São Paulo, sábado, 10 de março de 2007

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General iraniano deserta para o Ocidente

Há dúvidas sobre paradeiro de Ali Reza Asghari, bem informado sobre o Hizbollah, Iraque e programa nuclear do país

Militar desapareceu em 7 de fevereiro em Istambul, para onde teria levado a família; Teerã crê em "seqüestro", o que é negado por indícios

DA REDAÇÃO

É bastante provável que um general iraniano com informações sobre o programa nuclear de seu país tenha desertado para o Ocidente.
Ali Reza Asghari, 63, desapareceu misteriosamente em Istambul, na Turquia, em 7 de fevereiro. Um jornal árabe editado em Londres, o "Asharq Al-Awsat", afirma que ele está prestando depoimentos num país da Europa do Norte antes de ser autorizado a se instalar nos Estados Unidos.
O caso é relatado em suas edições de hoje pelo "Independent", jornal londrino, e pelo "Le Monde", de Paris. As dúvidas sobre a possível deserção de Asghari também foram assunto desta semana na revista britânica "The Economist".
O currículo do militar já faria dele o maior presente recebido pelo Ocidente desde a Revolução Islâmica de 1979.
Ele foi vice-ministro da Defesa até 2005 e era considerado bastante próximo do ex-presidente Mohammad Khatami. Foi afastado do cargo e passou para a reserva com a eleição de Mahmoud Ahmadinejad.

Hizbollah, bomba e Iraque
Nos anos 80, Asghari foi o representante no Líbano dos Guardas Revolucionários do Irã, corpo de elite do establishment islâmico, responsável, em território libanês, pela criação e treinamento do Hizbollah.
Em Teerã, onde Asghari assumiu nos anos seguintes o comando da unidade, seus subordinados cuidavam da segurança das instalações nucleares e da vigilância dos cientistas que nelas trabalhavam. Asghari também teria trabalhado no desenvolvimento do míssil balístico Shaab-3.
Por fim, como os Guardas Revolucionários são responsáveis pela ajuda material e pelo treinamento de grupos estrangeiros próximos do regime xiita, Asghari teria informações detalhadas sobre a ingerência iraniana no Iraque, sobretudo no Exército Mahdi, milícia ligada ao clérigo Moktada Al Sadr.
Dani Yatom, ex-dirigente do Mossad, serviço de inteligência de Israel, o qualifica como "personagem de grosso calibre".
Caso a defecção se confirme, ela terá sido a primeira no escalão superior do Irã e, diz o "Le Monde", "um indício de fissura do aparelho militar".

Reserva em hotel
O que se sabe de concreto é que dois homens reservaram por três dias, em nome de Asghari, um apartamento no Ceylan International Hotel, em Istambul. Eles pagaram antecipadamente, em dinheiro.
O "Independent" diz que Asghari, que desembarcou na Turquia vindo de Damasco, não chegou a se registrar como hóspede e que seus familiares já estavam esperando por ele.
O "Washington Post", que também acompanha o caso, recebeu dos serviços de inteligência americanos a indicação de que a defecção ou seqüestro do militar é assunto planejado por Israel.
Mas os israelenses, por meio de informantes anônimos, negam estar envolvidos.
De qualquer modo, a inteligência americana soube que o Irã enviou uma equipe à Turquia a fim de descobrir o paradeiro do general. Informantes iranianos disseram que, depois de desembarcar em Istambul, ele foi "seqüestrado" e usou três vezes seu celular, duas em ligações domésticas e uma terceira em interurbano internacional para o Egito.
Os iranianos também disseram não proceder a informação de que familiares de Asghari o precederam no exterior. Segundo eles, a mulher do militar por duas vezes contatou autoridades em Teerã para se informar sobre o marido.
É provável que essa versão dos fatos não passe de pura invenção iraniana para não passar recibo da perda sofrida. A Turquia, diz a revista "The Economist", por meio do ministro das Relações Exteriores, Abdullah Gul, disse que sua polícia está trabalhando em conjunto com os iranianos para localizar o general e deu a entender que ele não havia deixado o país.
Mas a revista britânica ressalva que essa versão talvez não passe de gesto oficial de cortesia, para não deixar os iranianos em posição desonrosa.
Em Londres, o "Asharq Al Awsat" recebeu de israelenses a informação de que o militar se encontrava "amargurado" por ter sido destituído do posto de vice-ministro da Defesa.


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