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Recorde de vetos na ONU é de URSS e EUA
RAMÓN LOBO
DO ""EL PAÍS", EM MADRI
Em 57 anos, os cinco membros
permanentes do Conselho de Segurança (CS) da ONU usaram seu
direito de veto em 252 ocasiões;
em outras 43, a simples ameaça de
que um deles pudesse fazê-lo provocou a retirada da pauta de textos propostos, sem que fossem
submetidos a nenhuma votação.
Existem dois períodos muito diferenciados na história do veto, privilégio que as potências fundadoras da ONU e vencedoras da Segunda Guerra Mundial se autoconcederam.
Entre 1946 e 1965, em plena
Guerra Fria, a URSS foi o país que
mais vetou (106 vezes). Seu representante na ONU, Vyacheslav Mikhailovich Molotov, chegou a ser
apelidado de ""Senhor Veto". Nesse período, os Estados Unidos
nunca usaram seu poder de veto.
Entre 1966 e 2003, entretanto,
foram os EUA que se tornaram o
""Senhor Não": os americanos
exerceram o poder de veto em 76
ocasiões, a maioria das quais em
textos relacionados a Israel e ao
Oriente Médio. O restante dos vetos se dividem entre Reino Unido
(29), URSS e Rússia (15), França
(14) e China (quatro).
Para a adoção de uma resolução, são necessários nove votos
favoráveis no CS e é preciso que
nenhum dos cinco membros permanentes exerça seu poder de veto. Os outros dez países do conselho, que mudam a cada dois anos,
são eleitos pela Assembléia Geral
da ONU.
Os EUA exerceram o veto sozinhos em 53 ocasiões, desde 1963.
A última delas aconteceu em 20
de dezembro de 2002. Nesse texto,
era condenada a morte (a tiros
disparados por soldados israelenses) de um funcionário do Programa Mundial de Alimentação,
organização dependente da ONU.
Em dez ocasiões, os EUA vetaram juntamente com o Reino
Unido e, em 13, em conjunto com
os britânicos e também com os
franceses, na maioria dessas em
questões ligadas à África do Sul e à
descolonização da Namíbia.
O período em que mais se vetou
na história das Nações Unidas
aconteceu entre 1946 e 1955, com
83 vetos. Desses, 80 foram exercidos pela URSS, que bloqueou sistematicamente a entrada de novos países na organização para
protestar contra a não-admissão
dos países do leste europeu que se
encontravam sob a órbita militar
e política soviética.
Entre 1976 e 1985, o veto foi dado em 60 ocasiões; 34 delas partiram dos EUA e tiveram ligação
com o Oriente Médio. Em 1996,
1998 e 2000, não houve vetos no
CS da ONU.
Busca do consenso
Após a queda do Muro de Berlim, em 1989, há uma tendência
ao consenso: os ""cinco grandes"
negociam entre eles o texto de cada resolução antes de submetê-lo
à consideração dos dez membros
não-permanentes.
Entre 1996 e 2003, foram dados
oito vetos; seis deles partiram dos
EUA e dois da China -um contra
o envio de observadores à Guatemala e um relativo à Macedônia.
A última vez em que a França
exerceu seu direito a veto sozinha
foi em 6 de fevereiro de 1976, numa questão relacionada às Ilhas
Comores.
A França nunca usou seu poder
de veto junto com a URSS ou com
a Rússia. Outros vetos franceses
foram referentes à Indochina
(Laos, Camboja e Vietnã) e à
guerra de Suez. Os vetos chineses
disseram respeito a Taiwan, país
que substituiu na ONU em 1972.
Há exemplos de resoluções adotadas pelo CS cujo não-cumprimento não levou a nenhuma espécie de ação de represália. Dois
casos significativos foram as invasões do Líbano por Israel em 1982
e a invasão turca do norte de Chipre. A guerra de Kosovo foi travada com o apoio de um grande
consenso ocidental, mas sem nenhuma resolução da ONU, devido ao temor de que pudesse sofrer
um veto russo. Agora, no caso do
Iraque, não existe nem mesmo esse consenso.
Tradução de Clara Allain
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