São Paulo, segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

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ANÁLISE

Caso levará a uma virada no discurso, mas em que direção?

MATT BAI
DO "NEW YORK TIMES"

Minutos depois dos primeiros relatos serem divulgados sobre o incidente em Tucson, páginas começaram a sumir da internet. Uma delas foi o infame mapa de "mira telescópica" de Sarah Palin, que mostrava distritos contestados, incluindo o de Gifford, como alvos de tiros.
Outra foi uma página do blog liberal Daily Kos, onde um dos eleitores da deputada a declarou "morta para mim" depois de Giffords ter votado contra Nancy Pelosi como líder da Câmara dos Deputados, na semana passada.
São grandes as chances de que nenhuma dessas páginas, nem outras isoladas, tenham tido muita relação com o incidente em Tucson. Mas apagá-las da internet não conseguiu deletar todas as evidências da insensatez retórica que permeia nosso momento político.
A pergunta é se os disparos do sábado assinalam o fim lógico desse momento ou, ao contrário, um momento novo e assustador.
A América moderna já passou por momentos semelhantes no passado. Os intensos embates ideológicos dos anos 1960, girando em torno do comunismo, dos direitos civis e do Vietnã, foram marcados por uma série de assassinatos políticos que mudaram o rumo da história americana.
Nas guerras culturais dos anos 1990, travadas em torno de temas como o direito ao porte de armas e ao aborto, extremistas de direita mataram 168 pessoas em Oklahoma City e aterrorizaram centenas de outras no Centennial Park (Atlanta) e em clínicas de aborto no sul do país.
O que é diferente no atual momento é o surgimento de uma cultura política em blogs, no Twitter e na TV a cabo que, em voz alta e sem hesitar, reforça visões sombrias de extremistas.
Não ficou claro se o suposto atirador em Tucson foi motivado por alguma filosofia política real ou por vozes em sua cabeça, ou ainda, quem sabe, pelas duas coisas.
Mas é difícil não pensar que ele deve ter sido influenciado por um debate que frequentemente parece fundir discordâncias filosóficas com algum tipo de Armageddon político.
A questão mais premente é onde tudo isso vai acabar -se vamos começar a reavaliar o tom exacerbado de nosso debate político ou se estamos mergulhando em alta velocidade em um período assustador, mais semelhante ao final dos anos 1960.
Tucson ou será a tragédia que nos trará de volta da beira do abismo, ou será a primeira de uma série de recordações sinistras que ainda estão por vir.

Tradução de CLARA ALLAIN


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