São Paulo, terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

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Obama lança megaofensiva salva-pacote

Com primeira entrevista coletiva e mobilização popular, presidente pressiona Congresso a aprovar plano de estímulo econômico

Para desemperrar proposta no Legislativo, democrata defende gastos e diz que só o governo tem os recursos para ressuscitar economia


Jim Watson/France Presse
Obama cumprimenta a plateia em Elkhart, Indiana, onde desemprego triplicou em um ano; presidente quer maior pressão das ruas

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Com sua primeira entrevista coletiva no cargo e um tour destinado a mobilizar a base popular que o elegeu, o presidente Barack Obama lançou ontem uma megaofensiva para pressionar o Congresso dos EUA a aprovar seu pacote de estímulo à combalida economia do país.
Após semanas de discussão do plano que injetará na economia pouco mais de US$ 800 bilhões -e ante acusações dos republicanos de que parte do dinheiro será desperdiçada-, Obama usou a maior parte do encontro de uma hora com a imprensa ontem para enfatizar a necessidade de o governo fazer grandes gastos e investimentos para criar quatro milhões de empregos.
"Minha medida inicial de sucesso [do pacote] será criar quatro milhões de empregos", disse ele, listando as quatro aferições de se se governo deu certo. "O resumo é: me apresentem uma lei que crie ou mantenha quatro milhões de empregos, e eu a assinarei."
Os outros três, segundo o democrata, são mercados de crédito operando efetivamente, mercado imobiliário regularizado e o fim das demissões e a volta do crescimento da economia. "Essa será, para mim, a maior medida de sucesso."
Obama criticaria duramente os opositores do plano, dando a entender que se referia principalmente a seu ex-rival na corrida presidencial, John McCain, que lidera a oposição ao pacote no Senado. Repetiria também uma frase usada por seu antecessor, George W. Bush, quando do estouro da crise -"a festa acabou".
"Se tudo o que fazemos é gastar e não criar coisas, então com o tempo os países vão se cansar de nos emprestar dinheiro e no final a festa vai acabar", disse Obama, para emendar: "Bem, na verdade, a festa já acabou."
Mais adiante, usaria uma frase atribuída ao economista liberal Milton Friedman -"não existe almoço grátis"- ao falar da necessidade de maior regulação do setor financeiro: "Uma vez que a economia se estabilizar e as pessoas perderem o medo, então vamos ter de começar a pensar em como operar mais prudentemente, porque não existe almoço grátis".
Dizendo diversas vezes que seu governo havia herdado o atual déficit de US$ 1 trilhão e acusando os bancos de serem culpados pela crise ao terem assumido "riscos exorbitantemente selvagens", ele exortou o Congresso a agir rápido e superar diferenças partidárias.
A Câmara já passou uma versão do pacote de US$ 819 bilhões, e o Senado deve votar hoje sua própria versão, de US$ 838 bilhões -ambas menores do que a proposta inicial do governo, acima de US$ 900 bilhões. Se aprovadas, as duas terão de ser conciliadas posteriormente.

Tour
Mais cedo, no melhor estilo populista adotado na corrida à Casa Branca, Obama saíra às ruas para reativar a pressão de seu eleitorado pela aprovação do pacote. Fez isso recorrendo à retórica de candidato e depois de seu partido ter sugerido que correligionários realizassem eventos para "discutir o plano".
Em Elkhart, cidade de Indiana que viu o índice de desemprego saltar de 4,7% em dezembro de 2007 para 15,3% em dezembro último, o maior do país, o presidente previu novo "desastre" caso o plano não passe.
Ele ainda escorraçou "os que têm cinco casa"" -provável alusão a McCain-, ouviu coros de "Yes We Can" (sim, nós podemos, seu lema de campanha) e até prometeu beber cerveja com um comentarista conservador que o critica.
No meio de tudo, passou a mensagem: "Vocês não nos mandaram a Washington porque esperavam mais do mesmo. Vocês nos mandaram com um mandato por mudança e a expectativa de que nós agiríamos rápida e corajosamente".
Hoje, Obama segue a escalada de pressão política em evento similar em Fort Myers, na Flórida -e onde será apresentado pelo governador republicano Charlie Crist, o que serve à retórica bipartidária que a Casa Branca tenta emprestar a um plano que passou na Câmara dos Representantes (deputados) sem um voto da oposição.
A presença do governador na verdade representa pouco em termos de bipartidarismo, mas serve para aumentar a torcida de braço no Congresso. É do interesse dos governadores de ambos os partidos majoritários que o pacote seja aprovado, pois todos penam para fechar suas contas públicas e veem a parte de ajuda aos Estados diminuir a cada nova negociação.
Na quinta-feira, Obama vai a Springfield e Peoria, ambas no Estado que é seu berço político, Illinois. O democrata espera receber uma versão conciliada do plano de ambas as Casas do Congresso para assinar nesta sexta-feira, antes do fim de semana prolongado pelo feriado do Dia do Presidente.
A semana populista tem escoro no desemprego recorde, que bate em 7,8%, e no índice de popularidade do presidente.
Em pesquisa feita nos dias 6 e 7 e divulgada ontem pelo Gallup, 76% dos ouvidos aprovam o presidente. O resultado chega na terceira semana de mandato e mesmo depois de problemas com imposto de renda atingirem três indicados a seu ministério, levando dois a desistirem.


NA INTERNET - Leia a íntegra da entrevista (em inglês) em

www.whitehouse.gov/briefing_room/



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