São Paulo, quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

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Brasil avalia novas sanções como algo improvável e ineficaz

Amorim defende prosseguimento do diálogo; caso tema vá realmente à votação, tendência é de que o Brasil se abstenha

Governo brasileiro diz ainda não ter sido consultado por EUA e França, que elevaram pressão por novas medidas punitivas contra Teerã

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA

O governo brasileiro diz que não foi consultado pelos EUA e pela França sobre a nova rodada de sanções contra o Irã e unificou o discurso contrário à medida, sob o argumento de que ela "é improvável e seria ineficaz", como ouviu a Folha ontem. A posição brasileira segue sendo pró-negociação.
Estabelecer novas sanções é "improvável" porque isso depende de uma decisão unânime dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (EUA, Reino Unido, França, Rússia e China), mas a China, maior parceira comercial do Irã, resiste à ideia. Ou seja: antes de pressionarem o Brasil, que atualmente ocupa um dos assentos provisórios no organismo, os adeptos das sanções precisam convencer os chineses.
Mesmo se convencerem e as sanções forem adotadas, a previsão é de que seriam "ineficazes", porque já há um cerco ao país, e o regime do presidente Mahmoud Ahmadinejad tem reagido olimpicamente a ele.
O Brasil, segundo a Folha apurou, deve se abster em uma possível votação no Conselho de Segurança. A decisão final, no entanto, só será tomada uma vez que o país tenha conhecimento do teor da proposta de resolução. E até agora, nenhum texto circula entre os membros do organismo.
Em conversa com jornalistas ontem, o chanceler Celso Amorim enfatizou a necessidade de prosseguir as negociações para um acordo para o enriquecimento de urânio no exterior patrocinado pela AIEA (agência atômica da ONU).
"Não cremos que as sanções possam dar resultado. Sinceramente, ainda que as sanções causassem alguns problemas, o Irã é um país grande e que tem uma diversidade econômica importante. É preciso que haja uma iniciativa, talvez com participação do diretor-geral da AIEA [para que haja um acordo]", disse ele, que criticou a intransigência das partes na negociação. "Não adianta de nada fazer uma proposta e ficar parado esperando que o outro lado faça exatamente aquilo que foi proposto."
O ministro Nelson Jobim (Defesa) também defendeu a manutenção do diálogo. "Eu não sei se [a posição brasileira] seria a favor do Irã ou a favor de nós. O Brasil não é contra ninguém. A teoria nossa é sentar à mesa e conversar. Nós no Brasil temos a tradição de resolver as coisas no diálogo", disse.

Direitos humanos
Os EUA têm tentado ligar, nos últimos dias, eventuais ações no âmbito do Conselho de Direitos Humanos da ONU a uma ação no Conselho de Segurança. Segundo fontes diplomáticas ouvidas pela Folha, os americanos buscam fortalecer a linha de argumentação contra Teerã e ganhar um apoio mais amplo.
A movimentação já começou em Genebra, onde diplomatas americanos têm procurado outros países, inclusive o Brasil. Na próxima segunda-feira, o Irã será alvo de revisão periódica universal no Conselho de Direitos Humanos da ONU.
Nesse caso, o Brasil, que se diz atento e preocupado com a situação humanitária no Irã, mas defende o diálogo em vez da condenação, pode reconsiderar sua posição. Em dezembro, o país se absteve de votar na Assembleia Geral texto que "expressava preocupação" com violações de direitos humanos no Irã. A justificativa foi que o fórum adequado seria o Conselho de Direitos Humanos.

Colaborou FELIPE SELIGMAN , da Sucursal de Brasília



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