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General iraniano deserta para o Ocidente
Há dúvidas sobre paradeiro de Ali Reza Asghari, bem informado sobre o Hizbollah, Iraque e programa nuclear do país
Militar desapareceu em 7 de
fevereiro em Istambul, para
onde teria levado a família;
Teerã crê em "seqüestro",
o que é negado por indícios
DA REDAÇÃO
É bastante provável que um
general iraniano com informações sobre o programa nuclear
de seu país tenha desertado para o Ocidente.
Ali Reza Asghari, 63, desapareceu misteriosamente em Istambul, na Turquia, em 7 de fevereiro. Um jornal árabe editado em Londres, o "Asharq Al-Awsat", afirma que ele está
prestando depoimentos num
país da Europa do Norte antes
de ser autorizado a se instalar
nos Estados Unidos.
O caso é relatado em suas
edições de hoje pelo "Independent", jornal londrino, e pelo
"Le Monde", de Paris. As dúvidas sobre a possível deserção
de Asghari também foram assunto desta semana na revista
britânica "The Economist".
O currículo do militar já faria
dele o maior presente recebido
pelo Ocidente desde a Revolução Islâmica de 1979.
Ele foi vice-ministro da Defesa até 2005 e era considerado
bastante próximo do ex-presidente Mohammad Khatami.
Foi afastado do cargo e passou
para a reserva com a eleição de
Mahmoud Ahmadinejad.
Hizbollah, bomba e Iraque
Nos anos 80, Asghari foi o representante no Líbano dos
Guardas Revolucionários do
Irã, corpo de elite do establishment islâmico, responsável, em
território libanês, pela criação e
treinamento do Hizbollah.
Em Teerã, onde Asghari assumiu nos anos seguintes o comando da unidade, seus subordinados cuidavam da segurança das instalações nucleares e
da vigilância dos cientistas que
nelas trabalhavam. Asghari
também teria trabalhado no
desenvolvimento do míssil balístico Shaab-3.
Por fim, como os Guardas
Revolucionários são responsáveis pela ajuda material e pelo
treinamento de grupos estrangeiros próximos do regime xiita, Asghari teria informações
detalhadas sobre a ingerência
iraniana no Iraque, sobretudo
no Exército Mahdi, milícia ligada ao clérigo Moktada Al Sadr.
Dani Yatom, ex-dirigente do
Mossad, serviço de inteligência
de Israel, o qualifica como "personagem de grosso calibre".
Caso a defecção se confirme,
ela terá sido a primeira no escalão superior do Irã e, diz o "Le
Monde", "um indício de fissura
do aparelho militar".
Reserva em hotel
O que se sabe de concreto é
que dois homens reservaram
por três dias, em nome de Asghari, um apartamento no Ceylan International Hotel, em Istambul. Eles pagaram antecipadamente, em dinheiro.
O "Independent" diz que Asghari, que desembarcou na
Turquia vindo de Damasco,
não chegou a se registrar como
hóspede e que seus familiares
já estavam esperando por ele.
O "Washington Post", que
também acompanha o caso, recebeu dos serviços de inteligência americanos a indicação de
que a defecção ou seqüestro do
militar é assunto planejado por
Israel.
Mas os israelenses, por meio
de informantes anônimos, negam estar envolvidos.
De qualquer modo, a inteligência americana soube que o
Irã enviou uma equipe à Turquia a fim de descobrir o paradeiro do general. Informantes
iranianos disseram que, depois
de desembarcar em Istambul,
ele foi "seqüestrado" e usou
três vezes seu celular, duas em
ligações domésticas e uma terceira em interurbano internacional para o Egito.
Os iranianos também disseram não proceder a informação
de que familiares de Asghari o
precederam no exterior. Segundo eles, a mulher do militar
por duas vezes contatou autoridades em Teerã para se informar sobre o marido.
É provável que essa versão
dos fatos não passe de pura invenção iraniana para não passar recibo da perda sofrida. A
Turquia, diz a revista "The Economist", por meio do ministro
das Relações Exteriores, Abdullah Gul, disse que sua polícia
está trabalhando em conjunto
com os iranianos para localizar
o general e deu a entender que
ele não havia deixado o país.
Mas a revista britânica ressalva que essa versão talvez não
passe de gesto oficial de cortesia, para não deixar os iranianos em posição desonrosa.
Em Londres, o "Asharq Al
Awsat" recebeu de israelenses
a informação de que o militar se
encontrava "amargurado" por
ter sido destituído do posto de
vice-ministro da Defesa.
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