São Paulo, domingo, 10 de janeiro de 2010

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Crise entra a Casa Rosada e o Banco Central favorece oposição

THIAGO GUIMARÃES
DA REPORTAGEM LOCAL

O conflito institucional desencadeado pelo governo da Argentina ao demitir o presidente do Banco Central por decreto prejudica a imagem do país no exterior e fortalece a oposição, afirmam analistas consultados pela Folha.
O episódio abre novas frentes de confronto para o casal presidencial Cristina e Néstor Kirchner e evidencia o traço distintivo da gestão: redobrar a aposta diante de adversidades.
Após perder as eleições legislativas de junho de 2009, mesmo adiantando o pleito em quatro meses e escalando força total à disputa, o governo reconstruiu poder. Antes da posse, em dezembro, do Congresso de maioria opositora, comprou briga com meios de comunicação com uma nova lei de mídia e piorou a relação com a oposição mudando regras eleitorais.
"É um estilo típico de Cristina e de Néstor, seu companheiro de gestão: diante de fracassos não recuam, mas avançam redobrando a aposta", diz a analista Graciela Romer.
Mas ao tentar demitir o presidente do Banco Central, Martín Redrado, o governo, diz Romer, perde terreno na busca por voltar ao mercado global de crédito, do qual se afastou desde o calote de 2001: "Tenta mostrar que honra compromissos ao buscar fundos do BC para pagar a dívida, mas com um desrespeito institucional".
Romer vê ainda tentativa dos Kirchner, ao criar um fundo com reservas do BC para quitar dívidas, de manter a política de gastos públicos elevados que sustentou os anos de crescimento econômico e nutre fidelidades políticas.
O episódio sugere ainda como poderá ser a relação dos Kirchner com um Congresso opositor: eludir o Legislativo com decretos. "A decisão [demissão de Redrado] é um claro desafio ao Congresso, a quem deveria ter sido enviado o pedido de remoção", afirma à Folha o analista Rosendo Fraga.
Para Romer, a medida do governo beneficia a oposição, que sempre criticou o estilo confrontador e a suposta falta de "modos institucionais" dos Kirchner. Embora grave, a crise no BC, diz Romer, não será um divisor de águas político no país. "As pessoas veem o episódio como uma gota a mais em um clima já muito tenso."


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