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TV CBS mostra imagens inéditas do drama no WTC
CARYN JAMES
DO "THE NEW YORK TIMES"
A sensação é a de estar sendo
enterrado vivo. Você está no
chão, cinzas caem sobre sua cabeça como se estivessem sendo jogadas com uma pá e ouvem-se
destroços caindo sobre carros como se fossem granizo.
Sob a perspectiva da câmera de
Jules Naudet, você correu à rua
após fugir do hall da primeira torre do World Trade Center a desabar, seis minutos antes da queda.
Quando ela desaba, você é jogado
no chão. Tudo fica escuro. Alguém grita: "Vamos, antes que o
carro exploda".
Apesar de apenas seis meses terem se passado desde que o WTC
foi atacado, parece que não conseguimos mais ficar chocados com
os acontecimentos daquele dia.
Mas esse trecho, que deve passar hoje nos EUA em um programa de duas horas chamado "9/11"
no canal de TV CBS, tem um caráter de urgência tão forte que nos
lembra do quão inimagináveis
aqueles eventos costumavam ser.
O programa é uma edição de
180 horas de filmagem realizada
pelos irmãos Jules e Gedeon Naudet, que, desde junho de 2001, estavam fazendo um documentário
sobre um bombeiro que trabalhava perto do World Trade Center.
Gedeon, 31, era o cineasta mais
experiente. Jules, 28, estava
aprendendo a filmar e, em 11 de
setembro, havia seguido o chefe
do batalhão para praticar. Mesmo
antes de entrar na primeira torre,
ele demonstrou ter um notável
instinto de documentarista. Ouvindo um barulho, ele apontou a
câmera para cima e filmou o primeiro avião batendo na torre.
A CBS fez um bom trabalho de
edição. Robert de Niro aparece
como apresentador, advertindo
que o linguajar dos bombeiros é
pesado. O programa é narrado
por James Hanlon, um bombeiro
que trabalhara com os Naudets
em seu documentário, e pelos
dois irmãos, que descrevem o que
filmaram e porquê. Mas a maioria
das imagens e sons fala por si.
Apesar de o copião do filme dos
irmãos Naudet ter sido tomado
emprestado pelo FBI (polícia federal dos EUA) e exibido em estações de bombeiros, mostrá-lo na
TV é um passo diferente.
Se há um vídeo da execução de
Daniel Pearl, é razoável temer que
uma cópia acabe na internet. Mas
nada em "9/11" chega perto desse
tipo de exploração mórbida. Não
há nada no programa que não deva ser mostrado e a maior parte
do que é exibido é comovente.
A polêmica em torno do filme é
que é chocante. Na semana passada, o âncora de um programa do
canal Fox entrevistou o senador
Jon Corzine, de Nova Jersey, que
disse que famílias de vítimas estavam preocupadas com a "exibição gráfica" de mortes.
Bem, não há tais exibições. O
âncora perguntou se a CBS era
"irresponsável" por exibir o programa, mas não se Corzine havia
visto o filme. E, quando o âncora
disse que o programa havia sido
feito por "cineastas franceses",
conseguiu fazer com que "franceses" soasse como "membros da Al
Qaeda". (Os irmãos Naudet nasceram na França e moram em
Nova York desde 1989. Jules é cidadão americano e Gedeon deve
obter sua cidadania em breve).
O filme é atual porque revela o
quão rapidamente até mesmo as
imagens mais horripilantes de 11
de setembro foram absorvidas,
transformadas em algo comum:
uma forma necessária de entender uma realidade terrível, mas algo que torna aqueles eventos perigosamente fáceis de esquecer.
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