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Brasil avalia novas sanções como algo improvável e ineficaz
Amorim defende prosseguimento do diálogo; caso tema vá realmente à votação, tendência é de que o Brasil se abstenha
Governo brasileiro diz ainda não ter sido consultado por EUA e França, que elevaram pressão por novas medidas punitivas contra Teerã
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
O governo brasileiro diz que
não foi consultado pelos EUA e
pela França sobre a nova rodada de sanções contra o Irã e
unificou o discurso contrário à
medida, sob o argumento de
que ela "é improvável e seria
ineficaz", como ouviu a Folha
ontem. A posição brasileira segue sendo pró-negociação.
Estabelecer novas sanções é
"improvável" porque isso depende de uma decisão unânime dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (EUA, Reino
Unido, França, Rússia e China), mas a China, maior parceira comercial do Irã, resiste à
ideia. Ou seja: antes de pressionarem o Brasil, que atualmente
ocupa um dos assentos provisórios no organismo, os adeptos das sanções precisam convencer os chineses.
Mesmo se convencerem e as
sanções forem adotadas, a previsão é de que seriam "ineficazes", porque já há um cerco ao
país, e o regime do presidente
Mahmoud Ahmadinejad tem
reagido olimpicamente a ele.
O
Brasil, segundo a Folha apurou, deve se abster em uma
possível votação no Conselho
de Segurança. A decisão final,
no entanto, só será tomada
uma vez que o país tenha conhecimento do teor da proposta de resolução. E até agora, nenhum texto circula entre os
membros do organismo.
Em conversa com jornalistas
ontem, o chanceler Celso Amorim enfatizou a necessidade de
prosseguir as negociações para
um acordo para o enriquecimento de urânio no exterior
patrocinado pela AIEA (agência atômica da ONU).
"Não cremos que as sanções
possam dar resultado. Sinceramente, ainda que as sanções
causassem alguns problemas, o
Irã é um país grande e que tem
uma diversidade econômica
importante. É preciso que haja
uma iniciativa, talvez com participação do diretor-geral da
AIEA [para que haja um acordo]", disse ele, que criticou a intransigência das partes na negociação. "Não adianta de nada
fazer uma proposta e ficar parado esperando que o outro lado faça exatamente aquilo que
foi proposto."
O ministro Nelson Jobim
(Defesa) também defendeu a
manutenção do diálogo. "Eu
não sei se [a posição brasileira]
seria a favor do Irã ou a favor de
nós. O Brasil não é contra ninguém. A teoria nossa é sentar à
mesa e conversar. Nós no Brasil temos a tradição de resolver
as coisas no diálogo", disse.
Direitos humanos
Os EUA têm tentado ligar,
nos últimos dias, eventuais
ações no âmbito do Conselho
de Direitos Humanos da ONU a
uma ação no Conselho de Segurança. Segundo fontes diplomáticas ouvidas pela Folha, os
americanos buscam fortalecer
a linha de argumentação contra Teerã e ganhar um apoio
mais amplo.
A movimentação já começou
em Genebra, onde diplomatas
americanos têm procurado outros países, inclusive o Brasil.
Na próxima segunda-feira, o
Irã será alvo de revisão periódica universal no Conselho de
Direitos Humanos da ONU.
Nesse caso, o Brasil, que se
diz atento e preocupado com a
situação humanitária no Irã,
mas defende o diálogo em vez
da condenação, pode reconsiderar sua posição.
Em dezembro, o país se absteve de votar na Assembleia
Geral texto que "expressava
preocupação" com violações de
direitos humanos no Irã. A justificativa foi que o fórum adequado seria o Conselho de Direitos Humanos.
Colaborou FELIPE SELIGMAN , da Sucursal de Brasília
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