São Paulo, sábado, 10 de fevereiro de 2007

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Bolívia nacionaliza mineradora suíça

Morales usou as Forças Armadas para assumir a empresa e descartou indenização; decreto supremo tem efeito imediato

Presidente argumenta que a venda da empresa foi ilegal e trouxe prejuízos ao Estado; ele promete mais nacionalizações no setor

DA REDAÇÃO

Sem prever nenhum tipo de indenização, o presidente boliviano, Evo Morales, decretou ontem a nacionalização da mineradora Vinto, de capital suíço, e anunciou que todas as minas que pertencem ao ex-presidente Gonzalo Sánchez de Lozada terão o mesmo destino.
Acompanhado pelo Exército, que ocupou a empresa, e por uma multidão de simpatizantes, Morales disse que "chegou a hora de industrializar todos os nossos recursos naturais, renováveis, não-renováveis, metálicos, não-metálicos".
A estatização do complexo metalúrgico Vinto, em Oruro (380 km ao sul de La Paz), gerou dúvidas entre os cerca de 450 trabalhadores do local, que inicialmente tentaram impedir o acesso dos militares à unidade. Morales assegurou que não serão despedidos e pediu que não agissem como "testas-de-ferro" de seus antigos empregadores.
A empresa mineira Sinchi Wayra, filial boliviana da suíça Glencore, não comentou a decisão do governo boliviano. A empresa suíça possui outras cinco minas na região de Potosí e Oruro e tem 3.200 empregados na Bolívia.
O governo usou irregularidades na aquisição da Vinto para justificar a nacionalização. A planta, avaliada em US$ 90 milhões, foi vendida em 1997 pelo Estado à empresa britânica. Em 2000, a empresa foi revendida ao ex-presidente Sánchez de Lozada -segundo o governo, por US$ 14,7 milhões, quando valia dez vezes mais.
Após ser obrigado a renunciar por uma insurreição popular, em outubro de 2003, Sánchez de Lozada se exilou nos EUA e, paralelamente, transferiu 61% das ações da fábrica à empresa Sinchi Wayra. O preço não foi divulgado, mas, segundo a imprensa suíça, a Glencore pagou US$ 90 milhões ao ex-presidente.
O decreto de nacionalização, que prevê a posse imediata da empresa, argumenta que a transferência da Vinto por US$ 14,7 milhões foi ilegal e trouxe prejuízo ao Estado.
Em alusão à transação, Morales disse: "Não vamos perdoar multinacionais que operam de maneira oculta, porque temos de nos fazer respeitar".
"Começamos a mudar a Bolívia", afirmou Morales, ao expressar o desejo de que o país "cresça como Cuba".
"Cuba é o campeão de crescimento econômico, como dizia [o presidente venezuelano, Hugo] Chávez, com 11,5% de crescimento econômico [em 2006], seguida pela Argentina e pela Venezuela", afirmou.
Em 1º de maio do ano passado, Morales emitiu o decreto de nacionalização dos hidrocarbonetos. Até agora, no entanto, o governo apenas conseguiu revisar os contratos com as empresas petrolíferas, aumentando os royalties e impostos devidos ao Estado. Outras medidas, como a nacionalização de cinco empresas (entre as quais duas refinarias da Petrobras), e a reestruturação da estatal YPFB ainda não saíram do papel.

Sánchez de Lozada
Morales disse que as empresas de Sánchez de Lozada, que hoje vive nos EUA, "têm de voltar às mãos do Estado" e disse que não teme contestações fora do país. "Se querem abrir processos em nível internacional, estamos dispostos a enfrentá-los", afirmou.
"Ele implementa más políticas econômicas, leiloa os recursos naturais, privatiza as empresas do Estado e, feliz, escapa para os Estados Unidos", disse Morales sobre o ex-presidente, contra quem há uma ordem de captura emitida pela Corte Suprema de Justiça. Presidente duas vezes (1993-1997 e 2002-2003), Sánchez de Lozada deixou o país com dois de seus ex-ministros, após uma onda de protestos cuja repressão levou à morte de 63 manifestantes.


Com agências internacionais


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