São Paulo, domingo, 10 de fevereiro de 2008

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Cinema egípcio desafia limites do regime

Depois de "Edifício Yacoubian", que bateu recordes de bilheteria, "Caos" mostra a brutalidade policial

DO ENVIADO AO CAIRO

Corrupção, tortura, homossexualismo, extremismo islâmico, desigualdade social.
Apesar de incluir todos esses ingredientes explosivos, que retratam alguns dos temas mais polêmicos do Egito, ou exatamente por isso, "Edifício Yacoubian" bateu recordes de bilheteria, se tornando um dos filmes de maior sucesso na história do país.
O filme, baseado no livro homônimo, um dos maiores bestsellers recentes da literatura árabe, conta o cotidiano de um edifício decadente no centro do Cairo, que viveu dias de luxo e glamour e passa a conviver com os dilemas de uma sociedade marcada pela hipocrisia.
Em entrevista à Folha, Marwan Hamed, 31, diretor e roteirista do filme, lembrou a controvérsia provocada quando o filme foi lançado, em 2006, sob a ameaça de censura de deputados conservadores.

Democracia
"Acho que a maior contribuição do filme foi tornar mais amplas as fronteiras da liberdade de expressão no Egito", diz Hamed. "Depois do Yacoubian foram feitos vários filmes que discutem a realidade do Egito."
O escândalo do momento é "Caos", filme que mostra de forma crua a brutalidade policial no Egito e critica frontalmente a ditadura de Hosni Mubarak.
Para Marwan Hamed, embora as liberdades tenham sido ampliadas nos últimos anos, não só nas telas do cinema, mas também nas páginas dos jornais, a democracia continua sendo um sonho distante no Egito. O cineasta acha que o Ocidente insiste em manter uma visão simplista do país.
"O problema no Egito não é só a luta por mais liberdade e mais democracia. Há outra luta, que é entre os liberais e a Irmandade Muçulmana", diz.
"Acaba virando uma espécie de círculo que não tem fim. Às vezes ser liberal significa ser aliado do governo, quando a meta é conter o avanço islâmico. Outras vezes significa ser seu inimigo, quando o regime reprime as liberdades."
A transformação da sociedade egípcia e sua guinada para a religião, reconhece Hamed, é algo difícil de ser ignorado.
"Muitas pessoas se tornaram mais conservadoras, é só andar pelas ruas para ver uma estranha mudança: são poucas as mulheres sem véu. Parece o Irã. A situação hoje no Egito é obscura e é difícil dizer para onde irá o país." (MARCELO NINIO)


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