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Obama promete abolir tortura em interrogatórios
Decisão rompe com política adotada sob guerra ao terrorismo capitaneada por Bush
Eleito, que anunciou escolha de Leon Panetta à frente da CIA e de Dennis Blair para a Inteligência Nacional, fala em dialogar com Teerã
ANDREA MURTA
DE NOVA YORK
Em meio a um claro processo
de afastamento das práticas encampadas pelo governo George
W. Bush, o presidente eleito
dos EUA, Barack Obama, afirmou ontem que não permitirá a
tortura de prisioneiros em sua
gestão e que a decisão não compromete os ideais de luta contra o terrorismo no mundo.
O democrata expressou seu
compromisso com a Convenção de Genebra sobre prisioneiros de guerra durante uma
entrevista coletiva em que confirmou seu escolhido para diretor da CIA, Leon Panetta, e de
Inteligência Nacional, Dennis
Blair. Ambos foram selecionados, entre outros motivos, por
sua distância dos quadros
atuais de inteligência dos EUA,
que admitiram práticas que
muitos classificam como tortura durante interrogatórios.
"Deixei claro durante a campanha e durante esta transição
que, sob meu governo, os EUA
não vão torturar", afirmou
Obama. "Vamos manter nossos
mais altos ideais."
A fala do presidente eleito foi
também uma resposta às recentes críticas à escolha dos
dois homens. No caso de Panetta, ex-chefe-de-gabinete de Bill
Clinton (1993-2001) e especialista em Orçamento, o problema é a falta de experiência em
temas de inteligência e defesa.
Já Blair desagradou por ter passado boa parte da carreira na
chefia do Comando do Pacífico,
longe do centro de discussões
de inteligência nacional. Além
disso, a atuação de Blair levanta
questões sobre a posição dos
EUA há dez anos, quando a Indonésia empreendeu violenta
repressão no Timor Leste.
A seu favor, porém, o almirante despertou admiração pela atuação contra o terrorismo
no Sudeste Asiático após os ataques de 11 de setembro de 2001.
O cargo de diretor de inteligência nacional, criado na esteira
dos ataques, implica na coordenação de 16 agências de inteligência, dentre as quais a CIA é
uma das mais diretamente encarregadas de buscar suspeitos
de terrorismo pelo mundo.
Inicialmente cético, o Congresso parece estar mais disposto a aprovar os dois nomes
rapidamente. Uma vez aprovados, contudo, Blair e Panetta
enfrentarão dificuldades para
agir sob as regras de Obama.
Para Panetta, à frente de um
órgão que costuma desconfiar
de "pessoas vindas de fora", o
desafio é maior. Ele terá de
conquistar a lealdade da agência enquanto responde à intensa pressão de membros do Congresso e de ONGs para levar à
Justiça agentes que praticaram
ou apoiaram a tortura.
Assessores de Obama afirmam que o presidente eleito
não visa a expulsão dos agentes.
Em vez disso, o novo governo
deverá se concentrar em reverter as regras que autorizaram
as chamadas "técnicas duras"
nos interrogatórios da CIA.
Irã
O presidente eleito falou ainda sobre o Irã, afirmando que
ele vê o país como "ameaça genuína" à segurança nacional
dos EUA. Mas, completou, ainda assim é a favor de iniciar um
diálogo com Teerã, como afirmara durante a campanha.
"Já disse que devemos estar
dispostos a iniciar [contatos]
diplomáticos como um meio de
alcançarmos nossos objetivos
de segurança nacional, e minha
equipe, creio, reflete essa abordagem pragmática", declarou.
Washington rompeu com o
Irã após a invasão da Embaixada dos EUA em Teerã por estudantes radicais, em 1980, que
durou 444 dias.
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