São Paulo, terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

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entrevista

Analista prevê instabilidade sem aliança

DO ENVIADO A JERUSALÉM

Um governo estável só emergirá das eleições de hoje em Israel caso haja uma coalizão entre os partidos que lideram a disputa, diz em entrevista à Folha o cientista político Avraham Diskin, da Universidade de Jerusalém.
Para ele, a união entre o conservador Likud, do ex-premiê Binyamin Netanyahu, e o centrista Kadima, da chanceler Tzipi Livni, faz sentido politicamente, já que ambos têm programas semelhantes.
Mas não deverá ocorrer por problemas pessoais entre seus líderes.
"O Likud tem dado sinais de que não convidará o Kadima, e isso será um grande erro estratégico."

 

FOLHA - Israel se encaminha para eleger mais um governo instável?
AVRAHAM DISKIN
- O sistema político em Israel sempre funcionou com base no pluripartidarismo. No atual Parlamento há 12 partidos, o mesmo número do que havia no primeiro, em 1949. É verdade que até 1977 o controle estava nas mão dos trabalhistas, e isso tornava o governo mais estável. Mas o que me preocupa é o tipo de coalizão que será formada. Se Netanyahu vencer, como indicam as pesquisas, ele deve preferir o Partido Trabalhista, o que considero um grande erro.

FOLHA - Por quê?
DISKIN
- O Kadima é bem mais próximo ideologicamente, muitos de seus membros foram do Likud. Um governo com partidos com posições distantes pode levar à paralisia e ao colapso. O mais estável seria um governo com Likud, Kadima e o maior partido religioso, Shas, que garantiria estabilidade. Mas Netanyahu aparentemente quer se vingar do Kadima pela deserção dos antigos membros do Likud, como Tzipi Livni.

FOLHA - Uma coalizão frágil pode cair se houver avanços no processo de paz?
DISKIN
- Não necessariamente. A diferença entre os principais partidos sobre esse assunto hoje é menor do que jamais foi. No passado recente, havia uma divisão entre os que achavam que a paz estava próxima e que bastava pagar o preço por ela e os que rejeitavam qualquer concessão territorial. Hoje, os primeiros se tornaram descrentes, enquanto os demais se tornaram menos extremistas. Isso aproximou as posições, e todos se moveram mais para o centro.

FOLHA - A julgar pelas pesquisas, a sociedade se moveu para a direita, não?
DISKIN
- Quando digo que se moveu para o centro é porque a esquerda hoje tem dúvidas quanto à possibilidade de haver paz. Mas a direita também se tornou menos intransigente do que antes. O problema é que há uma percepção de que os problemas se tornaram mais urgentes, com o Irã querendo ter armas atômicas enquanto defende a destruição de Israel e o Hamas e o Hizbollah, no Líbano, pregando o mesmo.

FOLHA - Isso explica a ascensão do ultranacionalista Avigdor Liberman?
DISKIN
- Ela é fruto desse desespero em relação ao processo de paz e resposta à animosidade dos árabes a Israel. Além disso, o partido de Liberman se tornou o único partido de direita totalmente laico, um espaço que o Likud perdeu por sua proximidade com os partidos religiosos. (MN)


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