em novembro, acusando Israel de
violá-la antes com um bloqueio
e isolamento.
Talvez o Hamas tenha julgado Israel impotente para reagir
aos mísseis, à véspera de eleições gerais, em fevereiro, o primeiro-ministro caindo por corrupção, e enquanto o presidente eleito Obama não assume a
Casa Branca. E contava que os
israelenses ainda estivessem
traumatizados pela última
guerra no Líbano, em 2006.
Dissuasão
Cálculos errados, se assim
realmente foram feitos. Para
restaurar seu poder de dissuasão contestado, Israel não poupou bombas. Foi a Gaza como
aos países árabes vizinhos na
Guerra dos Seis Dias, em 1967.
Ataques aéreos arrasadores.
Depois mandou seus tanques e
a infantaria.
O momento eleitoral israelense foi esvaziado porque, em
guerra, os eleitores são soldados, e os políticos, unidos pela
sobrevivência nacional. O que
não quer dizer que o ministro
da Defesa, Ehud Barak, se vitorioso, não ganhe algumas cadeiras a mais no Parlamento.
Para a nova Casa Branca, será
um teste capaz de antecipar a
nova estratégia americana para
o Oriente Médio.
A rua árabe não confraterniza com o Hamas. Os países moderados sunitas bloquearam os
apelos de convocação da Liga
Árabe. Ruas de Europa e Ásia
foram tomadas por protestos
contra a violência da reação israelense, considerada desproporcional -dois olhos por um
olho. Israel pode estar perdendo sua guerra de autodefesa na
mídia, mas, se sair rápido e vitorioso de Gaza, terá afastado o
maior obstáculo atual para um
acordo de paz com os palestinos, sob a liderança do Fatah. E
os moradores das ruas Al Awda
e Palestina ganharão uma saída
para um novo país.
MOISÉS RABINOVICI foi correspondente em Israel por oito anos
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