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Crise entra a Casa Rosada e o Banco Central favorece oposição
THIAGO GUIMARÃES
DA REPORTAGEM LOCAL
O conflito institucional desencadeado pelo governo da
Argentina ao demitir o presidente do Banco Central por decreto prejudica a imagem do
país no exterior e fortalece a
oposição, afirmam analistas
consultados pela Folha.
O episódio abre novas frentes de confronto para o casal
presidencial Cristina e Néstor
Kirchner e evidencia o traço
distintivo da gestão: redobrar a
aposta diante de adversidades.
Após perder as eleições legislativas de junho de 2009, mesmo adiantando o pleito em
quatro meses e escalando força
total à disputa, o governo reconstruiu poder. Antes da posse, em dezembro, do Congresso
de maioria opositora, comprou
briga com meios de comunicação com uma nova lei de mídia
e piorou a relação com a oposição mudando regras eleitorais.
"É um estilo típico de Cristina e de Néstor, seu companheiro de gestão: diante de fracassos não recuam, mas avançam
redobrando a aposta", diz a
analista Graciela Romer.
Mas ao tentar demitir o presidente do Banco Central, Martín Redrado, o governo, diz Romer, perde terreno na busca
por voltar ao mercado global de
crédito, do qual se afastou desde o calote de 2001: "Tenta
mostrar que honra compromissos ao buscar fundos do BC
para pagar a dívida, mas com
um desrespeito institucional".
Romer vê ainda tentativa dos
Kirchner, ao criar um fundo
com reservas do BC para quitar
dívidas, de manter a política de
gastos públicos elevados que
sustentou os anos de crescimento econômico e nutre fidelidades políticas.
O episódio sugere ainda como poderá ser a relação dos
Kirchner com um Congresso
opositor: eludir o Legislativo
com decretos. "A decisão [demissão de Redrado] é um claro
desafio ao Congresso, a quem
deveria ter sido enviado o pedido de remoção", afirma à Folha o analista Rosendo Fraga.
Para Romer, a medida do governo beneficia a oposição, que
sempre criticou o estilo confrontador e a suposta falta de
"modos institucionais" dos
Kirchner. Embora grave, a crise
no BC, diz Romer, não será um
divisor de águas político no
país. "As pessoas veem o episódio como uma gota a mais em
um clima já muito tenso."
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