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ANÁLISE
Teor da resolução definirá dilema do Brasil
CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO
O debate sobre uma quarta
rodada de sanções ao Irã tem o
potencial de rachar o Conselho
de Segurança, e o Brasil estará
no centro desse embate, em sua
décima participação desde
1945 como membro não permanente do órgão da ONU formalmente responsável pela
manutenção da paz e da segurança internacionais.
Mas o grau de importância
do voto a ser proferido pela delegação brasileira dependerá
em grande parte do teor mais
forte ou mais brando da resolução proposta -que deve demorar para chegar à mesa, apesar
da retórica acelerada dos últimos dias.
As quatro resoluções sobre o
programa nuclear iraniano votadas desde 2006, três delas
com punições, ficaram aquém
da pretensão inicial dos EUA. A
última, de 2008, foi aguada por
insistência da Rússia, na época
em confronto com a Casa Branca de George W. Bush.
Com exceção da primeira, na
qual o Qatar se absteve, todas
tiveram apoio dos 15 membros
do CS. A unanimidade revela a
certeza de que o efeito das sanções não levaria à falência do
Irã, por sua vez ligada à fraqueza relativa do caso contra o projeto nuclear iraniano.
Desde 2003, quando o país
foi acusado por agências de informação ocidentais de ter um
programa militar secreto, nem
os acusadores nem a AIEA conseguiram apresentar provas cabais dessa violação do Tratado
de Não Proliferação Nuclear.
As resoluções do CS, que vêm
exigindo sem sucesso que Teerã suspenda o enriquecimento
de urânio, baseiam-se na colaboração insatisfatória com inspetores da agência, que se declara incapaz de "dar garantias
críveis de que não há material e
atividades nucleares não declaradas" no Irã.
A lógica sugere que o regime
iraniano, há 31 anos enfrentando os EUA e aliados no Oriente
Médio, está de fato empenhado
em alcançar ao menos o limiar
da bomba, isto é, a capacidade
de fabricá-la em pouco tempo.
Mas esse raciocínio não constitui, por si, argumento sólido no
âmbito da ONU.
A nova resolução dependerá
outra vez de conveniências políticas, e agora é a China, com
fricções recentes com os americanos, quem mais resiste às
sanções duras pretendidas por
EUA e França -e reclamadas
pelos israelenses, que, há tempos, acenam com ataque autônomo aos reatores iranianos,
em pressão dupla sobre Washington e Teerã.
A China não tem tradição de
vetar resoluções e em geral opta pela abstenção para mostrar
desagrado. No debate sobre o
Irã, tem insistido, como Brasil e
Turquia, na continuidade do
diálogo. Resta ver se persistirá
nessa linha até obter uma resolução mais fraca.
Mesmo, no entanto, que um
texto forte não seja vetado por
Pequim, a possibilidade de que
membros não permanentes como o Brasil decidam acompanhar os chineses numa eventual abstenção já reduziria a
força política da decisão -embora sem alterar seu caráter
obrigatório.
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