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Direita do Chile não tem discurso anticrise, diz Frei
Ex-presidente disputará a sucessão de Bachelet
FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Concertação, a coalizão de
centro-esquerda que governa o
Chile há 18 anos, está desgastada, mas a direita não tem um
bom discurso para vender ao
eleitorado, num momento de
crise e de maior intervenção do
Estado na economia.
É essa visão que anima o ex-presidente chileno Eduardo
Frei, do Partido Democrata
Cristão, pré-candidato à sucessão de Michelle Bachelet, do
Partido Socialista.
As eleições serão em 11 de dezembro e, até lá, ele, que é senador, espera reverter a vantagem
do empresário Sebastián Piñera, apoiado pelos partidos de
direita na polarizada política do
país. Há pesquisas que dão
dianteira de até oito pontos ao
direitista no segundo turno.
Frei passou em São Paulo a
caminho de Brasília, onde terá
encontro amanhã com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
além de ministros. Segundo o
pré-candidato, o objetivo da
viagem -também uma jogada
de olho no público interno, numa demonstração do apoio que
tem no maior país da região - é
trocar opiniões sobre as medidas anticrise e fazer coro com
Brasília no protesto contra medidas protecionistas dos países
desenvolvidos. "O presidente
Lula deve ser a voz da América
Latina na reunião do G20", diz.
FOLHA - A Concertação chega desgastada à disputa presidencial depois de 18 anos no poder e de perder
em número de prefeitos nas eleições municipais. Por que o Chile deve escolher de novo a coalizão?
FREI - É evidente que na América Latina poucas vezes uma
coalizão elegeu quatro governos seguidos. Há um desgaste.
Seria absurdo não reconhecer.
É por isso que a direita faz discurso de mudança. Mas mudança para que? O que oferecem? Menos Estado, menos sociedade diversa, menos participação. É isso que os chilenos
têm de resolver na eleição.
Pensamos que os níveis de
hoje, com o Estado chileno representando 25% da economia,
são adequados para o desenvolvimento da sociedade chilena.
Precisamos desse Estado
neste ano complexo de crise e
precisamos dele no futuro, para
nos fazermos responsáveis pelos que ficam fora, os menos favorecidos, o Estado de proteção
social de que fala a presidente.
Ela está falando de 3.000 creches, da reforma da Previdência que deu pensão a quem não
tinha. Durante três anos a direita acreditava que ia ganhar
as eleições, mas isso mudou
porque nos pusemos de pé novamente, porque a presidente
está enfrentando bem a crise,
aumentou a popularidade.
FOLHA - O sr. propõe uma nova
Constituição para o Chile. Por que?
FREI - Creio que a Constituição
feita no tempo da ditadura não
resiste mais, foi feita numa
época de temor, de perseguição. Hoje o Chile é outro país,
temos gargalos em matéria regional, em matéria eleitoral.
Mas defendo que ela seja feita
no Congresso. A experiência de
Constituintes tem sido negativa para a América Latina.
FOLHA - Bachelet enfrentou protestos dos estudantes secundaristas
que não estão satisfeitos com a reforma educacional do governo. O
que dizer a eles?
FREI - Cito um número: sete de
cada dez jovens que estão na
educação superior universitária, pós-secundária, são da primeira geração [de suas famílias
a fazê-lo]. Por isso digo que os
jovens devem seguir nos
apoiando. A reforma da educação foi aprovada na Câmara,
agora vai para o Senado, já temos os votos. A nova legislação
inclui orçamento reforçado para a escola pública, maior fiscalização das escolas subsidiadas.
FOLHA - Bachelet tentou, mas não
conseguiu, acabar com reserva de
10% da renda da Codelco, a estatal
do cobre, para as Forças Armadas. O
sr. vai seguir com a bandeira?
FREI - Defendemos claramente
[essa proposta]. As compras
das Forças Armadas têm de ser
aprovadas pelo Parlamento.
Creio que é bom que esse tema
se debata na campanha para
que a direita se posicione. Eles
nunca aceitaram a mudança.
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