São Paulo, terça-feira, 10 de março de 2009

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Direita do Chile não tem discurso anticrise, diz Frei

Ex-presidente disputará a sucessão de Bachelet

FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Concertação, a coalizão de centro-esquerda que governa o Chile há 18 anos, está desgastada, mas a direita não tem um bom discurso para vender ao eleitorado, num momento de crise e de maior intervenção do Estado na economia. É essa visão que anima o ex-presidente chileno Eduardo Frei, do Partido Democrata Cristão, pré-candidato à sucessão de Michelle Bachelet, do Partido Socialista.
As eleições serão em 11 de dezembro e, até lá, ele, que é senador, espera reverter a vantagem do empresário Sebastián Piñera, apoiado pelos partidos de direita na polarizada política do país. Há pesquisas que dão dianteira de até oito pontos ao direitista no segundo turno.
Frei passou em São Paulo a caminho de Brasília, onde terá encontro amanhã com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, além de ministros. Segundo o pré-candidato, o objetivo da viagem -também uma jogada de olho no público interno, numa demonstração do apoio que tem no maior país da região - é trocar opiniões sobre as medidas anticrise e fazer coro com Brasília no protesto contra medidas protecionistas dos países desenvolvidos. "O presidente Lula deve ser a voz da América Latina na reunião do G20", diz.

FOLHA - A Concertação chega desgastada à disputa presidencial depois de 18 anos no poder e de perder em número de prefeitos nas eleições municipais. Por que o Chile deve escolher de novo a coalizão?
FREI
- É evidente que na América Latina poucas vezes uma coalizão elegeu quatro governos seguidos. Há um desgaste. Seria absurdo não reconhecer. É por isso que a direita faz discurso de mudança. Mas mudança para que? O que oferecem? Menos Estado, menos sociedade diversa, menos participação. É isso que os chilenos têm de resolver na eleição. Pensamos que os níveis de hoje, com o Estado chileno representando 25% da economia, são adequados para o desenvolvimento da sociedade chilena. Precisamos desse Estado neste ano complexo de crise e precisamos dele no futuro, para nos fazermos responsáveis pelos que ficam fora, os menos favorecidos, o Estado de proteção social de que fala a presidente. Ela está falando de 3.000 creches, da reforma da Previdência que deu pensão a quem não tinha. Durante três anos a direita acreditava que ia ganhar as eleições, mas isso mudou porque nos pusemos de pé novamente, porque a presidente está enfrentando bem a crise, aumentou a popularidade.

FOLHA - O sr. propõe uma nova Constituição para o Chile. Por que?
FREI
- Creio que a Constituição feita no tempo da ditadura não resiste mais, foi feita numa época de temor, de perseguição. Hoje o Chile é outro país, temos gargalos em matéria regional, em matéria eleitoral. Mas defendo que ela seja feita no Congresso. A experiência de Constituintes tem sido negativa para a América Latina.

FOLHA - Bachelet enfrentou protestos dos estudantes secundaristas que não estão satisfeitos com a reforma educacional do governo. O que dizer a eles?
FREI
- Cito um número: sete de cada dez jovens que estão na educação superior universitária, pós-secundária, são da primeira geração [de suas famílias a fazê-lo]. Por isso digo que os jovens devem seguir nos apoiando. A reforma da educação foi aprovada na Câmara, agora vai para o Senado, já temos os votos. A nova legislação inclui orçamento reforçado para a escola pública, maior fiscalização das escolas subsidiadas.

FOLHA - Bachelet tentou, mas não conseguiu, acabar com reserva de 10% da renda da Codelco, a estatal do cobre, para as Forças Armadas. O sr. vai seguir com a bandeira?
FREI
- Defendemos claramente [essa proposta]. As compras das Forças Armadas têm de ser aprovadas pelo Parlamento. Creio que é bom que esse tema se debata na campanha para que a direita se posicione. Eles nunca aceitaram a mudança.


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