|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Cinema egípcio desafia limites do regime
Depois de "Edifício Yacoubian", que bateu recordes de bilheteria, "Caos" mostra a brutalidade policial
DO ENVIADO AO CAIRO
Corrupção, tortura, homossexualismo, extremismo islâmico, desigualdade social.
Apesar de incluir todos esses
ingredientes explosivos, que
retratam alguns dos temas
mais polêmicos do Egito, ou
exatamente por isso, "Edifício
Yacoubian" bateu recordes de
bilheteria, se tornando um dos
filmes de maior sucesso na história do país.
O filme, baseado no livro homônimo, um dos maiores bestsellers recentes da literatura
árabe, conta o cotidiano de um
edifício decadente no centro do
Cairo, que viveu dias de luxo e
glamour e passa a conviver com
os dilemas de uma sociedade
marcada pela hipocrisia.
Em entrevista à Folha, Marwan Hamed, 31, diretor e roteirista do filme, lembrou a controvérsia provocada quando o
filme foi lançado, em 2006, sob
a ameaça de censura de deputados conservadores.
Democracia
"Acho que a maior contribuição do filme foi tornar mais
amplas as fronteiras da liberdade de expressão no Egito", diz
Hamed. "Depois do Yacoubian
foram feitos vários filmes que
discutem a realidade do Egito."
O escândalo do momento é
"Caos", filme que mostra de
forma crua a brutalidade policial no Egito e critica frontalmente a ditadura de Hosni Mubarak.
Para Marwan Hamed, embora as liberdades tenham sido
ampliadas nos últimos anos,
não só nas telas do cinema, mas
também nas páginas dos jornais, a democracia continua
sendo um sonho distante no
Egito. O cineasta acha que o
Ocidente insiste em manter
uma visão simplista do país.
"O problema no Egito não é
só a luta por mais liberdade e
mais democracia. Há outra luta, que é entre os liberais e a Irmandade Muçulmana", diz.
"Acaba virando uma espécie
de círculo que não tem fim. Às
vezes ser liberal significa ser
aliado do governo, quando a
meta é conter o avanço islâmico. Outras vezes significa ser
seu inimigo, quando o regime
reprime as liberdades."
A transformação da sociedade egípcia e sua guinada para a
religião, reconhece Hamed, é
algo difícil de ser ignorado.
"Muitas pessoas se tornaram
mais conservadoras, é só andar
pelas ruas para ver uma estranha mudança: são poucas as
mulheres sem véu. Parece o Irã.
A situação hoje no Egito é obscura e é difícil dizer para onde
irá o país."
(MARCELO NINIO)
Texto Anterior: Pobreza no Egito alimenta oposição fundamentalista Próximo Texto: Contra miséria, governo estuda Bolsa Família Índice
|