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entrevista
Analista prevê instabilidade sem aliança
DO ENVIADO A JERUSALÉM
Um governo estável só
emergirá das eleições de
hoje em Israel caso haja
uma coalizão entre os partidos que lideram a disputa, diz em entrevista à Folha o cientista político
Avraham Diskin, da Universidade de Jerusalém.
Para ele, a união entre o
conservador Likud, do ex-premiê Binyamin Netanyahu, e o centrista Kadima, da chanceler Tzipi
Livni, faz sentido politicamente, já que ambos têm
programas semelhantes.
Mas não deverá ocorrer
por problemas pessoais
entre seus líderes.
"O Likud tem dado sinais de que não convidará
o Kadima, e isso será um
grande erro estratégico."
FOLHA - Israel se encaminha
para eleger mais um governo
instável?
AVRAHAM DISKIN - O sistema político em Israel sempre funcionou com base
no pluripartidarismo. No
atual Parlamento há 12
partidos, o mesmo número do que havia no primeiro, em 1949. É verdade que
até 1977 o controle estava
nas mão dos trabalhistas, e
isso tornava o governo
mais estável. Mas o que me
preocupa é o tipo de coalizão que será formada. Se
Netanyahu vencer, como
indicam as pesquisas, ele
deve preferir o Partido
Trabalhista, o que considero um grande erro.
FOLHA - Por quê?
DISKIN - O Kadima é bem
mais próximo ideologicamente, muitos de seus
membros foram do Likud.
Um governo com partidos
com posições distantes
pode levar à paralisia e ao
colapso. O mais estável seria um governo com Likud, Kadima e o maior
partido religioso, Shas,
que garantiria estabilidade. Mas Netanyahu aparentemente quer se vingar
do Kadima pela deserção
dos antigos membros do
Likud, como Tzipi Livni.
FOLHA - Uma coalizão frágil
pode cair se houver avanços
no processo de paz?
DISKIN - Não necessariamente. A diferença entre
os principais partidos sobre esse assunto hoje é
menor do que jamais foi.
No passado recente, havia
uma divisão entre os que
achavam que a paz estava
próxima e que bastava pagar o preço por ela e os que
rejeitavam qualquer concessão territorial. Hoje, os
primeiros se tornaram
descrentes, enquanto os
demais se tornaram menos extremistas. Isso
aproximou as posições, e
todos se moveram mais
para o centro.
FOLHA - A julgar pelas pesquisas, a sociedade se moveu
para a direita, não?
DISKIN - Quando digo que
se moveu para o centro é
porque a esquerda hoje
tem dúvidas quanto à possibilidade de haver paz.
Mas a direita também se
tornou menos intransigente do que antes. O problema é que há uma percepção de que os problemas se tornaram mais urgentes, com o Irã querendo ter armas atômicas enquanto defende a destruição de Israel e o Hamas e o
Hizbollah, no Líbano, pregando o mesmo.
FOLHA - Isso explica a ascensão do ultranacionalista Avigdor Liberman?
DISKIN - Ela é fruto desse
desespero em relação ao
processo de paz e resposta
à animosidade dos árabes
a Israel. Além disso, o partido de Liberman se tornou o único partido de direita totalmente laico, um
espaço que o Likud perdeu
por sua proximidade com
os partidos religiosos.
(MN)
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